Após ter sofrido alguns reveses ao longo dos oito meses como ministro da Justiça e da Segurança Pública, o ex-juiz Sergio Moro enfrenta desgaste crescente com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e com os parlamentares, conforme já se nota nos bastidores do Congresso Nacional. No entanto, deputados capixabas ouvidos pelo Gazeta Online minimizam as indisposições e defendem que não há nenhuma sinalização de saída dele do governo.
Apesar de ainda registrar um capital político elevado, Moro recentemente enfrentou acusações de ter ajudado o Ministério Público em processos da Lava Jato, quando juiz, e viu Bolsonaro mandar "segurar" a tramitação do pacote anticrime para não tumultuar a relação com o Congresso e colocar em risco reformas econômicas, pedindo paciência ao subordinado. Nos bastidores, a atuação dele é considerada isolada, por não defender com veemência as pautas do governo, e por travar um choque de protagonismo com o presidente, tanto pela popularidade, quanto pelas expectativas para a eleição presidencial de 2022.
O deputado Josias Da Vitória (PPS) considera que a puxada no freio com o projeto anticrime não tem relação com eventual desgaste do ministro. "O projeto é importante, mas está tendo conflito de relevância com os outros projetos, como a reforma da Previdência e a tributária. Ele está demonstrando paciência. Ainda é cedo para avaliar se ele e o presidente já estão pensando na próxima eleição. Ele está fazendo o trabalho dele, que tem muitos desafios", afirma.
Para a deputada Soraya Manato (PSL), Moro e Bolsonaro ainda mantém um bom relacionamento, de muita confiança. "Tenho certeza que o presidente não o vê como adversário, e sim como parceiro de primeira hora. O único adversário do presidente hoje é o governador João Doria (PSDB), que tem dito que quer ser presidente", disse.
A parlamentar também discorda de que Moro atue no Congresso de forma autoritária e isolada. "Ele foi no Congresso diversas vezes apresentar o pacote. É uma pessoa de grande humildade, calma, serena, não tem arrogância. Mas o pacote anticrime, querendo ou não, é polêmico. Há uma necessidade de amadurecimento no debate", pontuou.
As deputadas Norma Ayub (DEM) e Lauriete (PL) também negam perceber desgaste. "Não tenho observado perda de espaço ou desgaste no âmbito da administração pública e em especial no relacionamento com os parlamentares, por parte do ministro", disse a demista. "Sergio Moro continua com sua moral e dignidade inquestionáveis. As publicações dos materiais hackeados tem fonte duvidosa, não o atingiram", completou Lauriete.
OPOSIÇÃO
Já o deputado Helder Salomão (PT) é um dos que avalia que o ministro está em um processo de perda de popularidade e importância dentro do governo. "O que a gente vê no Congresso é a imagem de Moro desmanchando. Setores que sempre o apoiaram em ações da Lava Jato estão percebendo que o que ele tinha, na verdade, era um projeto de poder. Tanto é que hoje, mesmo fora do cargo, ainda mantém muita influência nos processos".
Nos últimos dias, Moro também foi ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, mostrar preocupação com a decisão de suspender as investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) feitas sem autorização judicial. Embora a decisão do Supremo tenha beneficiado diretamente o senador Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente, no escândalo dos "laranjas", o ministro considerou que a medida poderia colocar em risco mecanismos de combate à lavagem de dinheiro.
"Com certeza há uma luta de egos entre Bolsonaro e Moro, pois como o ministro ainda tem muita credibilidade com uma parte da população, isso certamente traz problemas nas relações no âmbito do governo. Até agora, eles não se arriscam a falar mal dele publicamente, por conta de seu apelo popular, mas isso pode começar a mudar", comentou Helder.
A reportagem buscou os demais deputados e senadores, que informaram que não comentariam sobre a situação de Moro.
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