Pode-se dizer que há pelo menos duas coisas em comum entre os políticos afastados, presos e cassados no Espírito Santo a partir de 2016. São ao menos 16 vereadores, prefeitos e secretários com complicações judiciais ou políticas, como o Gazeta Online vem mostrando em reportagens.
A primeira delas diz respeito à predominância de e atos de improbidade relacionados à política de baixa qualidade. São casos de fraude de contratos em troca de vantagens financeiras e rachid a prática paroquial de exigir fração de salários de funcionários como condição para que permaneçam nos cargos.
Outro ponto de convergência é o fato de a maioria dos políticos implicados ser membro não de partidos situados à margem do processo político e eleitoral do Brasil e do Estado, mas de algumas das principais e tradicionais agremiações.
Dos 16 políticos com reveses elencados na reportagem, dez são ou passaram no auge da crise que enfrentaram por PSDB (3), PDT (3), PSB (2) e MDB (2). Os outros seis são de SD (2), PV (1), DC (1), PSD (1) e PP (1).
A prefeita afastada de Presidente Kennedy, Amanda Quinta, era do PSDB até ser presa na Operação Rubi, no início do mês passado.
Também membro do partido tucano, Carlos Henrique Storck teve o mandato de prefeito de Irupi cassado, e a cidade teve nova eleição.
O outro tucano encrencado é o vereador de Ecoporanga
Robério Pinheiro Rodrigues
, preso sob acusação de fraude em esquema de coleta de lixo na cidade.
No PDT também há políticos que enfrentaram ou enfrentam a prisão. Robertino Batista, o Tininho, é investigado na Operação Rubi, mas não seria preso. Acabou sendo porque uma arma ilegal foi encontrada na casa dele durante cumprimento de mandado. Pagou fiança e foi liberado.
Vereador de Viana, o pedetista Patrick do Gás foi condenado à prisão por rachid e cumpre pena em regime semiaberto.
CARTEL
Já Nacib Haddad, vereador da Serra, foi afastado do cargo ao ser acusado, na Operação Assepsia, de envolvimento em esquema de cartel por meio de empresa da qual era sócio.
Apesar de uma filiação confusa e não reconhecida pela cúpula estadual do partido, Luciano Paiva, de Itapemirim, é, formalmente, membro do PSB. No último dia 5, assinou pedido de exclusão do seu registro. Condenado a nove anos de detenção e multa, Paiva está fora da prefeitura desde 2017.
Flagrado praticando rachid, Geraldinho Feu Rosa, da Serra, foi expulso por "só usar o PSB para ganhar a eleição".
Maus exemplos provenientes dos grandes partidos são ruins à democracia representativa, avaliam especialistas.
Para o professor de Ciência Política da UFRJ, Paulo Baía, o resultado geral das eleições de 2018 é prova de que a classe política foi desmoralizada. Há um desencanto com instituições necessárias à democracia.
"É ruim para a democracia. O descrédito dos partidos atinge a concepção da democracia porque, consequentemente, tem a desmoralização dos Poderes Legislativo e Executivo. E fica-se com o processo democrático afetado", comentou.
Coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC-MG, Róbson Sávio ressalta que os escândalos são reflexo de partidos desconectados de compromissos programáticos.
OS CASOS
Considerando os que foram filiados e deixaram as siglas por vontade própria ou expulsão.
PSDB
- Amanda Quinta (Presidente Kennedy), prefeita afastada e presa.
- Carlos Henrique Storck (Irupi), prefeito cassado.
- Robério Pinheiro (Ecoporanga), vereador afastado e preso.
PDT
- Tininho Batista (Marataízes), prefeito detido com arma e alvo da Operação Rubi.
- Patrick do Gás (Viana), vereador preso e condenado.
- Nacib Haddad (Serra), vereador afastado.
MDB
- José Augusto Paiva (Presidente Kennedy), secretário afastado e preso.
- Jorge Magalhães (Jaguaré), vereador afastado.
PSB
- Luciano Paiva (Itapemirim), prefeito afastado e condenado.
- Geraldinho Feu Rosa (Serra), vereador afastado.
OUTROS
- Tiago dos Santos (PP), vereador afastado de São Gabriel da Palha.
- Neidia Pimentel (PSD), vereadora afastada da Serra.
- Rosinha Guerreira (DC), vereadora afastada de Linhares.
- Luciano Pereira dos Santos (PV), vereador afastado de Nova Venécia.
- Wagner Lucas dos Santos (SD), vereador afastado de São Gabriel da Palha.
- Dito Xaréu (SD), vereador de Guarapari, foi afastado, mas voltou.
Dirigentes dizem que tomam providências
Partidos que tiveram membros envolvidos em escândalos dizem que repudiam as más práticas e que adotam providências para que elas não se repitam.
Presidente do PSB estadual, Carlos Rafael avalia que partidos maiores enfrentam mais crises por estarem mais expostos. Por uma questão estatística, sobretudo. Quanto mais gente em cargos, maior a probabilidade de erros, diz ele.
"Por erro ou por intenção, é maior a chance de ter envolvimento em processo. Mas o PSB não transige em casos como esses. O partido não é lugar de puritanos, mas é lugar de pessoas que têm responsabilidade com a sociedade", disse.
Assessor jurídico do MDB no Estado, Sirlei de Almeida contou que a sigla quer tornar mais rígida a regra para acolhimento e manutenção de filiados.
"Na revisão do estatuto, o partido está incorporando princípios de integridade, ética e moralidade. O fato de o filiado ter alguma condenação já vai impor a exclusão do quadro. O diretório estadual deliberou logo depois das eleições de 2018 no sentido de estabelecer a cláusula anticorrupção", frisou.
Presidente do PDT, o deputado federal Sérgio Vidigal lavou as mãos para os escândalos de pedetistas nos municípios. Por meio da assessoria, informou que a executiva estadual só trata de questões estaduais. "Quando se trata de questões municipais, a competência é da executiva municipal", disse.
Já Vandinho Leite, que preside o PSDB no Espírito Santo, fala em "tolerância zero": "O PSDB-ES sob minha gestão, tem tolerância zero para corruptos. Não irei tolerar esta prática. Como exemplo temos o caso recente da prefeita Amanda Quinta, que imediatamente demos inicio ao processo de expulsão".
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