A união de ex-ministros dos vários governos anteriores e de vários espectros políticos para se manifestar, publicamente, contra medidas do governo Jair Bolsonaro, despertaram a atenção do meio político nos últimos dias, e podem trazer impactos para as discussões dessas políticas.
Na terça-feira desta semana, seis ex-titulares do ministério da Educação e 11 ex-ministros da Justiça e da Segurança Pública divulgaram, publicamente, notas abertas pontuando medidas que consideram "retrocessos", como os cortes na educação, e a ampliação no acesso às armas para cidadãos.
Essa atípica iniciativa foi inaugurada no mês passado, quando em 8 de maio todos os ex-ministros do Meio Ambiente vivos desde que a pasta foi criada, em 1992, também se reuniram e lançaram um comunicado para alertar sobre o desmonte institucional e de políticas públicas na área.
Participaram membros desde os governos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, até Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Nos três casos, os grupos se propuseram a continuar fazendo reuniões regulares para monitorar as áreas. A de educação anunciou também que vai constituir o "Observatório da Educação Brasileira".
Os ministros do Meio Ambiente, por sua vez, garantiram que irão manter um diálogo com instituições e organismos internacionais e que, se necessário, poderão acionar a Justiça para tentar impedir algumas ações do governo.
A possibilidade de que esses grupos representem uma frente suprapartidária contra medidas de Bolsonaro é algo que precisará estar no radar do governo, na avaliação de cientistas políticos.
Para o doutor em Ciência Política e professor da UVV, Paulo Edgar Resende, essas iniciativas mostram que a atual gestão representa a maior ruptura já vista até então.
"É claro que em uma democracia, cada governo, tem que ter a liberdade de mudar as políticas. Mas essa margem de mudança, precisa estar amparada por estudos, para se saber quais são os efeitos dessas decisões. À medida que ele não apresenta, gera preocupação", acrescenta.
Este aspecto de ruptura chegou a ser sublinhado pelos ministros. Os ex-titulares do Meio Ambiente frisaram no comunicado que apesar de diferenças ideológicas, cada um deles manteve o legado de seu antecessor e o rumo das políticas ambientais, ao mesmo tempo que trabalhava em novas políticas e diretrizes para preservar a riqueza ecológica brasileira.
POLÍTICA
Embora, para os especialistas, tais movimentos dificilmente serão capazes de fazer o governo mudar os rumos das políticas atuais, eles constituem, agora, mais uma peça no jogo de poder. O professor de Teoria do Estado da FDV, Leonardo Barros de Souza, analisou o potencial das ações.
O professor Paulo Edgar Resende também acredita em um possível impacto, principalmente se esses grupos continuarem ativos, se manifestando ou tomando medidas práticas, como a da judicialização.
"Hoje ele defende uma agenda que não tem consenso, e há uma falta de habilidade de conversar com os congressistas. Essas críticas contribuem para que o presidente continue com dificuldade de formar maioria no Congresso, pois ele ainda não consolidou uma base", pontua.
O doutor em Ciência Política e professor da FGV Sérgio Praça ainda compreende as manifestações como pontuais, mas vê que elas potencialmente ainda podem crescer. "As políticas públicas sempre devem ser criticadas e avaliadas, e quebrar uma política de Estado é algo impactante. Os ex-ministros se tornam parte do debate público", afirma.
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