Jornalista de A Gazeta desde 2008 e colunista de Política desde 2015. Publica aqui, diariamente, informações e análises sobre os bastidores do poder no Espírito Santo

Mortes no trânsito superam homicídios no ES em junho e julho

Enquanto assassinatos dolosos não param de cair, número de vítimas fatais em acidentes não para de subir, chamando a atenção para outro tipo de violência

Publicado em 23/09/2019 às 16h02
Atualizado em 24/09/2019 às 02h54
Lucas Sampaio, 24 anos, morreu em acidente na Praia do Canto. Crédito: Vitor Jubini/Reprodução/Instagram
Lucas Sampaio, 24 anos, morreu em acidente na Praia do Canto. Crédito: Vitor Jubini/Reprodução/Instagram

“Mais uma vida jogada fora. Um coração que já não bate mais. Descanse em paz. Sonhos que vão embora, antes da hora. Sonhos que ficam pra trás.”

Esses são os versos iniciais de “Pra Onde Vai?”, um dos mais bonitos raps do repertório de Gabriel O Pensador, lançado no álbum “Quebra Cabeça” (1997). Na canção, o rapper se refere a um garoto que é “mais uma vítima de um mundo violento”. Perdi as contas de quantas vezes ouvi esse rap e nunca duvidei: esse jovem, implicitamente, morreu por arma de fogo, vítima de latrocínio, bala perdida ou algo assim. Nesta segunda, pela primeira vez, considerei: e se ele na verdade morreu em um acidente de trânsito?

Sim, seria perfeitamente plausível. As mortes violentas no trânsito são outra faceta clara deste nosso “mundo violento” e já rivalizam com o crime comum em número de vítimas. Tanto as notícias como as estatísticas não deixam dúvida quanto a isso.

P. 10, 23/09/2019. Crédito: Jornal A Gazeta
P. 10, 23/09/2019. Crédito: Jornal A Gazeta

O volume de mortes no trânsito se reflete na paridade dada pela imprensa à cobertura de acidentes como esses e à de crimes dolosos. Na edição de ontem de A Gazeta, a editoria de Cidades dedicou uma página inteira para reportar quatro acidentes de trânsito com vítimas fatais no ES, incluindo os dois acima mencionados.

P. 11, 23/09/2019. Crédito: Jornal A Gazeta
P. 11, 23/09/2019. Crédito: Jornal A Gazeta

Foi o mesmo espaço ocupado, na página seguinte, pelo resto do noticiário policial: tiroteio com mortes após discussão em baile funk em Vitória e execução de pai e filho, possivelmente ligada a dívida com o tráfico de drogas, em Vila Velha.

A gravidade crescente do problema da mortalidade no trânsito também desponta dos números oficiais. Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública, nos meses de junho e de julho, o número de vítimas fatais no trânsito superou o de vítimas de homicídios dolosos (intencionais) no Espírito Santo. Ou seja, nesses dois meses, houve mais mortes no trânsito do que assassinatos dolosos em todo o Estado.

Em junho, foram 69 mortes no trânsito, ante 58 homicídios dolosos. Em julho, 65 pessoas morreram no trânsito, contra 62 vítimas de homicídios dolosos.

No acumulado dos sete primeiros meses do ano, os números também se aproximam. Até julho, houve 560 assassinatos no Espírito Santo e 467 mortes no trânsito. Significa que, para cada 100 pessoas assassinadas intencionalmente no território capixaba, 83 perdem a vida no trânsito.

Outra conclusão: enquanto o número de homicídios no Espírito Santo tem caído, o de mortes no trânsito está em curva ascendente. De janeiro a julho deste ano, a quantidade de óbitos no trânsito cresceu 11,7% na comparação com o mesmo período de 2018, enquanto o índice de assassinatos caiu 17,1%.

A conclusão incontornável: se essa tendência se mantiver, em breve as duas linhas se encontrarão no gráfico e teremos mais mortes violentas no trânsito, por ano, que homicídios dolosos.

Esta é a Semana Nacional do Trânsito. Amanhã temos o Dia Nacional do Trânsito. Ótima oportunidade para reflexão por parte das autoridades e dos condutores. Direção, impunidade e imprudência formam um coquetel destrutivo, mais ainda quando acrescidos de bebidas alcoólicas.

Se motoristas não se conscientizarem e punições a crimes de trânsito não forem endurecidas, vidas, como diz O Pensador, seguirão sendo jogadas fora e sonhos, indo embora precocemente e sendo sepultados com seus donos.

ERRATA 

Completando informações da coluna da última sexta, sobre a governadora em exercício, Jaqueline Moraes, o governo de Renato Casagrande tem outro membro do alto escalão que é negro: o coronel Jocarly Martins de Aguiar Junior. Como chefe da Casa Militar, ele tem status de secretário de Estado.

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