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'Cartazes machistas não refletem opinião dos alunos', diz estudante

"Cartazes machistas não refletem opinião dos alunos", diz estudante

Trabalho exposto em uma escola pública de Vila Velha culpa as mulheres por assédio e agressão e gerou revolta nas redes sociais

Publicado em 20 de março de 2019 às 18:27

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Cartazes foram expostos em escola de Vila Velha. (@Jescabohen | Twitter)

Os cartazes expostos em uma escola pública de Vila Velha, que culpam mulheres por assédio e agressão, ainda são motivo de discussão nas redes sociais. O projeto, relacionado ao Dia Internacional da Mulher, traz "lições" de como não usar roupas que expõem o corpo e não usar short colado para ir à academia, além de afirmar que mulheres devem “ser menos vulgar (sic)”. No entanto, as frases expostas não refletem as opiniões do alunos.

É o que afirma um aluno de 17 anos, que pediu para não ser identificado. Ele garante que os cartazes atendem apenas a um pedido da professora e que os estudantes não tiveram direito de se manifestar. A versão deles é contrária à da diretora da escola, Fernanda Pires, que chegou a afirmar que "(os cartazes) foram frases dos próprios alunos, a opinião deles".

"Se fosse palavra nossa, não seria machista daquele jeito. Foi como a professora queria. Um colega tentou manifestar opinião contrária e ela não aceitou. Queria do jeito dela, com a opinião dela de machista. Não tenho orgulho do meu cartaz, mas eu não quis perder nota. Desde o começo eu e meus amigos fomos contra o trabalho, mas ninguém quer perder nota. Os cartazes que ficaram do jeito que ela gostou foram expostos na parede, quem fez diferente tirou nota baixa e levou bronca no dia da apresentação", contou o estudante.

O comentário do garoto é reforçado por outra colega de classe. "Fizemos o trabalho de acordo como foi pedido. Ela não queria a nossa opinião, um grupo que expôs a opinião própria e ela  deu uma nota baixa. Ninguém da sala concordou com o que ela disse na explicação, porém valia nota, e ela por ser uma professora muito rígida, o trabalho foi feito", comentou a aluna em uma rede social.

Segunda etapa

Ainda de acordo com a diretora da escola, Fernanda Pires, os cartazes foram tirados de contexto e são parte de um projeto de valorização da mulher, previsto para o mês de março – quando é comemorado o dia delas, 8 de março – desenvolvido por diversos professores. “Esse projeto ficou dividido em dois tempos. O primeiro é sobre o que as mulheres devem fazer para não serem desvalorizadas, e o segundo, sobre o que os homens estão fazendo com as mulheres”, explicou a diretora.

A escola publicou também um comunicado em sua página no Facebook em que diz: "Gostaríamos de informar que o trabalho havia duas partes, uma em que os alunos mostravam a desvalorização e outra em que valorizavam (dessa parte não tiraram e postaram fotos)".

No entanto, a segunda etapa do projeto ainda não foi realizada. Nas redes sociais internautas cobraram que a escola mostre o restante dos trabalhos, o que não aconteceu.

"Gostaríamos de ver as fotos do restante dos trabalhos, como professora, mulher e vítima de abuso, me sinto no direito de cobrar um posicionamento", afirmou uma internauta.

"Engraçado que "a outra parte" nunca apareceu", disse outra.

"Posta as fotos do restante do trabalho então, quem sabe alguém intenda o que a senhora quis passar nesse trabalho", questionou mais um.

"Em vez de postar resposta só com texto tentando se justificar, que tal serem mais assertivos e postar as fotos da conclusão do trabalho? Simples, né? De qualquer forma, não os isenta do fato de terem pendurado nas paredes frases horrendas de culpabilização das vítimas, pra que crianças em fase de formação absorvam esse conteúdo deplorável. Tenham responsabilidade, por favor", pediu um internauta.

"Aposto que o "restante dos trabalhos" não existem e por isso não foram postados...ah...mas ainda da tempo de fazerem uns e fingirem que já estavam lá", criticou uma mulher.

Na manhã desta quarta-feira (20), os alunos voltaram a ter contato com a professora de história responsável pelo projeto. Segundo os estudantes, apenas hoje, após a publicação da matéria no Gazeta Online, a criação de uma segunda parte do projeto foi comentada em sala de aula.

"A segunda parte foi comentada em sala hoje. Não me lembro da professora ter falado sobre isso antes, se foi comentado antes eu não estava lá. Não entendi muito bem como será essa segunda parte. Não sei se vão fazer mesmo, mas espero que seja feito de outra forma. Se for para seguir desse jeito é meio difícil", concluiu um aluno.

NOTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

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A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informa que a divulgação dos cartazes foi feita de forma descontextualizada do projeto desenvolvido pela escola, cujo objetivo é trabalhar a valorização da mulher e sua colocação na sociedade, durante o mês de março. A Sedu destaca que envia para as escolas as diretrizes de trabalho a serem desenvolvidas e as unidades de ensino planejam suas respectivas ações de acordo com essas diretrizes. A Secretaria também informa que, para 2019, o tema será pauta de capacitações para equipes técnicas e professores. Afirma ainda que não compactua com qualquer tipo de ação discriminatória.

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