Indicação de filho de Bolsonaro para embaixada é desastre diplomático

Não dá para negar que, ao nomear Eduardo Bolsonaro para embaixada em Washington, o presidente estará jogando no lixo qualquer defesa da meritocracia do seu governo

Publicado em 14/07/2019 às 20h32
Jair e Eduardo Bolsonaro: indicação torna confusa as relações entre família e Estado. Crédito: Instagram
Jair e Eduardo Bolsonaro: indicação torna confusa as relações entre família e Estado. Crédito: Instagram

Falar inglês e ter feito intercâmbio nos Estados Unidos tem valor de commodity nos setores mais altos da classe média brasileira e não credencia ninguém a um cargo diplomático no exterior, muito menos ao posto de embaixador em Washington, posição mais estratégica e cobiçada da chancelaria brasileira. Nem mesmo por via política. As justificativas dadas pelo presidente Jair Bolsonaro para as ambições diplomáticas de seu filho Eduardo, com a enumeração de qualificações tão equivocadas, reforçam o desprezo por competências que exigem dedicação e empenho intelectual. É como dizer que alguém pode atuar como enfermeiro por saber fazer um curativo.

Aqueles mais preocupados com os rumos nacionais defendem, com razão, que a esta altura não há assunto mais importante para o país senão o encaminhamento da reforma da Previdência, que teve vitórias expressivas na última semana. Um avanço também com méritos do governo Bolsonaro. Mas eis que o próprio presidente da República impõe agenda tão inoportuna, até mesmo para a imagem do Brasil no exterior. Um desgaste que poderia ser evitado com o mínimo de compreensão de como a política externa deve ser conduzida. Ou de sensatez.

A embaixada brasileira na capital norte-americana está sem titular há meses, um vácuo inexplicável até a última semana, quando Eduardo Bolsonaro completou 35 anos, idade mínima para a ocupação do posto diplomático. O presidente não esperou muito para tornar público o seu desejo, demonstrando nenhuma noção de timing numa semana crucial para o seu próprio governo e, principalmente, falta de compromisso com os valores que tanto defendeu quando candidato. A indicação para um cargo diplomático desse vulto torna confusa as relações entre os interesses familiares e os de Estado.

As ambiguidades da lei permitem ao Planalto os contorcionismos para negar o nepotismo, caso a indicação se confirme. É possível que tenha até mesmo o respaldo de decisões judiciais. Mas não dá para negar que, ao nomear o próprio filho - tão despreparado para uma carreira que exige uma longa jornada acadêmica e possui suas complexidades, como a compreensão de sutilezas culturais e o conhecimento de legislações e convenções internacionais -, o presidente estará jogando no lixo qualquer defesa meritocrática do seu governo.

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