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Audifax e Rose em união estável

Confira a Coluna Praça Oito desta terça-feira, 28 de novembro


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Audifax Barcelos não confirmou a pré-candidatura ao governo do Estado, no encontro estadual do seu partido, a Rede Sustentabilidade, realizado no último sábado. Mas, enquanto a candidatura do redista segue imponderável, o evento serviu para fornecer ao mercado político uma certeza: no tabuleiro político do Espírito Santo, hoje, Audifax possui lado, e esse lado é o da senadora Rose de Freitas.

Essa constatação conduz a outra: assim como Luciano Huck, Audifax tem agido à maneira de Ulisses e, pelo menos até este ponto da viagem rumo à eleição, não cedeu ao canto das sereias vindo do Palácio Anchieta. A exemplo do herói épico da “Odisseia” em sua viagem de volta à Grécia após a Guerra de Troia, Audifax amarrou-se ao mastro da embarcação, esforçando-se em não se deixar levar “pelos sons dos chamados quase irresistíveis”, como diria Huck. Sons, no caso, emitidos por Paulo Hartung.

Breve contextualização: apesar de ser do PMDB como Hartung, Rose ensaia lançar candidatura ao governo em 2018, desafiando o governador (se este quiser buscar a reeleição) ou quem quer que seja o candidato do Palácio. Para tanto, a senadora já se disse disposta até a disputar a vaga de candidata da legenda em convenção do PMDB, em julho, caso Hartung permaneça no partido. Ao lado de Renato Casagrande (PSB) e Luciano Rezende (PPS), Rose hoje está situada em um bloco de oposição a Hartung do qual devem sair uma ou duas chapas alternativas à do Palácio em 2018. A grande dúvida era: e Audifax, onde se posiciona?

Até o meio do ano, era até natural situá-lo nesse polo de “líderes locais independentes”, por conta inclusive da proximidade nacional entre Rede, PPS e PSB. Mas aí veio o tal “canto da sereia”. Desde meados de agosto, além de intensificar entregas e agendas oficiais em território serrano, Hartung tem realizado uma aproximação política ostensiva com Audifax. Chegou a conduzi-lo no helicóptero do governo para prestigiar o desfile de 7 de Setembro, em Linhares.

As dúvidas foram dirimidas a partir das juras públicas de amor, gratidão e lealdade política trocadas por Audifax e Rose na conferência da Rede. Rose ficou sentada à esquerda de Audifax, de onde ouviu uma profusão de elogios rasgados não só do próprio prefeito como de todos os principais aliados do redista.

Um vereador do interior abriu a sessão de afagos à senadora, “essa figura guerreira que de fato nos atende”. Sentada do outro lado de Audifax, a vice-prefeita da Serra, Márcia Lamas (PSB), superou-se. “É uma senadora que não descansa, a quem a gente deve muito. Receba a gratidão do povo serrano.”

A sintonia foi tal que Audifax se referiu a Rose como se fosse ela uma madrinha ou, mais precisamente, sua protetora política. “Na política, temos que nos proteger. E Rose tem cuidado de mim”, afirmou, destacando a ajuda dela na viabilização de recursos. “Se a gente deve isso a alguém da política, é à Rose. Essas coisas ficam no coração das pessoas.”

Rose, por sua vez, evitou falar em aliança eleitoral com Audifax, mas, no discurso, deu pistas inequívocas: “Desde que nos encontramos, não nos desgrudamos mais”, começou. “Vamos andar juntos pelo Estado!” Notem: Estado, não só a Serra. Politicamente, enfim, os dois estão apaixonados. A questão que fica é: não seria Rose também uma sereia? Seja como for, Audifax parece já ter escolhido seu canto. E ao canto de quem vai ceder.

O lado “bom” da Força

Algumas falas no encontro da Rede, no último sábado, revelaram a semente de um discurso que talvez Audifax e aliados estejam ensaiando para a disputa estadual em 2018: uma coisa meio maniqueísta, de disputa do bem contra o mal. “As pessoas de bem se encontram. Vamos caminhar juntos pelos próximos meses e pelos próximos anos”, disse Márcia Lamas a Rose de Freitas. “Tenho certeza absoluta, Rose, que nós em 2018 estaremos no mesmo lado, num projeto das forças do bem”, ressoou Gustavo de Biase.

Em 1988...

Márcia e a então porta-voz feminina da Rede, Joelma Moraes, recordaram um fato de que poucos se lembram: Rose concorreu à Prefeitura da Serra em 1988.

Alguém acreditou?

No intuito de agradar a Audifax e aos demais redistas, Rose exagerou: “Eu nunca fui a uma convenção partidária. Nunca! Mas desta eu não podia estar de fora”. Para citar um só exemplo, ela esteve na convenção do PSDB em 2014, quando tucanos fecharam aliança com o PMDB para a eleição daquele ano.

Pais e filhas

Também no encontro da Rede, o deputado Bruno Lamas (PSB) anunciou que iria embora mais cedo porque era aniversário da filha, e ele seria o churrasqueiro. Rose fez uma expiação de mãe: “Ouvindo Bruno, quase morri de vergonha. Falta tempo de procurar minha filha. Eu sinto saudade”.

Presente de grego

No artigo em que declarou sua não candidatura à Presidência, Luciano Huck citou a “Odisseia”, de Homero. Poderíamos citar a “Ilíada”. Um projeto liderado por ele era uma incógnita tão grande que poderia tanto representar uma verdadeira renovação como um cavalo de Troia.

CENA POLÍTICA

A sessão da Assembleia desta segunda-feira (27) mais uma vez foi de dar sono, com uma sequência de pronunciamentos muito chatos. O “grande momento” foi quando Enivaldo, presidindo a sessão, chamou para falar na tribuna o compositor Michael Sullivan, autor de mais de 1,8 mil canções – muitas delas feitas para Xuxa, Angélica e para o Trem da Alegria, expressão que marcou a história da Assembleia nos anos 1990. Empolgado, Sullivan cantou, à capela, um sucesso de Tim Maia assinado por ele: “Me dê motiiiiivo / pra ir embora...” Olha, motivo para ir embora da sessão é o que não está faltando.

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