Rumos da reforma da Previdência são ditados por quem tem a força

Trabalhador brasileiro, sem as costas quentes do aparato político-sindical, precisa estar consciente de que, sem a reforma, continuará financiando o banquete de alguns escolhidos

Publicado em 06/07/2019 às 00h13
Sessão para votação do parecer do relator sobre a Reforma da Previdência. Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Sessão para votação do parecer do relator sobre a Reforma da Previdência. Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A duras penas, a Reforma da Previdência avançou na Câmara. Ninguém dizia que seria fácil, dada a notória pressão de grupos de interesse que, historicamente, conseguem entortar os caminhos do bem comum em benefício próprio. As minorias organizadas do setor público que à base do grito impõem suas demandas a um país já cansado de ser sugado para alimentar suas castas privilegiadas. Um Brasil que segue nas mãos do corporativismo mais torpe, que ignora uma nação inteira economicamente em frangalhos, com um revés social sensível e persistente.

Foi particularmente incômoda a atuação do próprio presidente Jair Bolsonaro na tentativa de retirar os policiais federais e rodoviários do texto aprovado na Comissão Especial que agora segue para o plenário. Foi em vão, mas o comportamento presidencial abre brechas para novas ofensivas no plenário da Câmara. Fortalece ainda mais o lobby que já se impõe com musculatura. O fogo-amigo, contudo, beneficiou policiais militares e bombeiros, que mantiveram o direito de se aposentar com integralidade e paridade enquanto cada Estado não realizar suas próprias reformas.

Pode-se dizer que a reestruturação previdenciária tem estado em pauta desde a redemocratização, para corrigir distorções gravíssimas na concessão do benefício que acabam disseminando a desigualdade, mas uma reforma robusta sempre se deparou com essa resistência organizada,  atenta aos riscos de perda de privilégios.

O trabalhador brasileiro, sem as costas quentes do aparato político-sindical e sem direitos adquiridos, é quem precisa estar consciente de que, sem a reforma, continuará financiando esse banquete para alguns escolhidos. No caso dos milhões de desempregados, nem isso. A reforma mexe justamente com quem tem força no Congresso e sabe manipular a cortina de fumaça da defesa dos mais pobres. Pura desonestidade.

Sempre se soube que é uma agenda tecnicamente desafiadora e politicamente complexa, por voluntariamente contrariar esses grupos organizados e influentes. Mas as desilusões não podem ofuscar o mérito da aprovação da reforma na comissão especial. Há avanços incontestáveis. Com ela, a máquina de desigualdades ainda não será totalmente desmantelada, mas começa a soltar os parafusos.

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