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Bolsonaro prega para convertidos e base estaciona, dizem analistas

Bolsonaro prega para convertidos e base estaciona, dizem analistas

Para 33% dos entrevistados por instituto de pesquisa, o presidente da República faz um trabalho ótimo ou bom. Para 31%, regular, e para outros 33%, ruim ou péssimo

Publicado em 8 de julho de 2019 às 20:09

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Jair Bolsonaro segue como o presidente em primeiro mandato com a pior avaliação a esta altura do governo desde Collor. (Marcos Corrêa/PR | Arquivo)

Um governo que prega para convertidos e até consegue manter a base, mas não vai além disso. Assim é como cientistas políticos consultados pelo Gazeta Online avaliam a gestão Jair Bolsonaro (PSL) diante dos números da pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (08)

Para 33%, o presidente faz um trabalho ótimo ou bom. Para 31%, regular, e para outros 33%, ruim ou péssimo. O percentual de ótimo/bom, portanto, é igual ao de ruim/péssimo.

E, ainda de acordo com o Datafolha, Bolsonaro segue como o presidente em primeiro mandato com a pior avaliação a esta altura do governo desde Fernando Collor de Mello, em 1990.

"O discurso continua sendo o de palanque, ataca temas comportamentais, mas não aponta saída para crise e isso corrói o prestígio. Entramos neste ano vivendo uma crise econômica acentuada que se manifesta em desemprego e precarização da vida que afeta a classe trabalhadora e o governo não fala para essas camadas", afirma Rogério Baptistini, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo.

"Esses 33% que ele alcança são o percentual de partida dele, mas já o risco de perder esse apoio de 1/3 do eleitorado existe. Temas comportamentais de campanha e combate à corrupção são pouca coisa para garantir o governo no médio e longo prazo. A pesquisa mostra que ele se sai pior entre os pobres e no Nordeste", complementa.

"Bolsonaro tem um eleitor convicto, fiel. Esses 33% têm permanecido (em comparação com levantamentos anteriores, o de abril, por exemplo). Existe um incipiente bolsonarismo, que tem dificuldade de expandir entre os mais pobres e principalmente no Nordeste. O dado relevante não é nem aprovação nem reprovação e sim os 31% que responderam 'regular'. São neutros, não fazem nem avaliação negativa nem positiva. Esperam uma ação do presidente para que possam se movimentar", salienta Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco.

"A pauta da reforma da Previdência sai de cena ainda este ano. E aí entra a pauta do emprego e da renda. Se for governo de uma tecla só, perde popularidade. Se lançar pacotes de geração de renda e diminuir desemprego, esses eleitores do 'regular' podem migrar para aprovação", prevê.

O PIOR

"O dado mais significativo é na comparação com outros presidentes em início de mandato. É muito insatisfatório para um presidente da República com seis meses", ressalta Fernando Pignaton.

"Os bolsonaristas mostraram estabilidade em 1/3 do eleitorado, analisando a evolução só dentro desses seis meses, parou de cair. Mas aumentou a reprovação ligeiramente", emenda.

"Você para liderar um país com 33% de apoio... não consegue produzir estabilidade social e eleitoral necessária, o que se reflete no Congresso. Mas o polo contestador é outro que não tem condições de liderar, também está com 33%. Pode-se ver o protagonismo que o Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, está tomando na política brasileira", destaca, ainda, o cientista político.

"Ele estabilizou aquele número de pessoas que o apoiam, em 32%, 33%, também considerando o Ibope. É a marca que ele teve no 1º turno", lembra, ainda, Pignaton.

NEGAÇÃO

É provável que Bolsonaro, ao menos em público, desdenhe do resultado da pesquisa. E até o negue. O mesmo também ocorre entre os eleitores-fãs do presidente. "Negação da realidade é o pior caminho para o governo. A Dilma cometeu o erro de negar a realidade, o Collor, também. E o sistema político operou até desgastá-los ainda mais. Não digo que vai ter impeachment, mas a tendência é negativa para esse governo", alerta Pignaton.

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"Por enquanto, a divulgação da pesquisa alcança mais a população informada, que ainda lê os jornais. O público bolsonarista desconfia das mídias tradicionais, se comunica pelas redes sociais. O Bolsonaro tem conseguido ser refratário à crítica esclarecida baseada em evidência, em dados, mas isso não dura para sempre. As redes sociais, do mesmo jeito que mantêm fiéis, acessa públicos de forma diferente e é muito emocionalizada. Essa ideia de se manter refratário aos dados não vai durar muito", avalia Bapstini.

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