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Pizza! A incrível saga de Michel Temer

Confira a análise, em cordel, da denúncia contra Temer e a salvação do presidente na Câmara


A noite vai adiantada

Joesley chega ao Palácio

Visita não registrada

O seu ingresso é fácil

Dá nome falso na entrada

Chega ouvindo o rádio

Assim começa a cilada

Armada pelo empresário 

 

Carrega em um dos bolsos

Um gravador amador

Levam-no ao calabouço

Onde o aguarda o senhor

O encontro é envolto

Em um ar misterioso

Bastante revelador

Joesley garante ao outro: 

  

- Presidente, tamo junto!

Comigo pode contar!

- Ótimo, fala que eu te escuto.

Com o amigo, como é que tá?

- Com ele zerei os compromisso.

Pendência com ele já não tem.

Eu e o Cunha estamos de bem.

- Ótimo! Então mantenha isso.

  

- Também tô segurando dois juiz

E um procurador da Lava Jato

Agora, presidente, o que me diz

De a gente realizar um novo trato?

Tem um negócio lá no Cade

Que tamos precisando destravar

Geddel tá fora de atividade

Com quem agora nóis pode tratar? 

  

- Tem um deputado, o Rocha Loures

Que é da minha estrita confiança

Já esteve no meu rol de assessores

Conforme a minha música, ele dança 


 

Joesley então despede-se e se manda

Dali corre pra Procuradoria

Dá o grampo e mais em troca de fiança

No acordo que o país sacudiria

  

Ricardo Saud, parça de Joesley,

Entrega mesmo a grana para Loures

Meio milhão vivo, em espécie,

Sob o nariz dos investigadores!

Tudo isso em ação controlada

Só Rocha Loures perdeu o controle

Saiu correndo levando a bolada

O nosso homem da mala, meus senhores!

  

O caso já entrou pro anedotário

Na história dos peões e portadores

Não há registro de intermediário

Mais amador do que o Rocha Loures

O homem deixou lá todas as pistas

Fazendo a festa dos procuradores

Enquanto isso, os irmãos Batista

Manipulavam a Bolsa de Valores

 

O grampo e a delação vieram à tona

E logo chegariam as duas denúncias

Pareceu que Temer beijaria a lona

Cogitou-se que a saída era a renúncia

Ficou tão enrolado com a Justiça

Que a queda parecia o seu destino

O governo fede mais do que a carniça

Encontrada em matadouro clandestino

  

"Enquanto houver bambu, lá vai flecha",

Afirmou Janot sobre o presidente

Porém na delação ficaram brechas

Privilégios aos Batista, especialmente

Joesley, que era comprovadamente

Empresário mafioso, um escroque

Pôde ir viver, impavidamente,

No seu belo apartamento, em Nova York

  

Além disso, apareceram os indícios

De ajuda irregular do MPF

Os Batista receberam o auxílio

De Miller, e Janot era seu chefe!

Temer disse, então, "muito obrigado"

Começou a bradar: "É perseguição!"

O acordo por Janot foi revogado

Ajudando a tese da "conspiração" 

  

Mesmo assim, era forte a narrativa

De Janot, era só seguir a trilha

Para ver a corrupção passiva

Embaraço à Justiça e quadrilha

Só que para os deputados não interessa

O que importa para eles é a eleição

Foi assim que, em julho, foi aberta

A temporada de negociação

  

Em troca de votos favoráveis

Para escapar de um fim amargo

Temer saciou os insaciáveis

Com liberação de emendas e com cargos

"Farinha pouca, eu quero o meu pirão!"

E Temer não se fez de rogado

Estendendo para os cães as duas mãos

Conseguiu centenas de advogados

  

Nesse grande balcão com os seus "sócios"

Quem mais lucrou, com certeza,

Foi a bancada do agronegócio

Que deu as cartas e limpou a mesa

"Que se danem as matas, as florestas

Índios? Que fujam para o mato

Vamos agora é fazer a festa

Pra nós só o que presta é ter pasto"

  

"Para que licenças ambientais?

Para que esse negócio de reservas?

Esse papo ecológico dos enerva

O negócio é expandir nossos currais

E mais: combater trabalho escravo?

Eles têm na verdade é um vidão

Tudo bem, não levam um centavo

Mas ajudam o crescimento da nação"

  

E assim, de trato em trato.

MPs, portarias e decretos

Temer vai causando um impacto

Que para a democracia é funesto

Deputados elevaram o seu preço

E o preço que o país paga é alto

A gaveta foi o endereço

De denúncias com indícios fartos

  

Assim Temer, no seu Parlamento,

De novo se salvou, não teve erro

Também ali fizeram o enterro

De provas vivas, sem constrangimento

O poeta estava certo, agora vê-se

A dúvida, ao fim deste percurso,

É a lançada por Renato Russo:

Afinal, leitores, que país é esse?

Vozes: Vitor Vogas, Vinicius Valfré e Carlos Alberto Silva

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