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Parque Tecnológico misto ou não?

Parque Tecnológico misto ou não?

Em análise no novo PDU de Vitória, a criação do Parque Tecnológico na região de Goiabeiras gerou discussões entusiasmadas nos últimos dias com a possibilidade de empresas e residências compartilharem o mesmo espaço

Publicado em 24 de março de 2018 às 02:05

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Conectado às demandas da cidade

Davi Esmael - é vereador, presidente da Comissão de Políticas Urbanas da Câmara de Vitória e relator do projeto de lei do novo PDU

Como vereador, posso dizer que participei ativamente de praticamente todo o processo de debates e construção do novo Plano Diretor Urbano (PDU) de Vitória. Pude ouvir muitas sugestões e críticas sobre cada um dos temas e percebi que foi realmente necessário um longo tempo de discussão para que algumas ideias fossem esclarecidas.

O embate entre as opiniões a respeito do Parque Tecnológico de Vitória acabou trazendo à tona uma proposta de mudança no plano original que, a meu ver, é fantástica e explicarei o motivo.

Defendo o Parque Tecnológico porque tem potencial de sediar a nova matriz econômica da cidade. As empresas que futuramente serão instaladas formam um setor lucrativo, voltado para o conhecimento, de economia limpa, que precisa ser estimulado. No ano passado, visitei o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), onde funciona um polo de inovação, formação profissional e geração de renda para o município.

Querer o mesmo para Vitória não me opõe ao desejo de grande parte dos moradores da região de Goiabeiras, que optaram por um meio termo, do uso residencial conjugado com o funcionamento do setor de tecnologia.

A proposta apresentada pela Associação de Moradores mostra-se razoável por trazer preocupações com o desenvolvimento de todo o entorno em que o polo estará inserido. Tais como o esvaziamento da área fora do horário comercial e a possível expulsão de moradores por conta da ganância do poder econômico. Além disso, os prováveis transtornos causados pelo fluxo diário de profissionais para dentro e fora do parque, caso não seja dada a possibilidade de morarem num local próximo.

Preocupações que encontram eco na avaliação de especialistas. Pedro Henrique Negreiros, arquiteto e urbanista formado pela Ufes e mestre em planejamento e gestão territorial (UFRJ), é defensor do uso misto como forma de combater o isolamento de áreas da cidade.

Ele argumenta que o urbanismo inteligente conecta os espaços através da presença de moradia, transporte, trabalho e serviços em todas as áreas, diminuindo os deslocamentos dentro do espaço urbano.

Por fim, a emenda ao projeto de lei do PDU traz contrapartidas que favorecem as empresas interessadas. Uma delas é que a criação de empreendimentos imobiliários no local estará vinculada à execução de projetos voltados à tecnologia, sendo um impulso para que o parque finalmente saia do papel. E a liberação de altura de prédios (potencial construtivo) no loteamento compensarão integralmente as perdas em área.

Acredito, sinceramente, que o Parque Tecnológico de Vitória será um centro agregador de boas ideias que, ao final, trarão benefícios para o coletivo. Não queremos permitir que algo tão bom seja inviabilizado por interesses egoístas, de qualquer lado.

Uma ilha tecnológica ou cidade dormitório?

Luciano Raizer Moura  - é doutor em Engenharia de Produção, Presidente do Sindinfo (Sindicato das Empresas de Informática do ES)

Nesses tempos de discussão do PDU de Vitória, uma questão que ganhou muito destaque foi o Parque Tecnológico. Foi tema quente nos debates na eleição municipal passada se o parque seria no Centro ou em Goiabeiras, como planejado há muito tempo.

Ocorre que essa discussão não é nova, vem da década de 90, quando o professor Álvaro Abreu apresentou a proposta. Passaram-se 26 anos para iniciar a primeira construção, um prédio público, que é o Centro de Inovação. Mas, surge uma forte ameaça: a área reservada será exclusiva para empresas ou permitirá residências? Eis o tema em questão.

Vamos entender o conceito. Um parque tecnológico “é um complexo produtivo industrial e de serviços, de base científico-tecnológica, planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque” (Anprotec). Na essência, é um conjunto de empresas que desenvolve tecnologia. Conjunto de residências é bairro.

Em todos os momentos da discussão do PDU, a região do parque foi definida como exclusiva para empresas: no projeto da Fundação Certi, no Conselho do PDU e, por fim, no Encontro da Cidade. Recentemente, quando a Câmara de Vereadores fez a consulta pública, surgiram propostas de alteração para que essa região permitisse também residências.

A área em questão é muito pequena, de 330 mil m2. Metade da área é pública e está sendo questionado na Justiça. Um terço é um matagal, sem infraestrutura, sobrando cerca de 60 mil m2 que é um loteamento privado, que teve apoio para ser regularizado e virar parque tecnológico. Da área total, apenas 18% têm condições de receber edificações. Se essa área, que é pequena, for destinada a residências, perde o foco e fica desinteressante para empresas, que poderão buscar outras localidades.

Enquanto discutimos se o parque é importante ou se vai ter empresas ou casas, o mundo vem se transformando com a tecnologia. São mais de 100 parques tecnológicos espalhados pelo país e nenhum no Espírito Santo. Uma cidade em especial, Florianópolis, virou ícone da tecnologia e inovação. Tem mais de 900 empresas de tecnologia que empregam mais de 17 mil pessoas. Nos últimos 5 anos, Vitória perdeu mais de R$ 520 milhões de receita e Florianópolis aumentou em R$ 321 milhões. Vitória perdeu 15% de pessoas empregadas em tecnologia, indo para outros centros, enquanto Florianópolis aumentou em 24,5% o número de empregos em tecnologia (Fonte: Ideies).

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Vale lembrar que Vitória não tem área para indústria ou agronegócio, e precisa recuperar receitas, que vêm dos tributos pagos por empresas de serviços. Uma alternativa é criar condições para o surgimento ou atração de empresas de tecnologia. Para isso, eis a necessidade do parque tecnológico. Enquanto isso, nós discutimos se o parque deve ter casa! Eis a questão: Vitória será cidade dormitório ou uma ilha tecnológica com geração de emprego e renda? A escolha da Câmara de Vereadores definirá o futuro da cidade.

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