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Clínica exige fotos da boca e dos dentes em processo seletivo no ES

Clínica exige fotos da boca e dos dentes em processo seletivo no ES

Capixaba se sentiu constrangida com critério de seleção uma vaga de auxiliar administrativo em uma filial da empresa em Cariacica

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 16:17

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Processo de seleção exige fotos da boca e dos dentes dos candidatos. (Montagem | Gazeta Online)
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Você foi selecionado para participar do nosso processo seletivo. Para a primeira etapa, você deverá enviar dez fotos suas em alta resolução (iguais a cada um dos modelos em anexo). É importante evidenciar todos os dentes de maneira clara. O envio das fotos é um desafio, avaliaremos seu capricho, criatividade e interpretação. O envio das fotos é obrigatório

Mensagem enviada por empresa durante processo de seleção de vagas de emprego
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Uma moradora de Cariacica, de 33 anos, recebeu a mensagem acima, por e-mail, de uma clínica odontológica. Há dois anos em busca de emprego, ela enviou o currículo para uma vaga de auxilar administrativo, mas foi surpreendida ao ser informada que, para concorrer à vaga, teria que enviar dez fotos da boca. As imagens, seguindo os exemplos enviados por anexo, seriam do sorriso e da boca aberta. Entre as opções, fotos de perfil, de frente e até com a cabeça inclinada para trás, de modo a mostrar o céu da boca.

"Eu estou mandando uns currículos, porque estou desempregada. Mandei semana passada para essa empresa que vi abrir aqui na minha região e fui selecionada para o processo de seleção. Essa é a primeira etapa. Tem que enviar dez fotos só da boca. Mandaram um exemplo em anexo, de como querem as fotos. É a primeira parte da seleção. Até então não estava acreditando, achei que era vírus. Acho que não pode existir uma coisa dessas", afirma a mulher, que não quer ser identificada.

Essa não é a primeira vez que a empresa odontológica em questão se envolve em polêmica desse tipo. Em março, a mesma empresa, com filial no Distrito Federal, fez o mesmo pedido para os candidatos a uma vaga de emprego. A capixaba afirma que ficou constrangida e decepcionada ao receber o e-mail com os pedidos da empresa.

"É um absurdo. Independente se meu sorriso é bom ou não, eu não tenho que passar por um constrangimento desses para poder trabalhar. Mandei e-mail perguntando se realmente precisava das fotos, mas até agora não me responderam. Isso não deve existir, a gente já está na luta para um emprego e tem que passar por isso? Não é o profissional que conta?", questiona.

"NUNCA VI ISSO", DIZ ESPECIALISTA EM RH

Mariane Limonge, psicóloga e consultora de Recursos Humanos da Psicoespaço, diz que atitudes como essa não são comuns. Para ela, há outras maneiras de avaliar quesitos específicos dos candidatos sem ser grosseiro com quem busca uma vaga na empresa.

"Me causa estranheza, a gente deve prezar sempre pelo profissional. Não entendo colocar isso como prioridade do processo. Pode ser um ponto a ser considerado, um item em uma avaliação como todo, que vai olhar as habilidades, competências e algumas questões mais especificas como essa. Pode até servir como diferencial de um candidato para outro, mas normalmente não como primeira etapa e já eliminatória. Nunca passei por isso em 22 anos de seleção. Nunca vi isso. Passa uma agressividade muito grande com os candidatos, não é viável esse caminho", afirmou, antes de completar.

"Entendo que para a clínica odontológica é importante o sorriso e os dentes saudáveis, e a foto foi a forma que encontraram de avaliar isso. Mas se a empresa acha coerente o sorriso bonito ser um critério da seleção, existem outras formas de avaliar isso. A gente percebe isso (o sorriso) em um entrevista pessoal, por exemplo", defende.

"PODE SER VISTO COMO AÇÃO DISCRIMINATÓRIA", EXPLICA ADVOGADO TRABALHISTA

A lei trabalhista não é clara ao tratar da exigência de fotos do rosto ou de dentes em um processo seletivo. O artigo 373-A da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) proíbe recusa de emprego por sexo, idade, cor, situação familiar ou gravidez do candidato. Porém, não há nada específico sobre o pedido de fotos, ou sobre a análise de outros fatores corporais. No entanto, o advogado trabalhista e professor universitário Carlos Eduardo Amaral de Souza explica que casos como esse podem ser interpretados como discriminação.

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"O empregador pode estabelecer critérios objetivos para selecionar com quem ele vai trabalhar, desde que não sejam critérios discriminatórios. O que seria, por exemplo, uma boca apresentável? Não pode ter aparelho? Não pode ter nenhum defeito? Seria muito mais aconselhável que a empresa, achando que aparência bucal é importante, pudesse fazer isso em uma entrevista. Analisaria sem causar constringimento. A lei veda em relação à discriminação de raça, cor, sexual. Não há nada legalmente previsto em relação à aparência. Mas na jurisprudência é possível, sim, questionar critérios para seleção com base em aparência. Dependendo da interpretação pode ser colocado como ação discriminatória", esclarece. 

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