O que o carimbador maluco de Raul Seixas tem a ver com a burocracia?

Personagem dos anos 80 representa a classe burocrática ao destacar as insanidades das exigências na administração pública

Publicado em 18/09/2019 às 17h21
Atualizado em 18/09/2019 às 20h43
Raul Seixas como o carimbador maluco em "Plunct Plact Zum". Crédito: TV Globo/Divulgação
Raul Seixas como o carimbador maluco em "Plunct Plact Zum". Crédito: TV Globo/Divulgação

O carimbador maluco de Raul Seixas já estabelecia nos distantes anos 80 que o Plunct Plact Zum, a aeronave espacial imaginária do famoso especial infantil da TV Globo daquela década, não iria a lugar nenhum sem se submeter ao aparato burocrático sideral: “Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar! Pra Lua, a taxa é alta; pro Sol, identidade. Mas já pro seu foguete viajar pelo universo é preciso meu carimbo dando o sim, sim, sim, sim!”.

As crianças de então cresceram e se deram conta de que um dos ritos de passagem para a vida adulta é encarar que a fantasia daquela canção dizia mais sobre a realidade brasileira do que se julgava. O carimbador não era maluco por acaso, diante da insanidade da burocracia, com suas demandas cartoriais. A pretexto de mais segurança, elas emperram processos que, fossem mais simples e ágeis, contribuiriam para facilitar não só a vida empresarial, mas também as rotinas do cidadão.

O carimbador maluco personifica a classe burocrática. É como destacou Adriano Gianturco, professor de Ciência Politica do Ibmec-MG, em entrevista a este jornal no último domingo: “Quando você tem pessoas que vivem do problema, o problema vai persistir”. O desafio da desburocratização, que não é uma exclusividade brasileira, passa pela reformulação dessa estrutura que se confunde com a própria administração pública, embora tampouco seja restrita a esse ambiente.

Para a advogada Rosana Chiavassa, essa cultura está tão entranhada, com a necessidade de validação dos atos pelo Estado a cada passo, que no Brasil acaba se partindo do princípio de que todos são culpados até que se prove o contrário. “As pessoas têm até que provar que são elas mesmas, com reconhecimento de firma (de assinatura).”

A MP da Liberdade Econômica deu passos importantes para mudar a forma como o Estado brasileiro se relaciona com o empreendedorismo, por exemplo. É preciso estabelecer parâmetros de confiança, o que não é simples, para reduzir as pilhas de documentos e assinaturas. O Brasil precisa dar vez à racionalidade em seus processos, exonerando de vez seus carimbadores malucos.

 

A Gazeta integra o

Saiba mais
burocracia

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.