Médico, psiquiatra, psicanalista, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E derradeiro torcedor do América do Rio

Meu registro documentado como primeiro chefe de Míriam Leitão

Fui o primeiro copidesque de Míriam Leitão e tenho o direito de lembrar: "O passado só tem futuro"

Publicado em 08/07/2019 às 17h41
Jornalista Miriam Leitão. Crédito: Divulgação
Jornalista Miriam Leitão. Crédito: Divulgação

O moço ligou perguntando se eu queria dar um depoimento sobre Míriam Leitão, para um documentário, curta-metragem, já que eu havia sido seu primeiro editor no jornalismo, e indicado por ela. Relembrei, pensei, disse que sim. Apareceu lá no consultório um produtor, e seus holofotes incandescentes e fios, muitos fios. Perguntei logo se ia ser um longa-metragem. Mas que nada, seria um curta.

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Compreendi que não seria dessa vez que desbancaria George Clooney. Mas teria a honra de juntar alguns pedaços sobre uma doce criatura com grande inteligência e talento, e um gênio do cão, uma especial luta contra o grotesco do cotidiano de jornal, como apurar a previsão de falta d’água, greve de ônibus, dias de pagamento do funcionalismo e outras notícias sensacionais.

Respondi o que ele perguntava. Trabalhávamos na editoria principal do Diário do Edgar, como se sabe o maior jornal da Rua Sete. Tinha o olhar doce como um favo de mel, era muito bonita e cativante. Um dia subiu a escadinha rumo à redação sorridente e bela como uma tarde na Ilha de Vitória, quando Paulo Maia brincou com a frase mais desejada no noticiário internacional: “Parem as rotativas!”. Acho que foi assim. Perguntei ao moço quantas horas de filmagem. “Três minutos”, respondeu, com um certo sorriso. Ficou de me ligar para dizer que dia seria a minha estreia no cinema.

Não sei em que momento, e isso não era coisa para ficar espalhando em plena ditadura de 1964, Mirinha foi compor os movimentos de resistência, e presa para onde foram os demais. Dia desses encontrei, por acaso, com Sandra Medeiros, que trabalhava na mesma “baia” que ela, sua melhor amiga, e eu, na liga contra a mesmice. E falamos dela.

Em plena madrugada, abri o Google para matar a insônia, quando aparece no meio dos zaps uma cerimônia onde Mirinha, a filha caçula do Reverendo de Caratinga, de Minas, era homenageada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, de imenso prestígio. Estava um amor. Respondia entremeando frases de humor com drama, alegria e todas as constelações da alma.

Lembrou dos filhos e de toda família que no fim da sessão chegaram ao palco. Míriam Leitão escreve um artigo todo santo dia aqui mesmo em A GAZETA. No seu discurso de posse com diploma e medalha filosofou entre poéticas e verdadeiras colocações exaltando a necessidade de olhar para frente. “O passado não tem futuro”.

Pô, Mirinha, concordo, mas como teu primeiro copidesque tenho o direito de lembrar: “O passado só tem futuro”.

Um abraço, um beijo e um pedaço de queijo, amiga.

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