• Últimas da coluna

O "padrinho" de Cerveró

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 26 de novembro


pç oito

É uma das grandes cenas de “O Poderoso Chefão 2”:

Frankie Pentangeli, um dos subchefes da família Corleone em Nova York, caiu nas garras do FBI e, após acordo de colaboração com a Justiça, conta seus dias num presídio federal. Eis que, certo dia, recebe a visita de Tom Hagen, meio-irmão e conselheiro jurídico do capo da família de mafiosos. Desesperado, Pentangeli pergunta ao visitante o que deve fazer agora. Sabe que sabe demais, o que torna sua situação delicadíssima.

Num diálogo cheio de subtextos, Tom faz o comparsa (conhecido pelo grande interesse em História Geral) recordar-se que, no Império Romano, o governo protegia os descendentes dos conspiradores capturados, desde que eles se matassem. Pentangeli entende o recado e, dias depois, comete suicídio na cela, antes de poder delatar seus chefões ao FBI.

No Brasil, a vida política imita a arte. No lugar da proposta de suicídio, o senador Delcídio Amaral (PT) tentou calar Nestor Cerveró com uma polpuda oferta em dinheiro para “cuidar da sua família”, o que levou o STF a autorizar ontem a prisão do petista, em pleno exercício do mandato. A ideia de Delcídio era comprar o silêncio de Cerveró, antes que o ex-diretor da área internacional da Petrobras pudesse contar à Justiça tudo o que sabe sobre o maior esquema de corrupção da história deste país.

Como nos mostra “O Poderoso Chefão” (no original, “The Godfather”, ou “O Padrinho”), comprar o silêncio de testemunhas é prática corrente na máfia. Os fatos que motivaram o pedido de prisão de Delcídio parecem mesmo coisa de cinema, não fossem as robustas evidências que embasaram a decisão, incluindo uma gravação na qual ele aparece confabulando sobre a fuga de Cerveró, de quem era considerado “il padrino” na Petrobras.

Uma vergonha para a nação, que tem nova e inigualável demonstração do escárnio com que homens públicos tratam as instituições. Um constrangimento para o Senado, que, pela primeira vez na história, precisou decidir sobre a prisão de um membro da Casa. Mas, acima de tudo, golpe de misericórdia na imagem e no discurso do PT como “partido ético”.

O discurso histórico do PT já dava seus últimos estertores. Agora caducou, morreu de vez. Com que autoridade falar em ética quando o líder do governo no Senado, com as investigações da Lava Jato a pleno vapor, costura acordos com membros da base em votações de interesse do Planalto enquanto negocia o silêncio de um ex-diretor da Petrobras que pode comprometer figurões do partido como ele mesmo e vá lá saber quem mais?

Se o “Poderoso Delcídio” tentou comprar o mutismo de Cerveró, o que mais não teria comprado? Impossível não associar o episódio à compra de apoio no Congresso durante o mensalão e ao ainda mal contado assassinato do prefeito Celso Daniel, que volta à tona agora no curso da Lava Jato. O episódio também derruba de uma vez por todas a bravata de que “nunca antes se investigou tanto a corrupção no país porque foi o PT que deu autonomia às instituições para investigar”. Belo respeito às instituições...

E não adianta a direção do PT se apressar em “se livrar do corpo”, dizer que não lhe deve solidariedade e insinuar um processo de expulsão. Trata-se não de um senador qualquer, mas simplesmente do líder do governo no Senado – cuja influência já era forte ao longo de todo o governo Lula.

Os brasileiros no fundo queriam preservar a esperança de que o país não está totalmente entregue a uma “famiglia” de mafiosos. Mas fica muito difícil manter a crença quando, no dizer da ministra Cármen Lúcia, a esperança é vencida pelo cinismo e este, pelo escárnio.

Um passo à frente...

A prisão de Delcídio também tem o efeito de afundar o governo Dilma ainda mais na crise em que se encontra mergulhado.

...dez para trás

E isso bem no momento em que o governo vinha esboçando uma recuperação, a partir da obtenção de pequenas vitórias no Congresso e do deslocamento total do foco da opinião pública para Cunha.

Sem pressão?

Um repórter de A GAZETA perguntou ao deputado estadual Marcelo Santos, na terça-feira (24), se os parlamentares estavam sendo pressionados por magistrados para aprovarem o projeto que desagrada aos servidores do Judiciário. Imediatamente após negar a pressão, ele recebeu um telefonema do desembargador Annibal de Rezende Lima. “É que eu liguei pra ele e ele está retornando”, justificou.

Batendo na tecla

Discursando no Palácio Anchieta na última segunda (23), o governador PH tornou a bater naquela que se firma como uma das principais teclas de seu piano no 3º mandato: a desburocratização do poder público e a valorização das parcerias com o setor privado. “Temos que sair dos nossos quadradinhos. Por que a Serra Ambiental já fez mais ligações de esgoto do que a Cesan a vida toda? Por que os hospitais geridos por organizações sociais dão de dez nos outros?”, exemplificou.

Sobrou para os gajos

E vejam só, sobrou até para os irmãos de além-mar. “Temos o agravante da herança portuguesa. Eles são tão formais que, às vezes, quando respondem a uma pergunta simples, é preciso um tradutor.”

Ver comentários