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Empresários do RJ vinham ao ES todo mês para pagar propina em Kennedy

Empresários do RJ vinham ao ES todo mês para pagar propina em Kennedy

Esquema de corrupção começou em 2014. Amanda Quinta, prefeita de Presidente Kennedy foi presa na Operação Rubi

Publicado em 9 de maio de 2019 às 15:17

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Amanda Quinta foi presa nesta quarta-feira . (Reprodução/TV Gazeta)

Dois empresários do Rio de Janeiro, proprietários de uma empresa de limpeza urbana, presos em flagrante nesta quarta-feira (08), durante a Operação Rubi, vinham ao Espírito Santo mensalmente para pagar propina. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (09), durante coletiva de imprensa na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Vila Velha. A operação, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MPES) com apoio da Polícia Militar, também prendeu a prefeita de Presidente Kennedy, Amanda Quinta (PSDB).

De acordo com as investigações, Marcelo Marcondes e José Carlos Marcondes tinham contrato com as prefeituras de Presidente Kennedy e Marataízes. Os empresários pagavam propina para ter o contrato de licitação com os municípios e para tal vinham ao Espírito Santo uma vez por mês. Em uma dessas vindas ao Estado, nesta quarta (08), eles foram presos em flagrante durante reunião na casa da prefeita Amanda Quinta.

Também participava da reunião o companheiro da prefeita, José Augusto Rodrigues de Paiva. Também foram presos o contador da empresa, Isaías Pacheco, e o motorista e laranja da empresa, Cristiano Graça Souto. Todos foram presos em flagrante. 

Agente do Gaeco deixa casa da prefeita de Presidente Kennedy com material apreendido na Operação Rubi. (Geizy Gomes)

As investigações começaram no final de 2017 e apontaram que o esquema de corrupção funcionava desde 2014. Ainda não há uma estimativa do tamanho do prejuízo causado aos cofres públicos.

A audiência de custodia da prefeita Amanda Quinta está marcada para esta sexta-feira (10), às 10 horas, no Tribunal de Justiça, em Vitória.

Procurada, a assessoria de comunicação da prefeitura de Presidente Kennedy informou que acompanhava a operação e iria se manifestar posteriormente. A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Amanda Quinta.

Com informações de Eduardo Dias

CONTRATOS

A Operação Rubi vai muito além de Presidente Kennedy. De acordo com MPES, o objetivo é desarticular e colher provas relativas à atuação de uma organização criminosa constituída para lesar os cofres públicos também nos municípios de Marataízes, Jaguaré e Piúma por possível direcionamento licitatório em favor de pessoas jurídicas contratadas, pagamento de vantagem indevida a agentes públicos e superfaturamento de contratos administrativos de prestação de serviço público.

Foram expedidos cinco mandados de prisão temporária, cinco mandados de afastamento funcional de agentes públicos e 11 mandados de proibição de acesso às dependências de órgãos públicos. O objetivo também era cumprir 25 mandados de busca e apreensão pelos agentes do Gaeco, sendo nove em Presidente Kennedy, cinco em Marataízes, dois em Jaguaré, um em Piúma, um em Cachoeiro de Itapemirim, um em Linhares, um em Jerônimo Monteiro, dois na Grande Vitória e dois no Rio de Janeiro, emitidos pelo juízo da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo.

Amanda Quinta foi presa nesta quarta-feira. ( Carlos Alberto Silva - GZ)

Residência de investigados, dependências de órgãos públicos e de empresas suspeitas de integrar o esquema foram alvos das ações.

As investigações, que duraram aproximadamente um ano, colheram fortes indícios do envolvimento de agentes políticos e servidores municipais no recebimento de propina de empresários dos ramos de limpeza pública e transporte coletivo como contraprestação a benefícios financeiros em licitações e contratos e possível enriquecimento indevido dos envolvidos.

Os crimes investigados são: organização criminosa; fraude em licitações; lavagem de dinheiro; corrupção ativa e passiva; e falsidade documental.

O OUTRO LADO

A Prefeitura de Piúma informou que reúne documentos referentes à empresa que presta serviço de limpeza. “Aguardamos o desenrolar da investigação para maiores informações”, diz a nota. A Prefeitura de Jaguaré afirma ter recebido com surpresa a informação da operação. “Não houve nenhuma manifestação formal do MP ou cumprimento de mandado no município”. A Prefeitura de Marataízes disse “primar pela legalidade e lisura de todos os seus atos administrativos, e não medirá esforços para colaborar com as investigações”.

A Prefeitura de Jaguaré informou que a empresa investigada cujo nome é ‘Limpeza Urbana’ participou de uma licitação no município, foi desclassificada por problemas na documentação, mas através de liminar judicial teve sua contratação deferida e presta serviços desde dezembro de 2018. A equipe da GAECO esteve no Setor de Licitação da Prefeitura onde foi informada que todo o processo licitatório ocorreu no SAAE, para onde se dirigiu e apreendeu documentos do processo de licitação, contrato e também dos pagamentos efetuados. A empresa é originária de Presidente Kennedy, e após a licitação, conforme exigência de contrato estabeleceu uma filial em Jaguaré. Até o momento a empresa não foi impedida de prestar os serviços.

HISTÓRICO

Entre as cidades que foram alvo da Operação Rubi está Presidente Kennedy, município conhecido não só pelo grande volume de arrecadação – fruto, principalmente, de royalties do petróleo – como também por escândalos políticos que marcaram os últimos anos, incluindo prisões por desvio de dinheiro público e conflitos familiares.

Lee Oswald

Em abril de 2012, o então prefeito de Presidente Kennedy, Reginaldo dos Santos Quinta, e outros seis secretários foram presos durante a operação da Polícia Federal batizada de "Lee Oswald”. Quinta era apontado como o líder de uma quadrilha de fraudes em licitações e suspeito desviar R$ 50 milhões do município.

Popularidade

Na época, A GAZETA mostrou como o grupo de Quinta conquistou popularidade, mesmo em meio à falta de recursos para a população: com distribuição de cestas básicas, ônibus de graça e festas e shows.

Indicação e rompimento

Impedido de disputar a reeleição, Quinta apoiou a sobrinha Amanda Quinta (PSDB), que era secretária de Cultura. Ela se elegeu, mas nas eleições de 2016 a união deu lugar à disputa familiar. Ambos candidatos à prefeitura, Reginaldo e Amanda romperam. O tio chegou a pedir desculpas por ter indicado a sobrinha. Mas ela saiu vencedora.

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(Com colaboração de Rita Benezath e Maíra Mendonça)

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