Uma notícia como a de que quatro presos que cumprem penas por crimes como tráfico e homicídio no Estado participaram de um torneio internacional de xadrez tem a capacidade de provocar reações que vão da indignação à esperança.
Nas redes sociais, houve leitores que reclamaram do uso do dinheiro público, dos gastos decorrentes da participação dos competidores, que exige uma estrutura com computadores e acesso à internet dentro da prisão, e até mesmo da possibilidade de a prática tornar os condenados mais perspicazes, usando o aprendizado para voltar ao crime com mais eficiência quando retomarem o convívio em sociedade.
É justamente esse o ponto: os presos, um dia, sairão da prisão. Na reportagem de Vinícius Valfré - que inclusive disputou uma partida com um dos detentos -, a subsecretária de ressocialização da Secretaria Estadual de Justiça, Roberta Ferraz, fez a indagação necessária: “Cabe ao governo e à sociedade se perguntarem: como vão voltar?”. A esperança, citada também por leitores da matéria, pode se materializar em ações como o incentivo ao xadrez. E não se trata de um trocadilho infame.
Este jornal de forma alguma defende a impunidade. Reconhece, de antemão, que o Código Penal e a Lei de Execuções Penais suavizam as punições a ponto de criar uma cultura que encoraja a reincidência. Os exemplos são recorrentes, estão no noticiário com uma frequência inaceitável. Por isso, é preciso defender penas mais duras, que reprimam o impulso ao crime.
Mas, uma vez que se consolide a perda de liberdade, as prisões não podem ser tratadas como um calabouço, onde condenados e presos provisórios se amontoam. Assim se formam as “escolas do crime” e, pior, os quartéis-generais de facções que, mesmo dentro das celas, conseguem comandar a criminalidade nas ruas.
O xadrez é apenas um exemplo de estratégia de ressocialização. Não só isso: de pacificação do próprio sistema. Há muitas outras iniciativas que podem ser incentivadas. Manter o preso ocupado, interessado, potencializa o seu desejo pela mudança de vida. Ninguém é inocente de acreditar que seja uma transformação imediata, do dia para a noite. É um processo que também precisa ser acompanhado de transformações sociais do lado de fora das grades.
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