Em Harvard para a Brazil Conference, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou no sábado (06) que o aborto é um direito fundamental da mulher e que uma política de drogas no país deve impedir hiper encarceramento de jovens pobres. O ministro foi um dos convidados do painel Tolerância: Relações entre Estado e Religião no Brasil.
Barroso destacou que o aborto é um direito da mulher à liberdade sexual e reprodutiva, à autonomia e também à igualdade. Se só a mulher engravida, para ela ser verdadeiramente igual ao homem ela tem que ter o direito de querer ou não querer engravidar, disse.
O ministro fez ainda uma comparação: Se os homens engravidassem esse problema já estaria resolvido há muito tempo.
Durante a fala, o magistrado destacou que a criminalização impacta de maneira grave e desproporcional as mulheres pobres que não tem acesso ao sistema público de saúde. Sobretudo negras, completou o ministro após a manifestação da mediadora do debate, a jornalista Flávia Oliveira.
Barroso disse que considera o aborto algo ruim e que é papel do estado evitar que ele ocorra, por meio de educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo às mulheres que desejam ter os filhos, mas estão em condições adversas. Ele lembrou também de uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde que indica que a criminalização do aborto não impacta o número de procedimentos realizados em um país.
A finalidade de uma política pública sobre aborto, segundo o ministro, é tornar o procedimento raro, mais seguro. Segundo Barroso, as religiões têm direito de pregar contra não fazer, mas criminalizar o procedimento é uma forma autoritária e intolerante de lidar com o problema.
O magistrado afirmou que nenhum país desenvolvido do mundo criminaliza o aborto porque trata-se de uma má política. Para ser contrário ao aborto não é preciso defender a sua criminalização, afirmou.
DROGAS
Segundo Barroso, a guerra às drogas fracassou. O Estado tem o papel de desincentivar o consumo de drogas, evitar o tráfico e tratar dos dependentes, indica o ministro. A criminalização assegura o monopólio do traficante, afirmou o magistrado, citando Milton Friedman.
Na avaliação do ministro o maior problema em relação às drogas no Brasil é o poder que o tráfico exerce sobre as comunidades carentes, onde se coloca como poder político e econômico.
Uma política de drogas no brasil deve libertar essas comunidades e impedir o hiper encarceramento de jovens pobres e primários que são presos com pequenas quantidades de droga, afirmou o ministro. Segundo ele, esses jovens já respondem por quase 30% dos internos do sistema penitenciário.
Para Barroso, a atual política de drogas destrói vidas, custa dinheiro, produz resultados piores para a sociedade e não produz nenhum impacto sobre o tráfico.
O ministro afirmou ainda que a legalização das drogas é uma experiência que merece ser testada, com planejamento. Ele faz a ressalva que não se trata do único caminho. Não importa o que cada um ache sobre drogas. Essa é uma discussão que precisa ser feita, disse o ministro.
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