Combate à fome não é ideologia: é questão de princípios

Tratar a fome como uma quimera é grave para o governante de um país que coleciona tantos infortúnios econômicos e sociais

Publicado em 27/07/2019 às 00h01
 Crédito: Pixabay
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A sociedade brasileira não pode permitir que se ceda ao cinismo diante de seus dramas sociais. Quando um morador de rua pede dinheiro ou um prato de comida, há muita história por trás desse ato. A desconfiança e o descrédito são sentimentos legítimos diante da solicitação, mas não podem mascarar a realidade.

Qualquer que seja a motivação, para o bem ou para o mal, ela é reflexo da desigualdade e da falta de oportunidades que ainda continuam empurrando tanta gente para a miséria, seja ela a indigência de fato, seja ela a mazela dos aproveitadores.

O que não dá é para minimizar a dura realidade de milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar, não necessariamente explícita na aparência física. A persistência da fome, esse substantivo de quatro letras cuja existência foi desprezada pelo presidente Jair Bolsonaro, é confirmada por dados (não é de se espantar que também números e estatísticas sejam tão questionados pelo atual governo, vide a polêmica com o Inpe).

O último relatório da FAO (agência da ONU para agricultura e segurança alimentar), de 2018, mostra que 5,2 milhões de pessoas passaram ao menos um dia inteiro sem comer ao longo do ano no Brasil. Cinismo, nesse caso, é considerar esse número irrelevante. Não é utopia, precisa ser meta: enquanto houver quem não consiga garantir comida na mesa por um dia que seja, não haverá triunfo humano.

Já no Espírito Santo, os dados são do IBGE e se referem a 2013, quando 74,8 mil pessoas se encontravam em situação de insegurança alimentar grave. De lá para cá, são consideráveis as chances de piora nesse cenário, com o desenrolar da crise econômica, ainda não superada.

Tratar a fome como uma quimera é grave para o governante de um país que coleciona tantos infortúnios econômicos e sociais. Todas as medidas a serem implementadas, da reforma da Previdência às demais reformas estruturantes, investem num projeto de país com potencial de crescimento para garantir o dinamismo econômico que gere empregos e, assim, mais acesso ao alimento.

Não pode haver miopia governamental quanto a esse objetivo. O combate à fome não pode ser pintado por cores ideológicas, é algo maior, é questão de princípios de humanidade. Sem essa convicção, estará confirmada a vitória do cinismo.

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