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Em 49 cidades do ES trânsito mata mais que assassinatos

Em 49 cidades do ES trânsito mata mais que assassinatos

Cachoeiro de Itapemirim lidera este ranking, com 29 vítimas em acidentes fatais e 10 em assassinatos. Ao todo, 402 pessoas morreram no trânsito no Espírito no primeiro semestre deste ano

Publicado em 27 de agosto de 2019 às 07:26

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Em 49 municípios, há mais mortes no trânsito do que homicídios . (Polícia Militar)

Historicamente conhecido como um lugar violento, o Espírito Santo vem por anos tentando reduzir o número de assassinatos. Mas dados da Secretaria de Segurança Pública (Sesp) deste ano apontam que em 49 cidades o maior problema não está na violência armada, mas no trânsito.

Dos 78 municípios capixabas, 49 deles registraram um número maior de mortes no trânsito do que de homicídios no primeiro semestre de 2019. Juntos, eles somam 221 mortes em acidente e 77 assassinatos.

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A gente vive a miopia do trânsito. O governo investe em políticas para redução de homicídios, mas não enxerga o trânsito como um dos grandes problemas. É preciso mudar esse quadro

André Cerqueira, especialista em segurança de trânsito
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Cachoeiro de Itapemirim lidera o ranking nas comparações, com 29 vítimas em acidentes fatais e 10 em assassinatos. Colatina vem em segundo lugar, registrando mais que o dobro de mortes no trânsito em relação a homicídios. Foram 13 mortes em acidentes e 6 assassinatos. Alguns locais como Alfredo Chaves, o número de mortes no trânsito é sete vezes maior que o de homicídios. (Confira quais são os municípios na tabela abaixo).

"Esse diagnóstico nos sinaliza as áreas que precisam ter mais atenção. É importante porque vai fazer com que a gente direcione políticas para estas regiões", ressalta o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá. 

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Existe uma diferença entre os acidentes de trânsito causados na região metropolitana e no interior. Na Grande Vitória, os problemas são mais ligados a mobilidade, tráfego. Já no interior a gente tem a falta de fiscalização, que é crucial para esses altos índices de mortes

André Cerqueira, especialista em segurança de trânsito
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FISCALIZAÇÃO

A falta de fiscalização é apontada como um dos fatores que impulsiona o número de mortes no trânsito, na avaliação de especialistas como André Cerqueira. Ele revela que a maioria dos locais onde há mais vítimas de acidentes fatais não possui Batalhões de Trânsito e a Polícia Militar é a única responsável por realizar todos os atendimentos.

PM faz abordagem em blitz: no interior, número reduzido de fiscalizações deixa motoristas mais confortáveis para cometer infrações.

Nesse sentido, segundo ele, as fiscalizações acabam não sendo priorizadas e se tornam insuficientes ou quase inexistentes em alguns locais. Isso faz com que as pessoas se sintam mais confortáveis para abusar da lei, como explica o especialista.

“Quando não tem tanta fiscalização, há pessoas dirigindo, com mais frequência, sem carteira, alcoolizadas, em alta velocidade. Elas cometem mais infrações, o que resulta na morte de mais pessoas”. sustenta Cerqueira.

O secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, concorda que a fiscalização é necessária e que precisa ser reforçada, mas pontua que a conscientização é fundamental.

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O carro, quando conduzido sem prudência, se torna uma arma tão perigosa quanto a arma de fogo

Roberto Sá, secretário de Segurança Pública
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De acordo com o diretor-geral do Detran, Givaldo Vieira, 90% dos acidentes no trânsito são causados por falha humana, que poderiam ser evitados se os motoristas dirigissem com mais consciência. Contudo, o uso de campanhas publicitárias por si só tem se mostrado insuficiente para reduzir o número de acidentes.

Por causa disso, o Detran lançou o programa Forças pela Vida, uma espécie de força-tarefa para ampliar as fiscalizações.

“Esse programa tem foco na Lei Seca e também em motociclistas, que são as maiores vítimas destes acidentes fatais. São operações integradas com o objetivo de abranger todos os municípios, principalmente estes que têm registrado altas taxas de mortes no trânsito”, explica Givaldo Vieira.

Maioria dos acidentes com mortes acontecem em rodovias estaduais no ES

PROXIMIDADE COM RODOVIAS 

Os dados analisados pelo Gazeta Online também mostram que municípios que ficam às margens de rodovias ou são cortados por vias estaduais e federais apresentam números altos de vítimas em acidentes fatais. É o caso de Cachoeiro do Itapemirim, Ibatiba, Domingos Martins e Marechal Floriano, que estão entre as 10 cidades com mais mortes no trânsito em relação a homicídios (Confira no infográfico abaixo).

De acordo com a Sesp, 74% das mortes no trânsito no primeiro semestre de 2019 aconteceram em rodovias estaduais. Outros 26% ocorrem em rodovias federais.

O especialista em trânsito, Paulo Lindoso, critica a malha rodoviária do Espírito Santo. "A maior parte das rodovias é formada por pistas simples e em duplo sentido", disse. Com isso, as ultrapassagens são feitas na contramão, ocasionando um número maior de colisões frontais, as que mais provocam mortes no trânsito.

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As rodovias no Espírito Santo são muito deficientes e têm grande fluxo de veículos pesados. Qualquer desvio de atenção pode ocasionar acidentes graves

Paulo Lindoso, especialista em trânsito
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E mesmo com altos índices de mortes em rodovias, o que se vê é um “afrouxamento das leis de trânsito” por parte do governo federal como, por exemplo, a suspensão de radares nas estradas. Para Givaldo Vieira, as últimas decisões do governo vêm na contramão do problema.

“O governo federal propõe uma série de medidas que deseduca o motorista e joga por água abaixo todo um trabalho que tem sido feito. É preciso responsabilizar o condutor e não diminuir o rigor no trânsito”, defende Givaldo Vieira.

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