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Escola Sem Partido: qual a sua opinião?

Escola Sem Partido: qual a sua opinião?

Projeto de lei em tramitação na Câmara de Vitória, inspirado em movimento nacional, quer impedir professores de manifestarem opiniões, preferências ideológicas, morais ou religiosas em sala de aula

Publicado em 2 de junho de 2018 às 01:19

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O BEABÁ DA ÉTICA DO MAGISTÉRIO

Miguel Nagib é advogado e criador do projeto Escola Sem Partido

É ético um professor se aproveitar da autoridade do seu cargo e da audiência cativa dos alunos para promover seus próprios interesses e preferências ideológicas, religiosas, políticas e partidárias?

É ético um professor prejudicar ou constranger estudantes que discordem dos seus pontos de vista em matéria de religião, de moral ou de política? É ético fazer propaganda político-partidária em sala de aula? É ético usar alunos como massa de manobra a serviço de sindicatos e partidos?

É ético que, ao tratar de questões controvertidas, um professor omita ou ridicularize opiniões discordantes das suas? É ético tentar transmitir aos filhos dos outros suas próprias convicções religiosas e morais?

A resposta a essas perguntas é uma só: não. É evidente que essas condutas violam os preceitos mais elementares da ética do magistério. Mas, além de não ser ético, é ilegal. O uso das escolas e universidades para fins de propaganda ideológica, política e partidária afronta gravemente a Constituição Federal. E, no entanto, sabemos que vem acontecendo.

É fato notório que muitos professores usam seus cargos para promover as agendas, os movimentos, os partidos e os políticos que desfrutam da sua simpatia. São ativistas, militantes e cabos eleitorais disfarçados de professores.

Para coibir essas práticas covardes, antiéticas e ilegais, que ofendem direitos constitucionais das crianças e adolescentes obrigados a frequentar as escolas de Vitória, o vereador Davi Esmael apresentou um projeto de lei que institui no âmbito do município o programa Escola Sem Partido.

O projeto não cria para os professores nenhum dever que já não exista hoje, independentemente da sua aprovação. Ele apenas expressa, numa linguagem acessível aos alunos, preceitos, princípios e garantias previstos na Constituição.

A proposta é tão clara, justa e transparente, que, não tendo o que alegar contra ela, seus adversários – isto é, aqueles que promovem a doutrinação ou dela se beneficiam – são obrigados a apelar para a mentira.

Alegam, por exemplo, que o projeto impede o professor de falar de política; que impede o professor de abordar questões de gênero; que impede o professor de ensinar a teoria da evolução; que impede o professor de promover debates; que impede o professor de opinar sobre as questões que constituem o objeto da sua disciplina; que se trata de um projeto "de direita". Mentira, tudo mentira.

Mas a mentira tem pernas curtas. Não se deixem enganar por aqueles que instrumentalizam a inocência das nossas crianças e o idealismo dos nossos jovens. Leiam o projeto – são apenas seis artigos! – e tirem suas próprias conclusões.

(Amarildo)

CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA EM RISCO!

Cláudia Maria Mendes Gontijo e Cleonara Maria Schwartz são professoras da Ufes

A vivência escolar contribui para a construção da democracia. A formação de cidadãos críticos, participativos, não se faz sem a contribuição essencial da escola.

Para resguardar a democracia, não basta ler sobre democracia ou ouvir professores falarem sobre democracia, é necessário exercitá-la, praticá-la, vivenciar um conjunto de práticas cujos princípio central é a liberdade.

Para que a escola proporcione vivências cidadãs, ela precisa ser um espaço democrático e, portanto, ter uma organização fundada no respeito à diversidade de opiniões, de visões, de crenças, de opções etc.

Nesse sentido, não se pode esperar que a formação para a cidadania ocorra a partir de ensino transmissivo de conteúdos pretensamente neutros.

Se estudantes e professores/as não tiverem o direito de se expressarem, dialogarem, refletirem sobre suas posições, seus saberes, suas crenças e opções, com autonomia, terão cerceadas as possibilidades de vivências cidadãs essenciais para garantir uma sociedade fundada em princípios democráticos, tais como a participação, igualdade, liberdade, diversidade e solidariedade.

O cidadão, aquele capaz de fazer uso de direitos e deveres, é formado a partir de propostas educacionais que possibilitam a apropriação crítica de saberes e fazeres produzidos historicamente.

Projetos que potencializam a disciplinarização de corpos e de mentes e veem a escola apenas como transmissora de conhecimentos, de capacidades e de técnicas, abrindo mão do seu lugar na formação ética e de princípios democráticos, porque defendem que a educação deva ser neutra, mostram ser contrários à democracia, como é o caso do Projeto de Lei 255/2017 que busca instituir, no Sistema Municipal de Ensino de Vitória, o Programa Escola Sem Partido.

Trata-se, conforme assinalado na Nota de Repúdio do Conselho Departamental do Centro de Educação da Ufes, de um projeto que contribuirá para impedir o/a professor/a os/as estudantes de abordar a sua visão de mundo, "para fazer prevalecer uma única posição, uma única ideia, uma única ideologia, valores de um único grupo, daquele que detém o poder econômico, político e a posse dos bens culturais valorados por esse mesmo grupo".

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Esse projeto ataca a educação, a escola, os docentes e os discentes, contrariando princípios conformadores da educação brasileira, em especial, as liberdades constitucionais de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a gestão democrática do ensino público.

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