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Algo de podre no reino de Michel Temer

Confira a coluna Praça Oito desta sexta-feira, 19 de maio


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Como bom latinista que é, Michel Temer com certeza conhece o significado desta frase, dita por Jesus aos apóstolos: “Spiritus promptus est caro autem infirma”. Tradução: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. No momento, os “discípulos” de Temer na Esplanada dos Ministérios começam a entregar os seus cargos, um a um. São como atos preliminares da renúncia do presidente, negada (ou apenas adiada) por ele na tarde de ontem, mas aparentemente inevitável.

Trata-se de um governo cujo chefe tornou-se insustentável no cargo, por conta dos pecados que vieram à tona na véspera: cumplicidade em tentativa de obstrução à Justiça, participação em esquema de pagamento de subornos da JBS a agentes governamentais, conivência com um esquema mafioso para silenciar Eduardo Cunha no xadrez. E tudo isso não faz três meses, em pleno exercício do mandato-tampão que lhe tocou.

Enquanto o país está em choque, Michel Temer está em xeque. Só ele parece não querer reconhecer o óbvio, a gravidade dos fatos atribuídos a ele e da sua própria situação. Pode até negar a renúncia em um primeiro reflexo após o baque sofrido. Pode se debater no fundo do poço enquanto ainda houver ar para puxar. Com isso, só fará adiar um desfecho incontornável e agravar ainda mais a crise política que está posta. Ficando ele no cargo, como ficará o país? Insistindo em permanecer, não está fazendo nenhum bem, neste momento, à nação.

O que estarrece na delação da JBS, para começar, é a repetição das mesmas práticas mafiosas que já haviam sido descobertas no governo anterior. Quem não se lembra do episódio da frustrada tentativa de compra do silêncio de Cerveró, operada pelo então senador Delcídio do Amaral, supostamente a mando de Lula?

Opinião

- Metastase na política

Já condenado a quinze anos de prisão, Cunha sabia demais e era preciso mantê-lo bem calado. O homem-bomba da República, que foi (e se gaba de ter sido) o principal responsável pelo impeachment de Dilma, logo pela ascensão de Temer ao poder, detinha informações privilegiadíssimas sobre tramas urdidas pela quadrilha peemedebista, na qual, ao lado de Temer até 2015, alcançou proeminência.

Segundo uma história que circula há meses em Brasília, Cunha viria fazendo chegar ao Planalto ameaças implícitas, mas preocupantes demais para Temer e para os consiglieri que sobraram de pé ao redor do capo da família, como Eliseu Padilha e Moreira Franco: “Era uma vez cinco amigos que faziam tudo juntos, viajavam, faziam negócios... então, um virou presidente, três viraram ministros e o último foi abandonado...” Sim, era preciso comprar o silêncio do “quinto amigo”. A ironia maior é que agora, mesmo calado e mesmo que indiretamente, Cunha pode ser um agente preponderante na queda também de Michel Temer.

Agora, o mais revoltante é a constatação daquilo de que há muito se suspeitava: durante a Era Lula/Dilma, uma organização política criminosa se apoderou da administração pública do país para drenar recursos públicos em nome da perpetuação de um projeto de poder e do enriquecimento ilícito de muitos. Pois bem, em 2016, essa organização foi destituída e substituída no comando do país não por um governo moralizador, mas por outra quadrilha ainda pior que aquela. Uma quadrilha peemedebista, que já tinha participação na organização anterior, mas que resolveu se rebelar e tomar conta sozinha do negócio.

Parece que estamos diante de uma guerra entre facções do crime organizado, gangues que brigam pelo controle de determinada boca de fumo, como aquelas representadas em filmes como “Cidade de Deus”. Tudo, logicamente, em escala muito maior e envolvendo o tesouro público. O seu, o meu, o nosso suado dinheiro, assaltado antes pelo PT, agora pelo PMDB, com apoio do PSDB.

A chapa esquentou demais e, politicamente, Temer já é carne queimada.

Carne estragada

Temer se segura como pode, mas o efeito manada começou. Assim como já fazem os ministros do PPS, a tendência é que todos corram para fora da floresta a fim de escapar do incêndio e da contaminação pela proximidade com um presidente politicamente morto. Ninguém vai querer ficar ao lado de um governo que agora cheira pior do que carne estragada.

Próximo procurador

Na Assembleia, é dado como certo que o próximo procurador-geral da Casa será Rafael Henrique Guimarães Teixeira de Freitas, hoje subdiretor-geral da Assembleia – cargo para o qual foi nomeado já na gestão de Erick Musso (PMDB). Ele foi procurador-geral de Aracruz na administração passada, do ex-prefeito Marcelo Coelho (PDT). Será designado procurador-geral assim que a “PEC do procurador externo” for aprovada em 2º turno.

“Amicus curiae”

O Ministério Público de Contas do Estado ingressou com uma petição no STF para se juntar à PGR como parte interessada na Ação Direta de Inconstitucionalidade contra resolução do Tribunal de Contas do Estado que permite ao governo estadual incluir gastos com aposentadorias no cálculo do investimento em educação. O MP de Contas requer, inclusive, o direito de fazer sustentação oral no caso.

Marcando território

Derrotado por Juninho (PPS) em 2016, o deputado estadual Marcelo Santos (PMDB) volta a se movimentar intensamente em Cariacica. Nesta quinta-feira (18) recebeu 13 dos 19 vereadores da cidade em sua casa, para um café da manhã.

Rose na CPI

Enquanto isso, em Brasília, a senadora Rose de Freitas foi indicada pelo PMDB para compor a CPI da Previdência.

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