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Hartung e Casagrande se aproximam... nos discursos

Confira a coluna Praça Oito deste sábado, 02 de dezembro


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Na política capixaba, os dois hoje são arquirrivais, estão em lados opostos do tabuleiro eleitoral, podem voltar a se enfrentar na disputa ao governo em 2018 e têm muito poucas semelhanças. Mas, na retórica política, as mensagens que Paulo Hartung e Renato Casagrande têm transmitido ultimamente possuem mais de um ponto em comum. Aliás, os discursos de ambos estão mais parecidos do que talvez eles próprios gostariam de admitir. O mesmo vale para as linhas mestras das mensagens das propagandas institucionais do governo e aquelas do PSB.

Com ligeiras variações individuais, o que tanto Hartung como Casagrande estão dizendo pode ser condensado no seguinte mote: é preciso cuidar não só das finanças, mas também (e sobretudo) das pessoas. O discurso de ambos é uma junção de responsabilidade fiscal com desenvolvimento social, na linha de que a primeira é o que viabiliza o segundo e só faz sentido se estiver a serviço do segundo. Ou: “De nada adianta equilíbrio fiscal se isso não gerar os investimentos sociais de que as pessoas precisam”. Ou, ainda: “responsabilidade fiscal é o que assegura a responsabilidade social”.

As semelhanças são confirmadas em um breve levantamento feito pela coluna das últimas inserções partidárias do PSB protagonizadas por Casagrande e de alguns dos mais recentes discursos e entrevistas concedidas por Hartung.

No fim de março, Casagrande apareceu em cena nas vinhetas do PSB defendendo os seguintes princípios: “Participação popular, diálogo permanente, responsabilidade fiscal com promoção humana, justiça social. É nisso que o PSB acredita”. O locutor assinou a inserção com o seguinte slogan: “Gente em primeiro lugar. Isso tem a cara do PSB”.

Entre outubro e novembro, novas vinhetas do PSB foram ao ar, com o ex-governador no vídeo: naquela sobre saúde, o próprio Casagrande concluiu: “Cuidar das pessoas. Esse é o jeito de governar do PSB”. Em outra, sobre segurança pública, o socialista defendeu feitos de sua gestão: “Em quatro anos, resgatamos a autoestima das forças policiais, alcançamos a menor taxa de homicídios dos últimos 22 anos”. E, mais uma vez, refletiu: “O momento é difícil e exige o comprometimento com a vida das pessoas”.

“Cuidando das contas e das pessoas” é justamente o mais novo slogan de peças publicitárias do governo. Em comercial de um minuto que tem sido veiculado, o apresentador afirma: “A gente vê um governo diferente, organizado com as contas e que cuida das pessoas. A gente vê um presente e um futuro. A gente vê um Estado melhor. Este é o Espírito Santo que a gente vê dando certo.”

Em entrevistas e pronunciamentos, o governador tem mantido discurso na mesma linha. “O Espírito Santo se destaca como um Estado organizado, mas um Estado que, mesmo diante da crise, está inovando em políticas públicas”, disse, no dia 6 de novembro, à CBN Vitória.

Já na última quarta-feira, no seminário “Cenários Político e Econômico 2018”, Hartung discursou: “Em plena crise, nós estamos cuidando das contas, sim, e tenho muito orgulho de dizer: eu tenho um timão cuidando das contas, deve ser o Estado que melhor cuida das contas, mas cuidando das contas para poder cuidar das pessoas, dos capixabas, melhorando a vida do nosso povo com políticas públicas em toda área”, disse o governador, citando programas como Escola Viva, Pacto pela Aprendizagem, Ocupação Social, Rede Cuidar e Reflorestar.

E prosseguiu: “Poderíamos ficar aí no blablablá da desculpa de que estamos em crise e já estamos fazendo muito em manter as contas equilibradas. Não fomos nessa narrativa porque não acreditamos nela. Até porque contas organizadas só valem se for para chegar na vida das pessoas e mudar positivamente a vida dos nossos irmãos e irmãs”.

Observação

 

 

É claro que muitos, a começar pelos dois protagonistas desta coluna, negarão que haja qualquer semelhança entre ambos. PH certamente diria que a gestão de Casagrande foi marcada por desequilíbrio fiscal. Casagrande diria que PH tem “outro padrão de comportamento político” e que falta ao atual governo sensibilidade social. Não entraremos neste mérito. Trata-se apenas de mostrar que, pelo menos no discurso, os dois acabaram se encontrando e hoje estão praticamente na mesma modulação.

Alfinetadas

 

 

A propósito, semelhanças à parte, os dois continuam sem deixar passar uma oportunidade de alfinetar o adversário. Na última propaganda partidária do PSB, Casagrande insinuou que o adversário carece de capacidade de diálogo.

Diálogo

 

 

“Como se resolve isso (problemas na segurança)? Dialogando com a sociedade. Isso é igual na casa da gente: se o pai e a mãe não conversam com os filhos, a desordem se instala. Dialogando com as instituições. É preciso manter e ampliar programas na administração que ofereçam oportunidades às pessoas, gerenciando um Estado Presente na prevenção e no controle da violência. Esse é um trabalho que não pode ser terceirizado.”

Rombo nas contas

 

 

Hartung, por sua vez, lembrou, na última quarta-feira, em discurso durante um seminário, dos déficits fiscais do governo Casagrande em 2013 e 2014. “Herdei duas execuções orçamentárias trágicas: em 2013 o Estado gastou quase R$ 1 bilhão a mais do que arrecadou, um rombo nas contas. Em 2014 a conta evoluiu para mais de R$ 1,4 bilhão. Rompemos com dois déficits bilionários e produzimos equilíbrio fiscal nas terras capixabas.”

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