Coluna da Fé

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"Tenho a convicção que o Senhor cura"

Ex-dependente de crack, o rapper MC Anderson, de 41 anos, relembra sua história nas e conta o testemunho de como a fé o ajudou a superar o vício


 

 

MC Anderson, rapper
MC Anderson, rapper
Foto: Caruh Góes/Divulgação

“Sou Anderson Soares, estou aqui para contar um pouco do meu testemunho de libertação do mundo das drogas. Sei que tenho áreas a serem tratadas, mas continuo em um processo, e Deus tem me surpreendido a cada dia.

Sou único filho homem entre 5 irmãs, minha infância não foi fácil, porque passamos muita dificuldade.

As cenas que mais marcaram a minha infância e que deixam saudades são as de quando, acompanhado por meus pais e minhas irmãs, íamos passear de pedalinho em um lago no Parque da Redenção na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde nasci e cresci.

Ali, a gente esquecia das muitas vezes em que meu pai chegava nos ameaçando de morte e espancando nossa mãe, Jussara, que tanto batalhava para nos sustentar. Viciado em álcool, nunca víamos a cor do dinheiro dele e eram constantes os maus-tratos. Mas, apesar disso, ele era um bom homem, só estava doente. Tanto que acabou morrendo de insuficiência respiratória, em 2003.

Portanto, a droga sempre foi uma realidade ao meu redor e, no meu caso, o vício veio pela maconha, aos 15 anos de idade. No começo, usei por curiosidade. Você quer fazer parte do grupo, quer mostrar que pode mais, que você é o cara. Eu tinha consciência dos riscos, mas você acaba achando que está no controle, que pode parar.

E foi com esse pensamento que também experimentei a cocaína. A partir dela, tive a péssima ideia de experimentar o crack. A essa altura, eu já nem me ligava mais no rap, um estilo de música que sempre adorei. E, com 23 anos, me tornei um escravo do crack. Foram longos quatro anos fumando todos os dias.

Conseguia manter os empregos somente para sustentar o vício, mas,aos poucos o vício foi destruindo meus sonhos e me tornei alguém que nem eu mesmo reconhecia no espelho. Cheguei a praticar pequenos furtos para sustentar o vício, quando acabava o salário.

Porém quando vi as pessoas sentindo pena de mim – os amigos, os vizinhos e os familiares – decidi mudar de vida. Minha mãe havia comprado duas canetas no ônibus e deixado um panfleto da Instituição Manassés pendurado na geladeira. Li no papel que a casa de recuperação poderia me ajudar a vencer o crack.

Então, juntando algum dinheiro e também doações da família, viajei para o Paraná, onde ficava o sítio da instituição. A caminho de lá, fumei minha última pedra de crack, em 2004.

Na instituição, adotei um novo estilo de vida. A leitura diária da Bíblia foi fundamental neste processo, muita fé em Deus e perseverança para sair todos os dias e vender canetas, pois com o dinheiro da venda a instituição se sustenta. A cada dia, era uma nova batalha, mas também uma nova vitória.

Aqui no Espírito Santo, onde cheguei por meio desse trabalho, consegui posteriormente um emprego como revendedor de serviços de telefonia porta a porta. Nessa altura, eu já frequentava a Igreja Assembleia de Deus, onde recebi muito apoio e orientação do pastor Luciano.

E, depois de mandar um rap no aniversário dele, fazendo uma homenagem, ele abriu minha mente para uma possibilidade: evangelizar as pessoas por meio do rap. Eu tinha receio de usar essa ferramenta no meio evangélico, mas ele me ajudou.

‘Esse é o dom que Deus te deu. Todo mundo ao seu redor usava drogas e porque Deus escolheu você? Porque ele tem um plano para você!’, me disse animado.

 

 

MC Anderson, rapper
MC Anderson, rapper
Foto: Caruh Góes/Divulgação

Daí em diante fui lapidando esse dom, até que em 2007, também incentivado por minha esposa, Priscila, com quem tive a Sofia, de 10 anos, e o Enzo, de 6 anos, passei a encarar o rap como um ministério evangelístico de fato.

Já são mais de 10 anos de ministério, levando a palavra de Deus por várias igrejas do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os convites vão aparecendo e vamos sentindo a mão de Deus guiando nosso trabalho.

Hoje, atuo como vigilante e exerço o ministério voluntariamente. Sou feliz e realizado ao lado de minha família, que Deus me deu como um presente. Creio que Deus tem muita coisa para fazer na minha vida. Ele vai me levar para lugares mais altos. Porque se eu venci as drogas, foi por sua força.

Fico triste em ver cada vez mais esta geração sendo dizimada por esta epidemia chamada crack. Pessoas, com potencial enorme para vencer, sendo derrotadas. Mesmo assim, tenho a convicção que o Senhor ainda cura”.

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