É doutor em Letras, professor e escritor

Pensando no futuro, é hora de dar boas-vindas ao novo tempo digital

Hoje, novos tempos se iniciam na história do jornal A Gazeta. Melancolicamente, despeço-me do passado e saúdo os novos tempos digitais

Publicado em 30/09/2019 às 08h45
Revolução digital e o bom jornalismo. Crédito: Divulgação
Revolução digital e o bom jornalismo. Crédito: Divulgação

Comecei a escrever como colaborador no jornal A Gazeta ainda na década de 1980. Naquela época, os textos eram datilografados, medidos em laudas e enviados por fax. A partir da década de 1990, comecei a usar computador, os mais antigos ainda se lembram dos velhos 386, da impressora matricial e da terrível internet discada. Uma loucura para se conseguir linha e conseguir enviar algum texto. O primeiro computador, importado pela FCCA da Ufes, custou uma fortuna, levei 24 meses pra pagar, além de ter causado uma terrível dor de cabeça para o reitor e o diretor da FCAA da época. Tudo isso caiu na obsolescência dos tempos digitais.

Hoje, novos tempos se iniciam na história do jornal A Gazeta, fundado por Thiers Veloso, um dos pioneiros da Academia Espírito-santense de Letras, a que pertenço, em 1928. Ao escrever esse texto para ser publicado, pela primeira vez, apenas em formato eletrônico, me sinto como o monge copista medieval que perdeu o rumo, após a invenção da imprensa por Gutemberg.

Acostumado sempre a ler o jornal, diariamente, há quase 50 anos, junto com minha xícara de café e um pãozinho com queijo e presunto, não terei mais a companhia do meu amigo físico, concreto e suas páginas impressas, numeradas, com assuntos diversos, imagens, gráficos, manchetes, charges, classificados, anúncios religiosos e todos seus fait divers, perdoem-me o galicismo arcaico, que encantaram minha geração.

Sei que os mais jovens não terão ou tiveram problema para emigrar do texto impresso para o eletrônico, pois a maioria já nasceu inserida nesse ambiente, mas nós que somos do mundo do papel ainda estamos aprendendo a conviver com essas novas tecnologias. Sei também que os idosos como eu, em sua maioria, já usam redes sociais, e como!, embora acredite que a maioria ainda prefira ler livros impressos em papel.

Nós, amantes do livro e da leitura, sabemos a delícia do cheiro de livro novo, do prazer em segurá-lo, de manusear página a página, de ir saboreando cada linha, talvez com o mesmo prazer de um amante da boa comida e de um vinho especial. Tentei emigrar para os livros eletrônicos, e-book é palavra que não me soa bem, comprei, há algum tempo, leitores para eles tipo o Kindle, mas não me adaptei. Só o faço por necessidade profissional.

Quanto aos jornais, não. Devido à sua fugacidade, necessidade de se adaptar à velocidade da informação e aos novos tempos, acredito que a maioria se transformará em digital. Como já está acontecendo. Os idosos, como eu, ainda apegados à folha impressa, desaparecerão, com o tempo, e, saudosisticamente, deixarão pastas de recortes de antigos jornais impressos, que os netos, no futuro, jogarão no lixo, sem saber por que ou para que os avós recortavam notícias, fotos, entrevistas em papéis amarelados pelo tempo, se é tão mais fácil ter os arquivos em pendrives.

Claro, eles não saberão nunca o amor que tivemos ao jornal impresso, que ontem acabou, diariamente, em A Gazeta. Melancolicamente, despeço-me do passado e saúdo os novos tempos digitais.

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