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'Aquilo não era para mim', diz capixaba réu por ligação com terrorismo

"Aquilo não era para mim", diz capixaba réu por ligação com terrorismo

Harisson diz que se afastou ao perceber intenções de líder

Publicado em 18 de maio de 2018 às 10:45

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(Arabson )

Harisson de Souza Andrade tem 20 anos, trabalha como eletricista, é marido e pai e mora na Serra. Ele atendeu, por telefone, a reportagem de A GAZETA nesta quinta-feira (17) e contou como acabou virando réu numa ação com base na Lei Antiterrorismo. O jovem nega ter articulado qualquer ataque no Brasil e diz que apenas compartilhou vídeos nas redes sociais após aprender, de forma “deturpada”, sobre o Islã.

O MPF denunciou 11 pessoas, entre elas o senhor, por promoção de organização terrorista. O senhor tem conhecimento dessa denúncia?

Eu tenho conhecimento sobre essa denúncia. Veio condução coercitiva pra mim.

A denúncia diz que o senhor conversava sobre terrorismo, principalmente com o Welington.

Tive contato com o Welington (apontado como o líder que queria criar um grupo de apoio ao Estado Islâmico no Brasil) sim. Mas nada de mais. Fui investigado pela divisão de antiterrorismo, mas não tem nada. Eram só algumas coisas que a gente falava. Nunca participei de grupos. Eu tinha contato com o Welington e ele tinha admiração por esses grupos de jihadistas. Mas participar de criar grupo no Brasil eu nunca quis.

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Hoje sou quimbandeiro. Não sou muçulmano mais. Não acho que Deus quer que a gente mate as pessoas. Se Deus quisesse matar alguém ele mesmo faria. Eles querem machucar as pessoas e usam a religião para justificar isso

Harisson de Souza Andrade
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Como o senhor conheceu o Welington?

Eu estava começando a seguir o Islã, conheci o Islã deturpado. Conheci o Welington na internet, no Facebook. Conversamos sobre a religião, ele me apresentou como era a luta pela causa de Deus, falando que a gente tinha que lutar contra os inimigos. Depois fui conhecer o Islã verdadeiramente. Hoje sou quimbandeiro. Não sou muçulmano mais. Não acho que Deus quer que a gente mate as pessoas. Se Deus quisesse matar alguém ele mesmo faria. Eles querem machucar as pessoas e usam a religião para justificar isso. Vi que aquilo ali não era para mim.

Quando o senhor parou de ter contato com o Welington?

Tem mais de um ano que eu deixei de ter contato com ele. Eu até falei com ele que eu estava sendo investigado para ele parar de me procurar. Ele queria que eu montasse um grupo com ele e eu saí fora.

Chegou a ter contato com ele pessoalmente?

No início a gente tinha uma certa amizade. Nunca fui numa mesquita. Nunca tinha tido contato com o Islã, só na internet. Ele quis me dar um Alcorão. Encontrei com ele pessoalmente. Ele veio na minha casa, na época em Santa Maria de Jetibá. Eu nunca tinha nem segurado um Alcorão, não tinha o tapete para rezar e ele veio trazer isso para mim. Mas ele estava com umas ideias, queria dizer o que eu deveria fazer. E se mostrou apoiador do Estado Islâmico e eu não concordava com ele.

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Eu até falei com ele (Welington, apontado como líder do grupo) que eu estava sendo investigado para ele parar de me procurar. Ele queria porque queria que eu montasse um grupo com ele e eu saí fora

Harisson de Souza Andrade
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Ele chegou a sugerir que o senhor participasse de alguma ação terrorista?

Ele queria formar um grupo na Amazônia e falou que era para a gente atacar o governo e não o povo porque o povo tinha que estar do nosso lado. Porém, nunca fui de fazer grupo. Eu queria era me juntar à Al-Qaeda no Iêmen, nunca apoiei fazer nada aqui no Brasil. Isso (de se juntar à Al-Qaeda) porque aprendi o Islã de forma deturpada.

Então quando o Welington veio com essas “ideias” decidiu romper o contato com ele?

Sim. E depois de ter conhecido a minha esposa. E teve a notícia de que eu iria ser pai. Eu sofri muito na minha infância, não estava nem aí se eu iria morrer, eu queria sair daqui, do país, fugir dos meus problemas. Mas minha esposa me ajudou a sair disso. Antes de a polícia vir aqui para me investigar eu já não estava mais no Islã. Vi que isso não levava a nada. O Welington tinha pensamento até de a gente montar grupo de tráfico e prostituição para gerar dinheiro para o tal grupo que ele queria. Ele quer machucar as pessoas e nem ele segue o que ele diz ser verdade.

Por que havia armas de fabricação caseira na sua casa, na Serra?

Tinha as armas por hobby. Sou também serralheiro, era só para mim mesmo, por querer ter a arma. Investigaram e viram que não tinha nada a ver. Eles achavam que o Welington sabia dessas armas e que eu queria criar um grupo, mas eles viram que ninguém sabia. Fiquei 60 dias em Brasília na Superintendência da PF, investigado, e eles viram que não tem nada a ver com esse lance do terrorismo. Se essas armas tivessem ligação com grupo terrorista eu não estaria aqui falando com você, eu estaria preso.

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Eles querem machucar as pessoas e usam a religião para justificar isso. Vi que aquilo ali não era para mim

Harisson de Souza Andrade
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A denúncia diz que o senhor é apoiador da Al-Qaeda.

Eu era apoiador da Al-Qaeda. Quando eu estava estudando o Islã eu cheguei sim a apoiar, mas esse apoio era simplesmente gostar da ação. Eu não praticava ataque, não atacava ninguém. O que eu fiz foi compartilhar vídeos. E não considero isso “promoção” de terrorismo.

OS DENUNCIADOS

- Weverton Costa do Nascimento (GO)

- Welington Moreira da Carvalho (RJ);

- Harisson de Souza Andrade (ES);

- Antonio Marcos Souza Nascimento (SP);

- Jhonatan Sentinelli Ramos (RJ);

- Kleiton Franca Nogueira (RJ);

- Thiago da Silva Ramos Benedito (SP);

- Matheus Santos Pinaffo (BA); G.O.C. (MG) e A.A.S. (BA).

- Jonatan da Silva Barbosa (RS)

A DENÚNCIA

O Ministério Público Federal acusa: “No período compreendido entre os anos 2016 a 2017, os denunciados foram responsáveis pela promoção da organização terrorista Estado Islâmico no Brasil, por meio de publicações em redes sociais e compartilhamento de materiais via aplicativo Whatsapp e páginas do Facebook, bem como recrutaram menores de idade para participarem de atos terroristas em solo nacional”. A GAZETA teve acesso à denúncia.

AÇÃO PENAL

De acordo com os jornais “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”, a denúncia foi recebida, tornando réus nove dos 11 denunciados. Os outros dois foram diagnosticados com transtornos mentais.

CAPIXABA

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O capixaba Harisson de Souza Andrade, morador da Serra, está entre os réus. A equipe antiterrorismo da PF encontrou armas de fabricação caseira na casa dele. Ele é descrito, na denúncia, como “apoiador da Al-Qaeda”, mas nega ter promovido terrorismo no Brasil.

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