> >
Árbitro de vídeo melhora o futebol?

Árbitro de vídeo melhora o futebol?

Uso de tecnologia para auxiliar juízes nas partidas de futebol é tendência mundial. Mesmo que as câmeras possam ajudar a decidir uma partida, o custo de implantação do sistema ainda é uma barreira para os times

Publicado em 7 de abril de 2018 às 01:08

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

PASSOU DA HORA!

 Wallace Valente é ex-árbitro da Fifa e secretário municipal de Esportes e Lazer de Vitória 

Desde que o mundo conhece o futebol é que existem as polêmicas e rivalidades em torno deste jogo que encanta e atrai multidões por todo o planeta. Na medida em que a modalidade foi ficando mais popular, as disputas foram crescendo e houve a necessidade de um mediador para decidir sobre os lances mais discutíveis. Surgiu, então, no século XIX, mais precisamente em 1868, a figura do árbitro, que inicialmente só intervinha quando uma das equipes questionavam algum lance. O apito só começou a ser utilizado dez anos depois, em 1878. Em seguida, vieram os assistentes e a necessidade de regras mais claras.

O futebol foi evoluindo e as regras se aperfeiçoando: as linhas de marcação do campo de jogo, tempo de jogo, pênalti, impedimento e os reais poderes e deveres do árbitro acompanharam esse desenvolvimento. Com isso, o juiz de futebol tornou-se o personagem fundamental nas partidas, pois suas decisões passaram influenciar diretamente nos resultados dos jogos. Os torneios e campeonatos foram tomando proporções gigantescas. Competições regionais, estaduais, nacionais e a primeira Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai, marcaram o inicio de uma nova era e o futebol passou a ser o esporte mais popular do mundo. Com isso, vieram também os altos investimentos por parte de grandes empresas interessadas na grande visibilidade que o esporte passou ter.

Aspas de citação

“Tira-teima, repetições em câmera lenta e câmera do impedimento mostram com detalhes de segundos aquilo que para um ser humano, no caso o árbitro, é impossível observar”

Aspas de citação

Os jogos passaram a ser transmitidos pelas televisões. Os recursos foram aumentando e as cobranças sobre o árbitro também: não se admitiam mais erros, pois são milhões que estão em jogo, literalmente. Cada erro representa prejuízos enormes e a fúria de milhares de torcedores apaixonados. Tira-teima, câmera do impedimento e repetições em câmera lenta mostram com detalhes de segundos aquilo que para um ser humano, no caso o árbitro, é impossível observar. Há partidas, e eu sou testemunha disso, em que tem 18 câmeras vigiando cada lance do jogo. As cobranças sobre os árbitros só aumentaram a pressão naquele que é o único e que ainda é amador em um sistema extremamente profissional e comercial. Aumentam as exigências com a preparação física, diminuem a idade limite para o árbitro poder atuar, fazem testes absurdos como colocar dois árbitros dentro de campo, árbitros atrás dos gols e as polêmicas lá do século XIX permanecem, agora com provas incontestáveis das imagens de TV.

A decisão da Fifa de autorizar a utilização do árbitro de vídeo foi acertada. Não é justo que enquanto milhões assistem pela TV se uma bola entrou ou não, por exemplo, que aquele que tem a tarefa de tomar tal decisão também não possa recorrer a recursos que trazem mais justiça no resultado final do jogo. Cabe esclarecer que a utilização do árbitro de vídeo não implica em paralisações excessivas, pois será feita somente em lances cruciais como, por exemplo, se um gol foi conquistado de forma irregular, pênaltis e expulsões. No mundo tecnológico em que vivemos, o árbitro de vídeo é um recurso muito bem-vindo. A magia do velho e bom futebol não reside nas polêmicas e discussões, e sim nos dribles, jogadas de efeito, golaços e, sobretudo, na justiça do resultado.

INVIÁVEL PARA O FUTEBOL BRASILEIRO

 Pedro José de Almeida Firme | Diretor administrativo e financeiro da Associação Desportiva Ferroviária 

Muito cobrado pelos torcedores, principalmente quando seus times são prejudicados por erros de arbitragem, a implantação do árbitro assistente de vídeo, o Video Assistant Referee (VAR), esbarra no Brasil na realidade econômica do futebol brasileiro.

A discussão ainda não chegou aos clubes do Espírito Santo e, por isso, não podemos neste momento afirmar se a Desportiva Ferroviária é contra ou a favor do Video Assistant Referee. Entretanto, é certo que a implantação da tecnologia seria inviável no Estado, caso os clubes precisem arcar com os custos, já que o valor gira em torno de R$ 26,3 mil por partida, de acordo com o orçamento levado para votação sobre o Campeonato Brasileiro da Série A.

O sistema pode estar próximo de ser implantado na elite nacional, apesar de ter sido vetado para a edição deste ano. Porém, o mesmo não seria possível para os clubes das demais divisões, ou seja, de médio e pequeno porte.

A Desportiva Ferroviária é gigante, mas sua realidade financeira é complicada, com muitas dívidas proporcionadas por antigas gestões e por seu passado de Desportiva Capixaba, oriunda de uma péssima parceria que foi o divisor de águas da história do clube.

O custo do VAR por partida, por exemplo, é superior ao das parcelas mensais de R$ 20 mil do Ato Trabalhista, que uniu onze processos que bloqueavam as contas do clube e somavam R$ 1.066 milhão de dívidas, reduzidas para o valor de R$ 728 mil, parcelado em 40 vezes. A Tiva conseguiu pagar as três primeiras parcelas, mas com muitas dificuldades. Por isso, busca apoio de patrocinadores e de seus torcedores para continuar cumprindo com o acordo.

É necessário também observar o borderô dos jogos do futebol capixaba, que muitas vezes dá negativo, após serem descontadas as despesas listadas no Boletim Financeiro da Federação de Futebol do Espírito Santo e o quadro móvel do clube, que são outras despesas que o mandante tem com segurança, organização e realização da partida.

Portanto, embora entendendo que um erro de arbitragem possa causar grande prejuízo financeiro ao clube, no modelo atual, não vislumbramos a implantação do VAR no futebol capixaba, a curto e médio prazo, em função do alto custo que contrasta com a rentabilidade do nosso futebol, com a realidade de escassos patrocínios e a baixa renda das partidas.

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais