O acordo Mercosul-União Europeia ressuscitou o debate entre a visão nacional-desenvolvimentista e a visão liberal. Na primeira, o acordo amarra o país a exportar commodities de baixo valor agregado enquanto libera a importação de produtos industriais de alto valor agregado. Nesta visão, setores devem ser protegidos para preservar empresas nacionais e empregos qualificados.
> Dependência da exportação de commodities traz menos desenvolvimento
Na visão liberal, a abertura de mercados é fundamental para aumentar a competição, o que força o aumento de produtividade das empresas nacionais para concorrer com o produto importado.
Assim, as empresas de baixa produtividade devem quebrar mesmo porque abrem espaço para as de maior produtividade e mais competitivas, e isso é bom para o país. A visão liberal preconiza uma política mais ampla com a lógica de apoio ao empreendedorismo e melhoria do ambiente de negócios, com simplificação e redução da carga tributária, redução da burocracia, flexibilização das leis trabalhistas, melhoria de infraestrutura, segurança jurídica, redução do custo de capital e mais educação, ciência e tecnologia.
Desse modo, teríamos empresas competitivas sendo criadas permanentemente, disputando mercado com estrangeiras, com as vantagens da proximidade e da língua e se habilitando a exportar e a competir pelo mercado global, muitas vezes maior que o mercado local.
O argumento da primarização da pauta peca pelo anacronismo. O agronegócio pode ser muito maior que commodities com preço baixo. A agregação de conhecimento, estratégia, logística e tecnologia faz, por exemplo, com que uma saca de cafés especiais possa valer cinco vezes mais que uma de café cultivado tradicionalmente. Cria espaço também para startups (agritechs) e para novas empresas de fertilizantes, defensivos, equipamentos, logística e insumos em geral, valorizando as vantagens comparativas do Brasil. Isso vale para toda a agropecuária e lógica similar vale para mineração.
Além disso, o acordo reduz de 17% para zero as tarifas de importação de produtos industriais brasileiros como calçados e aumenta a competitividade de bens industriais em outros setores. E dá prazos variando até 15 anos para que as indústrias se adaptem.
Os exemplos de Canadá e Austrália nos mostram como países com grandes reservas de recursos naturais podem ampliar suas vantagens comparativas, criar indústrias focadas nessas vantagens e ter alta renda per capita. De outro lado, países como a Holanda, quase sem área para plantar, são potências do agronegócio, pelo conhecimento e tecnologia. Commodities não significam mais atraso, podem trazer grandes oportunidades.
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