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"Conto os dias sem o Gerson", desabafa Rita Camata

Em homenagem a ex-governador, viúva diz que passa os dias com os netos, em quem tem encontrado forças. "Estou reclusa. Ainda não estou forte o suficiente"

Publicado em 19/09/2019 às 10h19
Atualizado em 19/09/2019 às 15h35
Rita Camata, ao lado dos filhos, Bruno e Enza, no enterro do ex-governador. Crédito: Carlos Alberto Silva
Rita Camata, ao lado dos filhos, Bruno e Enza, no enterro do ex-governador. Crédito: Carlos Alberto Silva

"Conto os dias sem ele", disse Rita Camata, emocionada e com a voz embargada, em conversa com a coluna, na tarde desta quarta-feira (18), sobre a perda do marido, Gerson Camata. E conta mesmo. Cada dia. "São 273", completa ela, provando que não é só força de expressão. "Eu me lembro dele em todos os instantes, desde a hora em que acordo até a hora em que durmo."

A contagem de Rita começou na trágica tarde de 26 de dezembro de 2018. Nessa data, o ex-governador Gerson Camata, casado com Rita desde o início dos anos 1980, foi friamente assassinado pelo seu ex-assessor Marcos Venicio Moreira Andrade, o Marquinhos, em frente a um bar, em uma movimentada rua da Praia do Canto. A viúva de Camata conta que ainda tenta encontrar forças para enfrentar o dia a dia sem o marido. "Ainda não me sinto forte o suficiente."

O desabafo da ex-deputada federal foi feito durante a maior homenagem feita a Gerson Camata desde o seu assassinato. Na tarde desta quarta-feira, em concorrida solenidade no Salão Nobre do Palácio Anchieta, o governador Renato Casagrande (PSB) sancionou a lei, proposta pelo deputado Marcelo Santos (PDT), que dá ao "Viaduto do Príncipe", na Segunda Ponte, o nome de "Ponte Governador Gerson Camata".

Para superar a dor e a passagem dos dias, Rita tem encontrado força na família, principalmente nos dois netos pequenos, filhos de sua filha, Enza, com quem tem passado a maior parte do tempo: Rafaela, de dois anos, e o recém-nascido Enrico.

Falando em passagem do tempo, Rita também conta, no momento, os dias de vida do caçula da família Camata: Enrico nasceu há 14 dias.

Os dois netinhos não terão memórias do avô Gerson. Enrico nem sequer chegou a conhecê-lo. 

No momento mais emocionante de seu pronunciamento durante a solenidade, Rita lamentou precisamente o fato de que os netos não tiveram a chance de conhecer o avô.

"Ele [Gerson] se foi sem saber da existência do Enrico. E a maior paixão da vida dele era a Rafaela. A Enza agora está cuidando dos dois netinhos. E eu, por extensão, estou tentando cobrir um pouco essa ausência. Eles não terão registro nenhum do avô deles." 

Rita Camata, ex-deputa federal e viúva de Gerson Camata

Não quero ser escrava de netos, mas quero transmitir a eles o amor, o carinho e o exemplo que Gerson não vai poder deixar para os seus netos

Rita também é mãe de Bruno Camata, atualmente morando e estudando em São Paulo.

"NÃO TINHA IDEIA DE QUE SERIA TÃO DIFÍCIL"

No seu breve discurso, Rita também afirmou: "Após quase 40 anos de convivência, eu não tinha ideia de como seria difícil conviver com a ausência".

Rita mencionou que tem recebido muito apoio e reconhecimento a Gerson Camata por meio de mensagens e homenagens como aquela, mas confessou:

"São vários eventos que estão acontecendo. Tenho certa dificuldade de sair. Estou reclusa. Eu tenho feito o essencial, que é supermercado, que é ir ao médico, cuidar dos meus netos, levá-los à escola, buscar. Hoje fiz questão de vir aqui fazer esse agradecimento. Mas eu de fato não me sinto ainda forte o suficiente para poder participar de todos os eventos. Mas tenho a grande certeza de que Gerson, onde quer que ele esteja, está bem e está em paz, sabendo do legado que ele aqui deixou, de realizações, de uma pessoa íntegra, honesta".

"ELE PARECIA UM MENINO. TINHA MUITA VONTADE DE VIVER"

Destacando o quanto Gerson Camata era alegre, Rita revelou que, na verdade, apesar de ser mais velho, era ele quem a convencia a sair de casa. "Ele sempre foi muito pra cima. Já acordava cantando, assoviando. Sempre foi uma pessoa muito alegre, contando piada, cantando. E eu sempre fui uma pessoa muito pra baixo. Então ele sempre foi essa pessoa: 'Vamos sair! Vamos sair!'. Mesmo com a diferença que nós tínhamos de idade, ele parecia um menino, com a disposição que ele tinha. Sua vontade de viver era muito grande."

ENTREVISTA

No seu discurso, a senhora se emocionou ao falar de Gerson Camata e se lembrar do seu marido. Qual é a lembrança mais forte que fica hoje dele e como tem sido passar esses dias sem ele?

Olha, são 273 dias sem Gerson. Não é brincadeira, não.

A senhora está contando os dias?

Sim. E me lembro dele em todos os instantes, desde a hora em que acordo até a hora em que durmo. Tenho ocupado o meu tempo com os meus netos, que estão lá comigo. Isso tem sido muito bom. Mas a ausência é uma coisa muito difícil. Sinto que ele está presente, que tem me dado força em alguns momentos mais difíceis nesse período. Mas a ausência dói, dói. A gente sofre de uma forma, assim, que não tem como descrever. O tempo e o conforto da família e dos amigos vão, de certa forma, amenizando. Mas não acaba.

Qual a sua expectativa com relação ao caso de Marquinhos na Justiça?

Eu só espero justiça e que a justiça seja feita o mais breve possível.

Há alguma possibilidade de a senhora voltar à política?

Não. Hoje a minha única preocupação é não me tornar avó 100%, só avó, porque eu estou num momento de ajudar a minha filha [Enza], de estar junto com os meus netos… Isso tem sido muito importante.

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