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Vereadores de Guarapari querem apuração de áudio com pedido de propina

Vereadores de Guarapari querem apuração de áudio com pedido de propina

Presidente da Casa e outros parlamentares da cidade afirmam que áudios se referem a negociações de Dito Xaréu com empresários para mudar projetos e beneficiar terceiros

Publicado em 20 de maio de 2019 às 16:28

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Vereadores de Guarapari querem apuração dos áudos. (Reprodução/ Facebook)

Áudios atribuídos a um vereador de Guarapari revelam conversas em que ele afirma ter possibilidade de modificar projetos no Legislativo para atender a interesses de terceiros. Entre os principais projetos abordados nos áudios está a Lei Municipal de Eventos (Lei 008/2018).

Além de demonstrar influência na tramitação e aprovação do projeto, o vereador aparece supostamente pedindo propina e garante, inclusive, que pode atrapalhar o andamento de processos até na Prefeitura Municipal de Guarapari.

Ao tomar conhecimento dos áudios na semana passada, o presidente da Câmara, vereador Enís Soares de Carvalho (PRB), conhecido como Enís Gordin, reproduziu as gravações numa reunião com 15 vereadores. Segundo o presidente, o grupo foi unânime em atestar que o autor dos áudios é o vereador Dito Xaréu (SD). Apenas os parlamentares Dito Xaréu e Kamila Rocha (DEM) não compareceram à reunião.

De acordo com fontes ouvidas pelo Gazeta Online, os áudios foram encaminhados para donos de boates de Guarapari ou empresários ligados a casas noturnas. Ouça os trechos abaixo:

Aúdio 3

"Fala meu irmão, como é que você tá? Tudo certo? Tudo na paz? Então, brother, tem que ver o que vocês querem que muda aí nessa lei pra gente 'pode' entrar logo com esse processo, entendeu? Porque pra votar em consigo colocar em votação em dez dias, quinze dias. Entendeu? Para ver o que que muda. Vamos correr atrás disso logo aí para gente não perder tempo. Pra ver se consegue fazer isso aí no mês de setembro aí."

Fontes revelaram ao Gazeta Online que o áudio a seguir foi enviado pelo suposto vereador Dito Xaréu ao celular de um empresário.

Áudio 2

"Irmão, manda pra mim o seu e-mail que eu vou pedir a Lilian para enviar a cópia da lei de evento para você, que aí você... vou pedir pra enviar pra você, pro Pirão e pro Kaedy, que aí vocês já dão uma analisada nela, vê quando vocês vão analisar, vocês me chamam para sentar, pego o doutor Soter levo e já tudo certinho para não ter que sentar duas vezes, entendeu? Manda aí, manda aí o seu e-mail."

Os empresários citados no áudio seriam Saulo Venturini, da boate Thale, Sandro Pirão, da Pedreira, e Kaedy, do Ilha Shows.

Saulo Venturini disse que desconhece os fatos. "Não produzo eventos usando essa lei, não sei como ela era e nem quais alterações foram feitas. Essa lei burla as secretarias de Planejamento, Fiscalização, o PDM, não respeita o impacto urbano, o direito da vizinhança, dá poderes demais ao secretário de Turismo e suga um efetivo enorme dos Bombeiros, da Polícia Militar, do Trânsito, Pronto Atendimentos de Saúde e não gera emprego formal. Ela já era assim e pelo jeito continuou assim. A conta não fecha e o município fica no prejuízo", disse Venturini.

Pirão não comentou o teor dos áudios e informou que teve conhecimento dos fatos pela imprensa.

Kaedy foi procurado, mas não se manifestou.

Já o "doutor Soter", citado no áudio, é o chefe da assessoria legislativa da Câmara de Guarapari, Soter Lyra. Ele contou que trabalha no local há quase 20 anos e não tem nenhuma ligação com o caso. "O vereador Dito me pediu para analisar o projeto da Lei de Eventos, assim como outros vereadores me pedem para analisar outros projetos. Inclusive, disse ao Dito que o projeto que ele apresentou era inconstitucional. E que seria derrubado na Justiça porque as mudanças propostas por ele eram de competência do Executivo, não do Legislativo."

Num outro áudio, o suposto vereador reforça a importância de os empresários utilizarem um modelo para confeccionar a Lei de Eventos, e pede pressa.

Áudio 4

"Vamos pegar modelo aí mano, pega isso aí e manda pra mim, amanhã, pro meu e-mail. Vamos sentar amanhã, entendeu? Segunda-feira... você que manda rapaz. Vocês que mandam. Eu tô aqui... tô aqui pra... falei que é fechamento? Fechamento é fechamento e acabou. Vamos acabar com misso tudo aí, dessa farra."

Por fim, o suposto vereador afirma que o projeto foi protocolado na Câmara Municipal de Guarapari e pede seis mil. De acordo com fontes do Gazeta Online, seis mil referem-se a R$ 6 mil.

Áudio 6

"Foi protocolado. Vou pedir o presidente vê se já coloca quinta-feira agora, entendeu? Pedir vê se coloca quinta-feira agora e vai dar tudo certo. Eu preciso que faça aquele 50%, né, 'pra mim' poder batizar os meninos aqui. Beleza? É seis. Seis mil."

O projeto foi enviado à prefeitura, mas foi vetado. Em seguida, o veto foi derrubado pela Câmara e mantido conforme apresentado pelo vereador Dito Xaréu. O vereador teria enviado um áudio comemorando a decisão.

Áudio 5

"Isso aí que você queria, meu mestre? Seu pedido é uma ordem!"

Entretanto, após ter sido aprovado, o projeto acabou derrubado pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJES), que analisou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. O tribunal entendeu que o projeto era inconstitucional.

OUTRA CONVERSA

Em outra conversa com empresários, o suposto vereador faz questão de demonstrar afinidade com funcionários da Prefeitura de Guarapari e diz como poderia interferir na tramitação de um processo apresentado por uma nova casa de eventos que estava se instalando na cidade.

Trata-se de um projeto que qualquer empreendimento deve entregar em prefeituras para instalação de novas unidades. O objetivo do vereador, segundo fontes do Gazeta Online, é atrasar a inauguração da casa de shows.

Áudio 1

"O processo eu vou segurar aqui, inclusive na hora que 'eles'  der entrada, eu já combinei com o menino aqui... a gente vai tomar café, eu e o menino do protocolo... esse processo vai ficar 'garrado' comigo dentro do meu carro, entendeu? Ele põe como despachou para tal lugar e não vai chegar em tal lugar. Aí depois lá pro final de setembro a gente ressuscita ele... ou começo de outubro, não sei... novembro, sei lá como é que fica. Aí a gente vai fazendo isso aí, entendeu?"

CÂMARA PEDE INVESTIGAÇÃO DO MPES

Após reproduzir os áudios para os 15 vereadores de Guarapari, o presidente da Câmara, Enís Gordin, levou os áudios ao Ministério Público Estadual (MPES) e pediu investigação.

"Perplexos com as narrativas, todos os presentes pediram ao presidente que fossem tomadas as medidas necessárias para as apurações, no que foram informados que o presidente já tinha determinado que a assessoria da Casa providenciasse os meios adequados para dar ciência e informar as autoridades competentes", disse, num trecho do documento protocolado no MPES, em Vitória.

VEREADOR DITO XARÉU NEGA SER AUTOR DOS ÁUDIOS

O vereador Dito Xaréu não quis receber a reportagem do Gazeta Online. Em nota, disse que não reconhece os áudios.

"Gostaria de informar que não reconheço a autenticidade dos áudios, que eles são falsos, trata-se de uma montagem realizada por terceiros com intuito de prejudicar minha atuação como líder do prefeito. Não autorizo a vinculação do meu nome a qualquer áudio dessa natureza porque não são verdadeiros e sua origem não partiu de minha autoria. Inclusive, gostaria de informar que irei buscar os responsáveis com essa farsa e processá-los", disse o vereador numa mensagem de WhatsApp.

Questionado sobre quem seriam os responsáveis pela confecção dos áudios, o vereador se limitou a dizer que são "opositores ao Executivo" e com o objetivo de "me afastar da Câmara para uma tentativa de golpe na cassação do prefeito".

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