Jornalista de A Gazeta. Há 10 anos acompanha a cobertura de Economia. É colunista desde 2018 e traz neste espaço informações e análises sobre a cena econômica.

Vale pode construir nova fábrica no ES

A informação foi obtida pela coluna junto a fontes que estão próximas às discussões ligadas ao investimento e ao novo marco regulatório do gás

Publicado em 23/07/2019 às 22h29
Produção da Vale: pelotas são a matéria-prima para fabricação do HBI. Crédito: Divulgação
Produção da Vale: pelotas são a matéria-prima para fabricação do HBI. Crédito: Divulgação

A largada dada nesta terça-feira (23) para a implantação do chamado Novo Mercado de Gás pode ser também o pontapé inicial para viabilizar um importante empreendimento para o Estado: uma fábrica de HBI (Hot Briquetted Iron), que é um produto à base de minério de ferro com maior valor agregado.

O negócio está nos planos da Vale, que estuda construir a planta em Anchieta, no Sul capixaba. A informação foi obtida pela coluna junto a fontes que estão próximas às discussões ligadas ao investimento e ao novo marco regulatório do gás.

O interesse da empresa de ampliar seu portfólio no mercado de metálicos já se tornou público, inclusive, por meio de planos de negócios, mas considerando que historicamente há uma baixa competitividade do gás nacional, o planejamento estratégico da companhia não apresenta nenhum empreendimento de HBI.

Isso acontece porque a empresa condiciona a sustentação desse projeto ao barateamento do preço do gás natural, combustível usado no processo de produção. Com os valores que são praticados hoje no mercado brasileiro, acima de US$ 10 por milhão de BTU (unidade de medida usada no setor), fica inviável construir uma fábrica do produto. Por aqui, o preço chega a ser cerca de três vezes maior do que o negociado no mercado internacional, a exemplo do americano, onde se paga US$ 3,13 por milhão de BTU.

Um especialista explicou à coluna que o Hot Briquetted Iron é uma redução do minério de ferro a um estágio que antecede o aço. Ou seja, ele é um processo posterior à pelotização e anterior à siderurgia. O HBI é usado para a fabricação de aços mais especiais e tem um valor que chega a ser três vezes maior do que o da pelota.

A avaliação de implantar a unidade no Sul do Estado é fruto de uma série de fatores que contam pontos para o negócio. É no Espírito Santo que está o maior complexo pelotizador da Vale, o de Tubarão. E é em Ubu onde opera a Samarco – empresa da Vale com a BHP – que, embora esteja sem atividade atualmente, tem perspectiva de retomar as operações no próximo ano. Assim, a planta de HBI estaria muito próxima das unidades que produzem as pelotas, matéria-prima para a fabricação do HBI.

Também é no município de Anchieta que a Vale tem uma grande área disponível, comprada na época do projeto da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que acabou não vingando. O porto de Ubu e a perspectiva de ampliação do ramal ferroviário até a cidade também animam o investidor.

Pesa ainda a favor do Estado, o fato de o Espírito Santo ser o quarto maior produtor de gás natural do país. E é justamente no Sul capixaba onde estão as maiores reservas dessa matriz energética. Sem contar que já existe em Anchieta uma unidade de tratamento de gás da Petrobras, a UTG Sul. “O site de Anchieta oferece muita competitividade”, pontuou uma fonte.

Nos bastidores, há informações de que a Vale estaria tentando fazer um contrato de compra de gás de longo prazo, algo em torno de 20 anos. Mas não há detalhes sobre quais ativos seriam atendidos por essa negociação.

Sobre o valor do investimento na fábrica, uma fonte explicou que um empreendimento como esse deve requerer cifras da ordem de US$ 600 milhões a US$ 800 milhões. E estimou que a implantação da unidade deve levar de três a quatro anos, aproximadamente, sendo um ano a um ano e meio para obtenção de licenciamentos e dois anos para a construção da planta. Procurada, a Vale não se manifestou.

A expectativa é que a partir de agora, com a promessa do governo federal de que o gás irá baratear em até 40% nos próximos dois anos, o projeto da fábrica de HBI comece a ser desenvolvido de forma mais intensiva. Até porque não é de hoje que a Vale tem interesse de entrar nesse mercado.

Há pelo menos 20 anos o projeto de uma fábrica de HBI está no radar. Em 1999, quando a empresa ainda era a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), chegou a ser assinado um protocolo de intenções com o governo do Estado, que estava sob o comando de José Ignácio Ferreira. Só que naquela época a expectativa era de que o projeto fosse desenvolvido no complexo de Tubarão.

O empreendimento, entretanto, nunca foi para frente. O motivo? O mesmo que hoje trava o negócio: o alto preço do gás. Vamos ver se, desta vez, o desfecho será diferente e a fábrica de HBI irá finalmente sair do papel. O investidor tem interesse e o cenário é favorável, resta saber se o governo federal vai conseguir criar todas as condições para viabilizar o tão esperado Novo Mercado de Gás.

Lembrado, mas ausente

Durante a cerimônia de lançamento do Novo Mercado de Gás, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, citou o Estado. Na ocasião, disse que no Sudeste as descobertas no pré-sal do RJ, SP e ES “deixarão a região em posição relevante para o aproveitamento dessa riqueza”. E deu destaque para a criação da ES Gás. “O Espírito Santo prepara-se para assinar novo contrato de distribuição de gás natural.” Uma pena nenhum representante do governo do ES estar lá para receber o “elogio”.

Indústria aposta na expansão do setor cerâmico

O governo capixaba não estava na cerimônia em Brasília, mas o Espírito Santo teve representante. O presidente da Findes, Léo de Castro, participou do evento e considerou que a criação do Comitê de Monitoramento da Abertura do Mercado de Gás Natural vai induzir de forma mais intensa os Estados a uma padronização da regulação, estimular privatizações e retirar barreiras tarifárias. Além de potencializar investimentos. “Aqui para o ES, o marco regulatório pode contribuir para a expansão de negócios como da Oxford e da Biancogrês. Destravar projetos como de térmicas e da fábrica de HBI. Para nós da indústria, essa pauta é muito relevante”, frisou Castro.

Ele contou que vários representantes de setores que têm interesse de investir nessa área estavam presentes na solenidade, como produtores de óleo e gás, empresários dos segmentos cerâmico, de fertilizantes e de vidro, além de representantes da Vale. Um sinal do apetite dos investidores.

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