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Mãe de menino que venceu bactéria: 'Meu filho morreu e nasceu de novo'

Mãe de menino que venceu bactéria: "Meu filho morreu e nasceu de novo"

Mãe conta que menino venceu bactéria parecida com a de surto

Publicado em 8 de abril de 2019 às 00:13

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“Vai dar tudo certo. Se o seu filho passou por tudo isso, ele é um milagre.” O recado é da contadora Priscila Brum para outras mães. Há cerca de um ano e meio, o filho dela, Miguel, foi infectado com uma bactéria similar à que foi encontrada em exames de duas crianças da creche Praia Baby. Após mais de 30 dias internado em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), Miguel hoje corre, pula, brinca e se prepara para comemorar o terceiro aniversário. “Meu filho é um vencedor.”

Autoridades suspeitam que o surto de gastroenterite que ocorre na creche particular da Praia da Costa, em Vila Velha, desde 15 de março, tenha sido provocado por uma versão agressiva da bactéria E.coli, que é enterohemorrágica e produz uma toxina chamada Shiga. São 22 pessoas que apresentaram sintomas, um menino de 2 anos morreu. Essa toxina provoca uma série de complicações e, em 10% a 15% dos casos, a Síndrome Hemolítico-uréica, que pode levar à morte.

Miguel faz parte dessa estatística. Sensível à dor e à preocupação dos pais das crianças da creche, ela afirma que está confiante de que tudo vai se resolver. “A bactéria não escolhe quem ela vai lesionar dessa forma. Mas acredito que vai dar tudo certo”, diz.

Quando o seu filho começou a ficar doente?

Aconteceu há um ano e três meses. O meu filho tinha um ano e cinco meses. Ele começou a passar mal em uma segunda-feira com diarreia simples e vômito. Uma gastroenterite normal, que qualquer pessoa tem. Na quarta-feira ele começou a evacuar sangue e foi ficando mais parado. Levei ao médico nesse dia, mas ouvi que poderia ser normal e voltei para casa. No dia seguinte, ele já não mexia mais o corpinho e a diarreia piorou muito. Levei novamente para o hospital, onde ele ficou tomando soro por conta da desidratação. Só que ele ficou muito inchado, e teve que ser transferido para uma UTI. O rim dele já estava parado.

Nesse momento, você já sabia da gravidade?

Acho que só assimilei mesmo quando saímos da UTI, mais de 30 dias depois, e eu pude pesquisar em casa o que era essa síndrome. Uma dia, ainda na UTI, ele teve uma convulsão e foi preciso fazer uma tomografia. Quando terminou o exame a médica perguntou: “o seu filho sofreu alguma pancada na cabeça?” e nós explicamos que ele tinha a síndrome. Ela disse “nossa, eu só tinha visto isso em livros”.

Como foi esse período?

Não era só meu filho que estava mal, o meu marido ficou desesperado. Queriam até proibi-lo de entrar na UTI porque ele gritava muito. Eu tenho outro filho, cinco anos mais velho, e que eu fiquei um mês sem ver. Tive que parar de trabalhar.

Em algum momento você achou que o Miguel fosse te deixar?

Várias vezes. Um dia ele precisou tirar 400 ml de sangue do estômago e, quando voltou do centro cirúrgico, ele estava entubado. Ele saiu da cirurgia e eu fui falar “ei, neném” e ele estava com um tubo na boca, desacordado, respirando por aparelhos. Quando vimos, entramos em desespero.

Em que você se apegou nesse momento?

Me apeguei a Deus. O meu filho morreu e nasceu de novo. Não me apeguei a placas: eram católicos e evangélicos ao meu lado, fazendo orações, o tempo todo.

Que lembrança você tem do tempo na UTI?

A UTI tinha uns 10 leitos e ali a gente viu crianças morrendo, vimos crianças tendo parada cardíaca e a equipe toda em cima para reanimar. Parece que a morte ronda o local. O tempo passa e vai dando uma agonia.

Quando você soube que ele estava curado?

Um dia depois do Natal, um 26 de dezembro, a doutora entrou na salinha e disse que os exames do Miguel tinham voltado e que eles tinha dado negativo para qualquer tipo de bactéria. Ficamos aliviados.

Você sabe onde ele pegou a bactéria?

No hospital, eu falava da rotina dele, que ele vivia entre a casa da babá e a nossa, que eram na mesma rua. Mas ele estava aprendendo a andar, então colocava muito a mão no chão. Ele também estava na fase de colocar tudo na boca.

O que você sentiu ao saber do surto na creche?

Eu chorei muito. Foi como se eu revivesse tudo que eu passei. Quando soube da morte do Theo (2 anos, aluno da creche na Praia da Costa que foi infectado) eu só pensava “poderia ter sido meu filho”. Muitas mães que sabem o que eu passei me ligaram, preocupadas.

Tem algo que você gostaria de dizer para as famílias afetadas?

Eu quero dizer que vai dar tudo certo. Se o seu filho passou por tudo isso, ele é um milagre. Eu sei que a bactéria não escolhe quem ela vai lesionar dessa forma, mas as crianças são um milagre, elas vão vencer e a vitória será da família.

O Miguel ficou com alguma sequela?

Ele é hipertenso hoje e teve uma lesão no rim que parou. Mas a gente trata. É como se fosse um diabetes, a gente vai tratando todo dia.

Como esse episódio mudou a sua família?

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Só consigo ver o que esse susto nos deu. Hoje somos mais unidos e nos preocupamos mais uns com os outros. Hoje a gente sabe que a vida é muito frágil.

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