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De Maquiavel para Hartung

Politicamente, PH talvez fosse quem mais queria a ida de Ricas para a Polícia Federal, por tudo o que isso representa de positivo para ele


Foto: Amarildo

Em “O Príncipe”, de Maquiavel – obra que, reza a lenda, o governador Paulo Hartung “engoliu” –, o pensador florentino dirige vários ensinamentos ao governante Lourenço de Médici. No Capítulo XXII, “Dos ministros que os príncipes têm junto a si”, o fundador da ciência política explica ao príncipe de Florença a importância de se cercar dos melhores colaboradores, pois sua própria imagem só tem a ganhar com isso.

“Não é de pouca importância a um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, segundo a prudência do príncipe. E a primeira conjetura que se faz do cérebro do príncipe é vendo os homens que ele tem em volta de si; e, quando são capazes e fiéis, sempre se pode reputá-lo como sábio, porque soube reconhecer as suas capacidades e mantê-los fiéis. Porém, quando são de outro modo, sempre se pode fazer dele um juízo não bom, porque o primeiro erro que faz, o faz nessa escolha.”

No anúncio feito na tarde de ontem (13), Hartung e o novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando Segóvia, praticamente disputaram quem desfiava mais elogios ao trabalho do secretário estadual de Controle e Transparência, Eugênio Ricas, futuro diretor de Investigações e Combate ao Crime Organizado da PF e comandante da Lava Jato. Hartung, é claro, surfou na onda e buscou capitalizar politicamente a nomeação, que vem muito a calhar justamente num momento em que ele volta a propulsionar sua participação no cenário da política nacional e da sucessão presidencial.

Desse ponto de vista, a ida de Ricas para a alta cúpula da PF não poderia ter vindo em melhor hora para o governador. Por isso o anúncio, mesmo confirmando o que já era certo, foi transformado em um grande fato positivo pelo e para o próprio governo Paulo Hartung. E de certo modo não deixa de ser. Afinal, mais uma vez, um secretário de Estado escalado por Hartung e com proeminência em sua equipe é “puxado” para exercer cargo de protagonismo em dimensão nacional. Exageros à parte, é legítimo que Hartung colha parte dos louros pela escolha. Não deixa de ser “uma conjetura positiva sobre o cérebro do príncipe”.

O mesmo ocorreu em maio de 2016, quando a então secretária estadual de Fazenda, Ana Paula Vescovi, foi nomeada por Michel Temer, então presidente em exercício, para chefiar o Tesouro Nacional. Não foi coincidência, a propósito, que Hartung tenha feito questão de lembrar o caso de Ana Paula ontem, colocando-a na mesma frase ao lado de Ricas. Assim como fez com sua ex-secretária da Fazenda, o governador deu ao delegado da PF cedido todas as oportunidades de se destacar em sua equipe de governo. E Ricas não desperdiçou as chances, realizando um trabalho decente, reconhecido por órgãos nacionais e respeitado até por colegas de governo pela retidão e pelo viés técnico.

Méritos dele, é lógico. Assim como é por seus próprios méritos que ele agora recebeu o convite do novo diretor-geral da PF – sem ignorar o bom relacionamento e a experiência pregressa sob o comando de Segóvia, como braço-direito dele na Superintendência da PF no Maranhão, entre 2009 e 2011. Quais são os méritos de Hartung então nesta história?

Certamente não é o de ter tido a “grandeza” de “liberar” seu secretário para uma missão maior, compreendendo a necessidade de, neste momento, colocar o interesse maior do país acima do planejamento específico de seu governo. O próprio termo “liberação”, repetido por Hartung, Ricas e pelo próprio Segóvia, contém um certo jogo de cena, uma valorização exagerada. Tecnicamente, não há que se falar em “liberação”, mas de uma exoneração a pedido, como a de qualquer outro comissionado no governo que queira partir para outro desafio.

Na verdade é o contrário: Ricas é servidor de carreira cedido ao governo desde 2013, logo era a PF quem o mantinha liberado para atuar no Executivo estadual. Havia um convite, confirmado por Ricas, que também confirmou sua vontade de aceitar o convite. Ou seja, Segóvia queria que ele fosse. Ricas, por sua vez, queria ir. Que poder o governador teria de impedi-lo? Nem se quisesse. Mas o ponto é exatamente este: politicamente, PH talvez fosse quem mais queria o retorno de Ricas "por cima" à Polícia Federal, por tudo o que isso representa de positivo para ele, em termos de reconhecimento indireto, como formador de grandes equipes.

Ou seja, os méritos pela “subida” de Ricas para o comando da Lava Jato são todos do próprio secretário. Mas, por tabela, Hartung tem reconhecida a sua capacidade de enxergar potencial em colaboradores, escalá-los para as posições corretas e se cercar de pessoas capacitadas nas respectivas áreas. Exatamente como ensina Maquiavel, de quem Hartung assimilou esta e outras lições.

Pai Capixabão

O novo diretor-geral da PF surpreendeu a todos, inclusive a Hartung, ao revelar que seu pai é capixaba. E mais: o pai de Segóvia teria jogado futebol no time da Desportiva Ferroviária! Mais capixaba que isso, só se ele tiver sido coroinha no Convento da Penha…

Moqueca Capixabona

Cardápio do almoço entre Fernando Segóvia, Eugênio Ricas e Paulo Hartung no Palácio Anchieta: moqueca de badejo. Informação, literalmente, da cozinha palaciana.

“Os Estados Unidos”

O governador PH esteve na Carolina do Sul (terra de Frank Underwood, do seriado “House of Cards”), no início do mês. No próximo domingo, voltará aos EUA, para participar de encontro na prestigiosa Universidade de Yale, New Haven. A título de curiosidade, na eleição do comando estadual do PSDB, no último sábado, Luiz Paulo Vellozo, aliado de Max Filho na chapa derrotada por César Colnago, afirmou que eles estavam enfrentando “os Estados Unidos”.

Falando em Luiz Paulo

O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), entregou ontem o cargo ao presidente Temer. Mas, pelo menos por enquanto, Luiz Paulo continua na equipe do ministério, onde é secretário nacional de Desenvolvimento Urbano, agora sob o comando do ministro interino, o secretário executivo Marco Aurélio. “Ele e toda a equipe permanecem dando sequência nos trabalhos”, disse o tucano capixaba.

Voltando a Hartung

O governador Paulo Hartung e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, reúnem-se hoje, em Brasília, com o presidente Temer. Os três peemedebistas vão discutir a construção de uma ferrovia entre os dois Estados. Mas é possível que a conversa resvale na eleição presidencial.

Terça (hoje) tem mais

Na última quarta, em São João da Barra (RJ), Pezão disse as seguintes palavras diante de Hartung e de uma plateia de empresários: “Tenho certeza que o Paulo não pode ficar só no Espírito Santo. Eu venho cutucando ele ali, mas ele sempre deixa para os 48 do 2º tempo. Terça vou ter oportunidade de cutucar mais ele ainda”.

Cena Política

O chefe da Casa Civil, Paulo Roberto, estava no gabinete de Hartung durante o anúncio da nomeação de Ricas para comandar a Lava Jato. Indagamos se ele iria assumir a Secretaria de Controle e Transparência, deixada por Ricas. Ele negou. “E para a PF, secretário, o senhor também vai?”, perguntamos, brincando. “Não, não... Eu sou PRF: Paulo Roberto Ferreira.”

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