Entrevista

Afastada de Casagrande, Rose vai em busca de hartunguistas

Senadora revela diferenças com socialista e diz que pode apoiar Ferraço ao Senado em troca do apoio dele a ela para o governo do Estado

Bernardo Coutinho
Em pronunciamento, senadora Rose de Freitas (Pode-ES) à bancada. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Em pronunciamento, senadora Rose de Freitas (Pode-ES) à bancada. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Não está mais nos planos da senadora Rose de Freitas (Podemos) uma parceria com o ex-governador Renato Casagrande (PSB) para derrotar o candidato governista. Ela diz que há quase um mês eles tiveram uma conversa que marcou a separação dos projetos de cada um para ganhar a briga pelo Palácio Anchieta. Agora sem o governador Paulo Hartung (MDB) no páreo, a senadora sinaliza o interesse em conquistar o apoio de lideranças e partidos governistas à "irreversível" candidatura dela ao governo.

Apesar das diferenças políticas com Hartung, Rose avalia que a atual gestão tem quadros técnicos e políticos "valiosos", que poderiam contribuir com a proposta que ela quer apresentar para o Estado. Portanto, ela vai procurá-los.

Os principais partidos governistas pretendem substituir a candidatura de Hartung pela do senador Ricardo Ferraço (PSDB) ou pela de Amaro Neto (PRB). Os dois vêm se preparando para concorrer ao Senado. Há dúvidas a respeito do interesse de ambos em mudar o foco a esta altura. A última pesquisa de intenções de voto publicada pelo Gazeta Online indica que um ou outro entraria em desvantagem na disputa contra Renato Casagrande.

Rose defende que Ferraço e Amaro continuem como pré-candidatos ao Senado. Se nenhum dos dois aceitar concorrer ao governo, aumentam as chances de partidos e lideranças hoje governistas aparecerem no palanque dela.

Em entrevista, a senadora falou sobre diferenças com Renato Casagrande, fez elogios a técnicos e políticos do governo Hartung e disse não haver chance de abrir mão da própria candidatura ao governo. Confira:

A saída de Paulo Hartung interfere de alguma forma em sua campanha?

O governador é uma liderança política, está no poder. Tem no entorno dele todo um grupamento de políticos, tinha a expectativa de ele ser candidato. Lógico que a declaração dele, de não ser, muda muito o quadro político do Estado. Muda muito, não muda pouco. Não é uma coisa mais ou menos. É um fato importante. Não tive a capacidade de analisar, digo com sinceridade, o que pensam, o que vão fazer os partidos que estavam com ele. Parece que assinaram um documento para ficarem juntos. Vamos ver como se desdobram. O momento agora não é de "estou estarrecida ou estou preocupada". É de respeitar o momento dele. Foi um ato absolutamente pessoal e intransferível. 

A senhora vinha conversando muito bem com o ex-governador Renato Casagrande...

Já tem mais de 20 dias que a gente não se fala. A gente vinha conversando sobre a disposição de oferecer, da minha parte, uma nova discussão de gestão. Até aí vínhamos conversando razoavelmente bem. Eu dizia que eu tinha uma tribuna, ele está sem mandato. Só tenho a dizer que sempre ele dizia que estaríamos juntos, dando a entender que isso seria objeto de uma conversa em uma direção comum. Até que eu perguntei a ele se ele seria candidato, há umas três ou quatro semanas, e ele disse que seria. Então, disse que deveríamos seguir separadamente. Ele segue o dele e eu sigo o meu.

Nessa conversa ficou claro que cada um seguiria seu caminho?

Claro.

Há vinte dias?

Mais um pouco. Quase um mês.

Como o tabuleiro deu uma mudada, a senhora pode conversar com quem está sendo colocado no lugar do Paulo Hartung, como Ricardo Ferraço e Amaro Neto?

Eu não ouvi isso deles. Não posso pensar por especulação. Mas tenho uma pré-candidatura colocada. Em respeito a todos aqueles que se colocaram em posição de incentivar minha pré-candidatura, não posso falar que porque saiu o governador e entrou o Amaro muda. Pra mim não muda o quadro. Muda o quadro de quem já estava colocado na disputa. Ainda considero que Amaro é candidato a senador, pelo que ele falou publicamente. E o Ricardo também reafirmou que é candidato ao Senado. Só trato de candidaturas que estão postas. Está a do Renato e a nossa (dela mesma). Se surgirem outras, vamos considerar todas as hipóteses. Mas nesse momento já não posso sair de onde eu estou. Seria fugir da responsabilidade que assumi com várias lideranças do Estado.

Se surgir outra, a senhora vai analisar?

Você quer colocar que eu estou analisando qualquer candidatura. Não, a gente tá definido nessa linha de continuar criando as condições para a nossa candidatura. O que falamos lá atrás? Queremos oferecer um projeto novo para o Estado, um projeto de gestão. A nossa nasceu do movimento popular, de todos os lugares, da união dos prefeitos, do municipalismo, do espaço democrático. É por aí...

A senhora ficou chateada porque teve que sair do MDB para disputar o governo e, no final das contas, nem precisaria?

Não, eu não fiquei chateada. Não tenho por hábito ficar refazendo momentos, uma decisão que não poderia ter sido outra. Seria criar um quadro de lamentação que é impossível de ser colocado na dinâmica da política. Aquele momento era um. Agora é outro.

Sem Paulo Hartung, a senhora acha que suas chances aumentam?

Não sei te dizer. Mas com certeza nós teremos um quadro que estava junto com o Paulo, uma capacidade de, juntos, conversarmos. Eles faziam parte de um governo, de uma proposta. Nós poderemos discutir outra proposta, junto com essa, respeitando aquilo que está sendo feito pelo governo atual. E mostrando uma perspectiva de mudar algumas coisas que são muito importantes para a sociedade.

O projeto da senhora está aberto a contribuições inclusive da equipe do atual governo?

Não estou falando de equipe do atual governo. Estou falando de pessoas, de políticos, que queriam participar de uma discussão de uma nova gestão. E sei que dentro do governo tem quadros valiosos. Quadros políticos e técnicos, com os quais podemos discutir essa nova proposta. E tenho certeza que eles, como a população como um todo, têm contribuições a dar. Seria arrogância da minha parte eu dizer que, propondo uma nova gestão, os que estão dentro da gestão não tem valor.

A senhora vai procurá-los? Pretende?

Ah, pretendo procurar várias pessoas com as quais tivemos debate importante publicamente.

Também pretende procurar o senador Ricardo Ferraço?

Já o procurei. Gilson Daniel também. Achamos que a candidatura do Ricardo é importante para o Estado e temos que conversar. Ele pode ser o senador, aliás, de muita gente, de muito mais gente do que ele tem hoje o apoiando.

A candidatura do Ricardo a que a senhora se refere é ao Senado, obviamente.

Só, né. Eu sou candidata ao governo. Não podem ter dois (risos).

A candidatura da senhora é irreversível?

Irreversível.

A senhora conversou com o Amaro também?

De segunda (09) para terça-feira (10) foi muito conturbado. Não em função da decisão do governador, mas em função do prazo em final que tem em Brasília, para os empenhos. Era muita coisa para acordar e para relatar. Não tive tempo de falar muito. Mas pretendo procurar a todos.

A senhora tem alguma objeção em disputar primeiro e segundo turno contra Renato Casagrande?

Não, nenhum. Todo o tempo eu dizia para Renato Casagrande que Paulo Hartung governou o Estado três vezes e ele governou uma. E todo o tempo eu pensava, por ser uma pessoa que articula recursos e obras, que vive o cotidiano do municipalismo, que eu queria experimentar essa... construir essa força desta vez através daquilo que eu acredito que seja importante. 

Como a senhora tem tantas considerações sobre a condução, com nova proposta para o Estado, parece pouco provável que partidos hoje da base do governo, mesmo sem o Paulo Hartung, queiram apoiar a senhora.

Eu não estou na dependência disso, não. Você tem um diagnóstico. Você acha pouco provável que pessoas que estejam na base queiram apoiar nossa candidatura. Eu estou disposta a discutir tudo isso. Mas você acha provável que eles apoiem o Renato Casagrande?

Não, não acho.

Então deve ter uma candidatura nova.

Inclusive um grupo de partidos da base se reuniu e disse que tem preferência por alguém entre Ricardo Ferraço e Amaro Neto.

Então vamos aguardar. Mesmo com eles vamos conversar. Até vou ligar para o Amaro Neto mais tarde.

A senhora vai ligar para pedir o apoio dele, obviamente.

Vou ligar para dizer que estou aberta para discutir a proposta que estamos apresentando ao governo. Minha candidatura já está posta. E é irreversível, está consolidada, com apoios importantes na região metropolitana e em vários municípios do Estado. Não é coisa escondida num sonho, num recôndito pessoal. É mais do que isso.

A senhora e o Renato Casagrande estão rompidos?

De jeito nenhum. Não sou de romper com pessoas. Rompo com propostas.

E a proposta da senhora e a dele...

Não são a mesma coisa. Quero governo mais ágil, mais humanizado. Gosto muito dele. Mas se eu comungar com tudo o que ele pensa não existe outra candidatura.

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