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Carcaça de baleia mordida por tubarão encalha e apodrece na Aldeia

Carcaça de baleia mordida por tubarão encalha e apodrece na Aldeia

Carcaça não tem como ser retirada e pode trazer risco ambiental para micro-organismos e pessoas que tiverem contato com a água em torno do animal, de acordo com o diretor do Instituto Orca, Lupércio Barbosa

Publicado em 13 de agosto de 2018 às 13:42

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Carcaça de Baleia Jubarte feitas no último dia 28, na Praia da Aldeia, em Guarapari. (Lupércio Barbosa)

Uma baleia jubarte em decomposição está desde o dia 27 de julho na Praia da Aldeia, que fica dentro de um condomínio fechado, em Guarapari. Com mordidas de tubarão, a carcaça não tem como ser retirada e pode trazer risco ambiental para micro-organismos. Além disso, a região onde o animal está fica imprópria para banho, de acordo com o diretor do Instituto Orca, Lupércio Barbosa.

Segundo o pesquisador, um dos problemas enfrentados pelos moradores da regão é o mau cheiro. "Ela não vai sair de lá porque o local não tem como retirar, é de pedra. O pessoal da Aldeia, com o vento sul, deve estar sofrendo com o cheiro. Alguns casos não tem como ir contra a natureza. É esperar o mar destroçar a carcaça, e ela ir saindo. Mesmo com a maré alta que deu no dia em que ela encalhou, não saiu. Só sai destroçada. Humanamente, não tem como retirar. É o preço de se morar de frente para a praia, que recebe o lixo marinho", diz.

Em entrevista ao Gazeta Online, o diretor, que foi ao local no dia 28 de julho, explica como o animal pode ter chegado à praia e por que as baleias vêm ao Estado nesta época do ano.

ORIGEM

"Ela chegou morta lá. Elas estão no litoral inteiro. Qualquer ponto do litoral está sujeito a ter um encalhe. Infelizmente, a maioria delas já vêm morta boiando, que é o caso dessa daí. Um animal sub-adulto, já bem descaracterizado, já tinha perdido ossos. A espécie é uma Jubarte, de uns 10 metros de comprimento."

DANO AMBIENTAL E TUBARÕES

"Sempre tem a preocupação com danos ambientais. Uma carcaça dessas, de dimensões muito grandes, já vem no mar causando 'problemas'. Ela vem atraindo, por exemplo, predadores. Essa tinha muitas mordidas de tubarões. Então, essa carcaça já no mar vinha sendo acompanhada, possivelmente, por tubarões. É muito comum isso. Quando existe uma carcaça boiando, existe a possibilidade de ter tubarões. 

Aspas de citação

Evidente que quando ela chega muito perto das arrebentações, é pouco provável que os tubarões estejam seguindo. Em alto-mar, possivelmente tem tubarão mordendo, porque ele se alimenta da carniça

Aspas de citação

"Ela já vem soltando muita gordura. Ao chegar em uma praia, em lugares muito rasos, prainhas de pedras, elas soltam um óleo que causa um dano ambiental muito grande aos micro-organismos que existem nessas praias. Eles morrem por asfixia, como pepino-do-mar e esponja do mar."

IMPRÓPRIA PARA BANHO E RISCOS

"Além disso, toda essa região fica imprópria para tomar banho. Tem o mau-cheiro e fica tudo engordurado (pedras, areia). Se você passar ali, seu corpo, roupa, fica tudo impregnado com esse odor e essa gordura. Sempre tem os curiosos que vão mexer, colocar a mão. Existem inúmeras bactérias no processo de decomposição da carcaça que você não sabe o efeito em cada organismo. Alguém que chegue lá machucado ou engole essa água por algum motivo, pode desenvolver uma doença, de acordo com a imunidade da pessoa."

LOCAL DO ENCALHE

Baleia encalhada na Praia da Aldeia, em Guarapari. (Google Maps)

MOTIVOS PARA NÃO RETIRAR

"Não tem como colocar pessoas para trabalhar em local de arrebentação. Há um risco dessa pessoa se acidentar nessa gordura. Sobre o tempo para a baleia sair da praia, é relativo, depende da maré. Se for a maré viva, ela bate mais forte. Tem que esperar a maré viva. Mas vai depender da espessura do tecido. É uma camada muito dura. A ideia é que essa baleia arrebentasse.

Ali é o tipo da coisa que não há o que ser feito. Não tem como puxar para o mar, não tem como chegar com um rebocador e amarrar na baleia, porque o cabo vai escorregar, ela não tem mais nenhuma nadadeira para você fixar."

Aspas de citação

É uma situação complicadíssima. Você vai explodir a baleia? É uma possibilidade, mas vai sujar tudo, tem que trabalhar com explosivo, vai voar nas casas

Aspas de citação

A Prefeitura de Guarapari entrou em contato com a referência técnica no Espírito Santo, Instituto Orca, no que diz respeito à vida marinha como baleias, golfinhos, tartarugas, entre outros. Conforme parecer do instituto, a retirada não é viável tendo em vista a dificuldade de acesso ao local, sendo necessário esperar o deslocamento natural pela maré.

ENCALHES NO ES

"De agosto a julho acontecem os encalhes de baleias mortas e até com vida, que são mais raros. Elas começam a chegar aqui em junho, e agosto atinge o auge dessa concentração, principalmente no litoral Norte do Estado, no banco de Abrolhos (conhecido como mesa), que é uma área que se estende do litoral do Espírito Santo até o arquipélago de Abrolhos.

É uma área que tem uma profundidade de no máximo 50 metros, porque ali é um oceano profundo (mil, dois mil metros de profundidade). De repente, aparece como se fosse uma mesa que está a 50 metros. Por algum motivo, essas baleias gostam de ficar em cima dessa mesa."

"A BALADA DELAS É AQUI"

"Elas vêm para ter os filhotes, mas a gente desconfia que essas baleias no passado não tinham somente essa função. Elas vêm para cá porque aqui tem menos predadores, é mais seguro para terem os filhotes. Elas se concentram para namorar. É igual uma 'patotinha' de adolescente que se concentra em lugares onde têm balada, onde se concentram para conhecer pessoas.

A balada delas é aqui. Elas emprenham aqui (ou em qualquer lugar), essa gravidez dura 11 meses e elas voltam para as regiões frias, onde teoricamente se alimentam, e retornam na temporada seguinte, quando possivelmente estão na hora de parir os filhotes. É todo um ciclo que acontece. E aqui é mais seguro, possivelmente elas usam esse banco, porque ele é mais raso.

Por ser mais raso, ela não perde o filhote quando ele nasce. Todo filhote a mãe leva para a superfície para ele respirar. Se ele não respirar, morre. Já num lugar fundo, ela pode não resgatar esse filhote. Essa é uma teoria. O outro motivo é porque lugar raso é mais difícil da orca atacar. Em lugar fundo, é mais fácil o ataque. E o próprio litoral do ES é menos frequente a presença de orcas e tubarões.

Talvez por essa série de coisas essas baleias venham para cá anualmente. A gente acredita até que elas possam estar se alimentando. Não é área de alimentação aqui. O instituto é namorar, parir e criar filhote. A gente tem que estudar mais para saber se elas não estão se alimentando em determinada situação, porque teoricamente elas ficam em jejum esse tempo todo quando estão aqui. Mas você não pode nem dizer que elas não são daqui. Porque elas nascem aqui e completam o ciclo no sul."

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