Arlindo Villaschi

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Fora, Tina!

Apresentado sob a égide da pós-verdade e da "fake news", o argumento da solução única precisa ser contestado em nome de um país inclusivo e melhor


A exagerada simplificação de argumentações do 8 ou 80 – como se 7, 84, ou 47 inexistissem; e do preto ou branco – pobres cinza, amarelo, azul... - adquiriu nova versão na defesa que o governo faz de suas reformas. Baseadas no simplismo do TINA – “there is no alternative”, literalmente sem alternativa -, propostas são encaminhadas pelo ilegítimo Executivo para apreciação do igualmente ilegítimo Legislativo, como se na racionalidade econômica e no embate político só coubesse uma única solução.

Solução única foi vendida – com a conivência dos grandes veículos de comunicação – para resolver a questão de crise fiscal conjuntural. Para uma questão conjuntural, foi adotada alternativa – única para os que defendem os interesses do mercado financeiro a qualquer custo – que engessou gastos governamentais em setores vitais – como saúde, educação, assistência social. Engessamento que inviabiliza, nos próximos vinte anos, qualquer proposta para a necessária inclusão na historicamente excludente sociedade brasileira.

Caminho semelhante foi adotado para a reforma trabalhista. Sob o mais do que frágil argumento do custo da mão de obra no Brasil – como se fosse ele o maior entrave à competitividade de empresas -, foram adotadas medidas reacionárias que colocam em risco a estabilidade sócio-econômico-política no país. Risco que afeta o bem-estar de milhões de trabalhadores e a sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas que têm, nesses milhões de pessoas, o principal mercado consumidor.

Uma necessária reforma da Previdência – por questões demográficas e iniquidades do atual sistema – foi transformada em medidas que perpetuam privilégios e mantêm injustiças de longa data. Com o maior despudor, é defendida como alternativa única para a economia voltar a crescer; reforma com conteúdo que agride evidências constantes de relatório de comissão especial criada no âmbito do Congresso.

A estratégia da alternativa única é pobre academicamente – as ciências sociais são diversas e plurais em argumentos que se contrapõem e podem contribuir para um embate mais pleno para a construção de consensos sociais. O argumento do TINA é falso quando se examinam resultados de políticas econômicas e sociais adotados em outros países.

Apresentado sob a égide da pós-verdade – mais adequado chamar de mentira – e da “fake news” – notícia falsa, simples assim -, o argumento da solução única – TINA - precisa ser contestado em nome da construção de um país inclusivo e melhor para todos.

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