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Bombeiros do Sul do ES contam a experiência de atuar em Brumadinho

Bombeiros do Sul do ES contam a experiência de atuar em Brumadinho

Dois militares e um cão que moram em Cachoeiro ficaram 15 dias em Minas Gerais

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 17:59

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Um cabo e um soldado do Corpo de Bombeiros que atuam em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, e em Guaçuí, na região do Caparaó ajudaram no resgate de vítimas da tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Até a quinta-feira (14), 166 mortes estavam confirmadas e 147 pessoas estavam desaparecidas.

Oito bombeiros e três cães da raça pastor alemão do Espírito Santo foram encaminhados para ajudar nas buscas. Eles permaneceram no local 15 dias trabalhando diariamente. O cabo Hugo Meneguiti de Andrade trabalha na 1ª Cia, em Cachoeiro de Itapemirim, com o cão dele que se chama Athos. Já o soldado Leonardo Silva Rovetta atua na 2ª Cia, em Guaçuí. A cadela dele se chama Bella, mas ela não foi para Brumadinho.

A Bella tem um ano e quatro meses, ela já está certificada pelo CBOM para atuar na operação com cães K-9. Ela atua na busca de pessoas, mas ainda não atingiu o patamar de busca de pessoas sem vida.

Os militares e Athos retornaram no início da semana, mas passaram por atendimento médico e psicológico em Vitória. Eles chegaram em Cachoeiro na quarta-feira (13). Roveta explica que ficou impressionado com a estrutura montada em Brumadinho para os militares.

“Ficamos impactados com o tamanho da estrutura que ali existia para atender os bombeiros de outros estados que estavam chegando. Quando fomos para a área quente (local onde as mortes aconteceram), ao pousar, pisamos na lama, foi um impacto que não sei descrever. É uma sensação de emoção por ter sido escolhido para estar lá e também uma responsabilidade muito grande em saber que as famílias esperam de você um retorno”, contou.

Essa foi a primeira vez que Rovetta atuou em uma operação de grande proporção. Ele conta como foi a experiência. “Acredito que isso vai servir para o resto da minha carreira, vai seguir como um incentivo, uma força. Se em algum momento eu pensar que não dá mais, vou lembrar de Brumadinho”, disse.

PIONEIROS 

A operação com cães K-9 do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo começou em Cachoeiro de Itapemirim em 2011, mas só foi oficializada quase dois anos depois. Segundo o comandante do 3º batalhão, coronel Herbert, mesmo não tendo ocorrência, eles treinam todo os dias.

“Esse projeto foi um embrião aqui em Cachoeiro, o antigo comandante que esteve aqui era um entusiasta, ele implantou esse serviço aqui em Cachoeiro. Após ser oficializado o projeto, se espalhou e continua no estado todo”.

O comandante ainda disse que os cães são cuidados em tempo integral pelos militares. “Dos trabalhos desenvolvidos pelo Corpo de Bombeiros, o que toma mais tempo da vida pessoal do militar é o serviço de cães, porque eles levam o serviço para casa. O serviço deles é o cachorro e eles tem a função de treiná-los todos os dias. Um cão demora um ano para ficar pronto”, finalizou.

ENTREVISTA

Bombeiros do Sul do estado contam como foi a experiência de atuar na tragédia de Brumadinho. (Divulgação - Corpo de Bombeiros)

Cabo Hugo Meneguitti, que já está com o cão Athos há sete anos, contou que os 15 dias foram de exaustão, mas de muita responsabilidade. Eles já atuaram na localização de um professor que se perdeu no Parque Nacional do Caparaó em 2017, na chuva de Colatina e na tragédia de Mariana.

Qual foi a sensação ao desembarcar em MG?

O sentimento é de perplexidade. De fora a gente não tem a real dimensão, mas a gente, com o apoio dos amigos e dos colegas, tenta sempre permanecer focado na missão e desempenhar o melhor possível. Mas eu confesso que no primeiro momento a gente fica impressionado.

Como é a proporção da área devastada?

Brumadinho teve uma característica específica. Eu estive em Mariana também e a quantidade de terra, falando de uma forma coloquial, era muito maior em Mariana, porém o numero de vítimas em Brumadinho era muito maior.

Como foram os 15 dias de trabalho?

O dia começava às 5h e terminava às 19h30, 20h. Estávamos subordinados ao governo de Minas Gerais. Não era uma operação do Espírito Santo. Logo que tinha teto para voar ou logo que a viatura conseguia chegar no local, a gente era despejado em algum ambiente de trabalho e tentava aproveitar toda luz do dia. A gente não teve a felicidade de encontrar ninguém vivo.

Como era o trabalho?

Tinha dias que a gente estava com lama no peito, tinha dias que a gente estava com lama na barriga e tinha dias que a gente ficava só com lama aos pés. Então dependia muito da missão, do local que a gente era posto. A gente olhando de fora não tem essa dimensão, mas é uma operação que envolve muita gente.

Como vocês lidaram com o lado emocional nesses dias?

Tentei focar ao máximo com ajuda dos companheiros. A gente é humano, lógico que a gente sente. Nos primeiros dias fiquei focado. Teve uma homenagem dos helicópteros. Ali a gente refletiu: “Olha o que eu estou fazendo aqui”. Isso mexe com a gente. Nesse mesmo dia, quando a gente estava retornando para o alojamento, passamos pela entrada da cidade e os familiares e populares começaram a bater palmas para a gente.

O que você trouxe dessa missão para você, como profissional, como humano?

Profissionalmente foi de muito ganho, porque querendo ou não a gente viu uma gestão de uma coisa muito grande. Trabalhamos com profissionais excelentes de todo país, principalmente de Minas Gerais. Evidente que psicologicamente deixa marcas. Ontem passamos por atendimento psicológico, sessões médicas, físicas. Profissionalmente foi de muito ganho e psicologicamente a gente vai se estruturando com o tempo.

Como foi o desempenho do Athos?

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O desgaste aos cães foi muito grande. O Athos teve um problema de dermatite. Nessa ocorrência eu pude notar que, tanto quanto nós ou até mais, porque a gente tem aquela racionalidade de ir até certo ponto e eles não. É importante que se diga que são cães selecionados, acostumados, que fazem atividade física imensa. A gente os treina para isso, mas mesmo com o desgaste físico eles foram extremamente úteis na missão. Foi montada uma estrutura de atendimento para os cães. A gente passava um período do descanso atendendo eles.

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