Eduardo Fachetti

Editor de Política

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Início difícil e discursos revisados

Os tempos são outros, e não haveria mesmo sentido em tentar governar, em 2015, com o cetro usado em tempos pretéritos


Praça Oito

Não se sabe se é por culpa dos arranhões da campanha eleitoral, se é o peso de comandar uma máquina em tempos de crise ou, ainda, algum efeito do cenário político adverso, em que “unanimidade” está longe de ser uma realidade. Fato é que o Paulo Hartung que na última sexta-feira completou 100 dias de governo se distancia daquele que deixou o Palácio Anchieta, em 2010, sob a alcunha de imperador.



Com cofres à míngua e a oposição onipresente do ex-governador Renato Casagrande em seu encalço, Hartung parece em plena revisão de seus discursos. Esses 100 dias não foram fáceis. Os tempos são outros, e não haveria mesmo sentido em tentar governar, em 2015, com o cetro usado em tempos pretéritos.



Na manhã de sexta-feira, quando recebeu A GAZETA em seu gabinete, o governador repetiu à exaustão as palavras “humildade” e “simplicidade”. Disse, com alguma convicção, que para alcançar resultados no cenário contemporâneo “não adianta força bruta”. Em todo momento que pode, PH enalteceu a equipe escolhida e buscou verbos flexionados no plural. Falou em “timaço”.



A coluna questionou o governador se essa é uma estratégia para mudar a imagem cultivada em sua passagem anterior pelo Executivo. Ele optou por uma resposta enviesada (afinal, ninguém muda tanto...), mas lá pelas tantas afirmou: “Ninguém tem o direito de errar de novo no que já errou. É preciso incorporar outros olhares”.



A dificuldade de admitir equívocos está preservada. Nem mesmo a crise da Escola Viva o governador classifica como tal – para ele, “o debate da Educação é motivo de muita alegria”. Quanto às críticas vindas do próprio governo, referentes aos cortes e à economia extrema apregoada, o governador considera tratar-se de reação a um novo momento. “Sempre acreditei que, no fim, a verdade prevalece”, sintetizou.



Esse Hartung aparentemente resiliente, de fala mansa, garante que com calma e “capacidade de saber ouvir” o Estado produzirá bons resultados. A palavra “cautela” nunca foi tão presente, e talvez seja o vestígio mais claro de que o governador está observando por qual lado começa a descascar os abacaxis que tanto desejou.

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