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Hoje conto-lhes a história de uma moça
Explorada e de grandes lucros fonte
Seu nome de guerra: Terceira Ponte
O civil: Darcy Castello de Mendonça
Uma história que é dela e que é nossa
Mas deixemos que ela mesma nos conte:
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“A minha gestação foi bem extensa
E o custo para o erário foi bem caro
Onze anos para que eu fosse suspensa
Até a inauguração, com Max Mauro
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O projeto era, então, audacioso
Dimensão proporcional à ambição
Mais de três quilômetros de extensão
E um design visualmente majestoso
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Todavia a construção de tal portento
Atendia a grande necessidade:
Comportar o galopante crescimento
Já então vivido em nossas cidades
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Lá pelos idos dos anos oitenta,
A travessia era muito lenta
E vila-velhenses, para ir a Vitória,
Tinham de cumprir bem longa trajetória
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Logo após minha abertura, fiz sucesso
Cheguei como a solução imprescindível
A evolução de fato foi visível
Quanto à facilidade do acesso
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E houve até muitos canelas verdes
Que, ao verem ali tão perto o Convento,
Tenham feito preces de agradecimento
Pelo fim de tanto estresse e sofrimento
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Existia um probleminha, porém:
Cheguei com a cobrança de um pedágio
Mas o povo achou então que tudo bem
Se era o preço por um trânsito mais ágil
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Após tantos anos, quanta diferença!
Conservo a pujança, a altivez
Mas a ilusão do início se desfez
E mergulhei em funda decadência
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Hoje sou moça crescida, mulher feita
Mantenho aquela mesma aparência
Mas faz tempo que perdi a inocência
Pois me transformei em fonte de receitas
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Enquanto nunca chegam alternativas
O povo, que também não é mais criança,
Tomou as ruas e a iniciativa
Reivindicando o fim da cobrança
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Tudo foi parar no Tribunal de Contas
Onde a auditoria inicial
De fato, como se pensava, aponta
Valores bem acima do normal
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Esse relatório só preliminar
Fez o governo então, de imediato,
Suspender o polêmico contrato
Para o meu pagamento terminar
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Porém isso está longe do final:
Houve ainda algumas reviravoltas
E, por nova decisão judicial,
A cobrança do pedágio fez sua volta
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Para muitos, na verdade, estou paga
E enquanto isso se arrasta na Justiça
O povo, como sempre, é quem arca
Com o pagamento desta ex-noviça
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Minha novela pessoal não é um plágio
Do notório escritor colombiano
E espero que não tarde mais cem anos
Uma solução pra história do pedágio
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Hoje acabo de fazer aniversário
Virei dama de livro balzaquiano
Trinta anos nem um pouco solitários
Que me venham muitos e melhores anos”
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Epílogo
“Agora o governo anuncia
Até ciclovia beijando o céu
Mais duas faixas e mirante, quem diria!
Só espero que isso saia do papel...”
Interpretação: Patrícia Galleto
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