Luta e resistência de mulheres para criação de Academia de Letras

Em 1937, a AEL foi reformulada. José Paulino escolheu Maria Antonieta Tatagiba como sua Patrona

Publicado em 05/07/2019 às 17h52
Literatura e as mulheres. Crédito: Divulgação
Literatura e as mulheres. Crédito: Divulgação

Desde a sua criação, na antiguidade grega, as academias foram redutos masculinos. Quando se fundou a Academia Francesa, em 1634, modelo a que se seguiram todas as outras, nenhuma mulher foi admitida. Com o objetivo de se dedicar à “cultura da língua e da literatura nacional”, fundou-se, em 1896, no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Letras, constituída por quarenta membros, como a Academia Francesa, todos homens.

Conforme os estatutos da ABL, “só podem ser membros da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros da Literatura, obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário”. Durante mais de 80 anos, a ABL impediu a entrada de mulheres em seu meio, interpretando os “brasileiros” do seu regulamento como, exclusivamente, os do sexo masculino.

Para remediar a não entrada das mulheres na ABL, e havia naquele final do século XIX, umas dez que se equivaliam com produção e valor literário ao dos homens que entraram, convidaram o jornalista Filinto de Almeida, português de nascimento, o que contrariava os Estatutos da ABL, marido de Júlia Lopes de Almeida, para ser um dos ocupantes de cadeira, o famoso “jeitinho brasileiro”. Dona Júlia era uma dama, mas deve ter ficado possessa!

Após a criação da Academia Brasileira de Letras, começaram a surgir academias estaduais e regionais, mas, diferente da ABL, algumas começaram a aceitar a presença de mulheres. A primeira delas foi a Academia de Letras de Goiás, em 1904, que teve como sua primeira presidente uma mulher, Eurídice Natal. Em 1913, fundou-se a Academia de Letras do Pará e, dentre os 20 membros fundadores, estava a jovem jornalista capixaba Guilhermina Tesch Furtado, nascida em Vitória, em 1890. Foi a primeira mulher capixaba a entrar numa Academia de Letras.

Quando a Academia Espírito-santense de Letras foi fundada, em 1921, não foi cogitado nenhum nome feminino. Guilly F. Bandeira, já acadêmica no Pará, não foi lembrada, embora um de seus primos, Manoel Pimenta, tenha sido um dos fundadores da AEL. Outros nomes de mulheres escritoras só se destacariam mais à frente como Maria Stella de Novaes, Maria Antonieta Tatagiba, Haydée Nicolussi, Lidia Besouchet, Ilza Dessaune, Judith Leão, Virgínia Tamanini.

Em 1937, a AEL foi reformulada, passou para 40 o número de suas cadeiras e o ocupante da cadeira 32, o prof. José Paulino, escolheu o nome da poetisa Maria Antonieta Tatagiba (1894-1928) como sua Patrona. Em seu discurso de posse, homenageou a primeira poetisa capixaba a ter um livro publicado, Frauta Agreste, em 1927, imortalizando-a nos anais da Academia.

Em julho de 1949, diante da impossibilidade de entrar na “Academia dos homens” e, incentivadas pelo presidente Eurípedes Queiroz do Valle, as mulheres escritoras criaram a Academia Feminina Espírito-santense de Letras, que, agora, completa setenta anos de luta e de resistência.

 

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