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PSB de Casagrande domina indicações para cargos comissionados no governo

PSB de Casagrande domina indicações para cargos comissionados no governo

Dos servidores em cargos de confiança, 21% são filiados a siglas

Publicado em 5 de maio de 2019 às 19:27

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Aproximadamente 21% dos servidores comissionados do governo do Estado são filiados a partidos políticos. É o que indica um levantamento realizado pelo G.Dados, grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, com base em informações públicas do Executivo e da Justiça Eleitoral.

Além de ser o partido com mais representação no primeiro escalão do governo, o PSB do governador Renato Casagrande também é a agremiação com mais comissionados.

São cinco secretários de Estado – sem considerar a chefe de gabinete e a vice-governadora, Jacqueline Moraes – e, ao todo, 151 comissionados do mesmo partido que o chefe do Executivo estadual.

Para a análise, foram consideradas as 2,8 mil pessoas ativas e com vínculo de “comissionado”, no Portal da Transparência do governo.

Desses, estima-se que 620 sejam filiados a partidos políticos.

Palácio Anchieta: comissionados filiados a partidos. (Marcelo Prest)

Os números do levantamento são apenas aproximados. É que a única informação comum nas duas fontes de dados é o nome completo das pessoas. O governo disponibiliza uma parte do CPF do servidor. A Justiça Eleitoral não. Logo, homônimos podem ter sido contabilizados e, com isso, os valores apurados podem oscilar.

A análise considerou todos os eleitores com registros de filiação regulares, inclusive os que não possuem vida partidária ativa.

NANICOS

Ainda foram identificados servidores de 32 dos 35 partidos brasileiros entre os comissionados. Entre eles, nanicos como PSTU, PHS e PSOL. Há registros de funcionários filiados ao PSL do presidente Jair Bolsonaro.

O governador Renato Casagrande conta com 151 comissionados oriundos de seu partido político, o PSB. (Hélio Filho/Secom)

Depois do PSB, o PSDB é o partido com maior estimativa de comissionados filiados. Embora rachada no apoio a Casagrande na corrida eleitoral, a agremiação tucana contém um consolidado grupo de aliados de Casagrande.

O cruzamento apontou 54 funcionários comissionados relacionados ao PSDB. Em seguida, aparecem PDT, com 52, e MDB, com 48.

Professor de Sociologia da Mackenzie, Rogério Baptistini explica que a escolha de pessoas filiadas para composição de governo segue a lógica de ter na equipe pessoas comprometidas com a execução das propostas que venceram a eleição.

O problema ocorre, contudo, quando a seleção escanteia a capacidade técnica em prol da cor partidária.

"Não é necessariamente ruim, mas o ideal é que diminuíssemos a quantidade de cargos de livre provimento, com administrações mais profissionalizadas. Claro que as administrações vencedoras precisam de cargos políticos para fazer política. Mas o Estado brasileiro precisa caminhar no sentido de profissionalização administrativa", frisou.

CARÊNCIA

Para José Simões, professor de Gestão Pública do Ibmec, o aspecto técnico, mais precisamente a carência de especificação dele, é um complicador.

"Há pessoas sem condições de currículo e de experiência. Mas, de certa forma, um percentual é normal. Eu não apontaria qual é o percentual ideal. O problema são os extrapolamentos. Percebemos, no Brasil, pessoas que se aproximam de grupos por cargos, que vão para o partido de um governador em busca dessas oportunidades", comentou.

COMISSIONADOS POR PARTIDOS

Acreditava que fossem mais", diz secretário

Para o secretário estadual de Governo, Tyago Hoffmann (PSB), os 21% de comissionados do Poder Executivo filiados a partidos políticos são absolutamente normais. "A atividade pública é atividade onde mais se concentram filiados a partidos políticos. Vejo com naturalidade. Confesso que até acreditava que fossem mais", disse.

Tyago Hoffmann (PSB), secretário de Estado de Governo. (Letícia Gonçalves)

O secretário defendeu que o nível de engajamento da sociedade a partidos políticos deveria ser semelhante e esse. "Teríamos uma sociedade mais ativa, que cobraria mais. Faria bem para a democracia", pontuou Hoffmann.

De acordo com os dados mais recentes da Justiça Eleitoral, o Espírito Santo tem 2.772.702 eleitores, dos quais 343.631 são filiados a partidos. Este número corresponde a 12,3% do total.

Hoffmann também ponderou que os filiados não foram escolhidos por questão meramente partidária, mas por aspectos técnicos e por serem de um núcleo que goza da confiança do governador. Os secretários aparecem na lista de “comissionados” no Portal da Transparência.

"Sou filiado, mas minha indicação não foi político-partidária. Foi escolha do governador", declarou.

O presidente do PSB estadual, Carlos Roberto Rafael, também encarou os números apresentados a ele pela reportagem como normais. "Aqueles que carregam o conjunto da proposta do governante, que ajudaram a construí-la, a convencer a sociedade, a chegar à vitória na eleição... é natural que participem da defesa daquilo que pregaram. Têm que estar empoderados para ajudar o governante a cumprir com o que ele prometeu", declarou.

Diretor-presidente da Ceasa, Carlos Rafael é mais um "comissionado" do PSB e, portanto, também foi contabilizado entre os 151 membros do partido entre os 620 comissionados com filiação estimados.

Segundo com mais comissionados, o PSDB informou que "não discutiu cargos com o governo e inclusive não sabia da existência deles". "O partido é muito grande e não participou dessas escolhas. O PSDB informa que todos os cargos estão à disposição do governo", disse em nota enviada no sábado (04), dia em que o deputado estadual Vandinho Leite foi eleito para presidir a Executiva estadual, com apoio do presidente anterior da legenda, César Colnago.

ANÁLISE

Rogério Baptistini Especialista da Mackenzie

"Pessoas ligadas ao projeto"

"Enquanto houver cargos de livre provimento, o Executivo vai nomear pessoas ligadas ao projeto vencedor nas eleições. Pessoas mais ligadas ao projeto vencedor do que com a competência técnica. Não necessariamente é ruim, mas o ideal é que diminuíssemos a quantidade de cargos de livre provimento, com administração mais profissionalizada. Nem sempre o militante tem conhecimento adequado para a função que exerce. Isso acaba desmotivando, prejudicando o dia a dia da gestão pública e criando problemas que refletem a vida dos cidadãos."

ENTENDA NOSSO TRABALHO

Por que fizemos esta reportagem?

Discutir contratação de comissionados serve para mostrar a quem o contribuinte paga para a prestação de serviços públicos.

Como apuramos as informações?

Usamos a base de servidores do Estado do mês de março e a lista de filiados regulares aos 35 partidos. Como o nome completo dos indivíduos é a única informação comum nas duas fontes, pode haver homônimos. Por isso, tratamos os resultados como estimativas. Ao todo, apareceram registros de partido para 667 comissionados. No entanto, nomes de alguns desses servidores repetiam-se em dois ou mais partidos. Para não contabilizá-los como do partido X e não do Y, esses foram excluídos da análise, restando 620 registros.

O que fizemos para garantir o equilíbrio?

Ignoramos registros duplicados e usamos o menor número do resultado da análise. E governo e partidos deram suas razões.

O que é o G.dados?

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G.Dados é o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, que tem como objetivo qualificar e ampliar a produção de reportagens baseadas em dados na Redação Multimídia. Jornalismo de dados é o processo de descobrimento, coleta, análise, filtragem e combinação de informações com o objetivo de construir histórias. É mais uma ferramenta para reforçar e embasar a produção de notícias.

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