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Caçador de pedófilos: 'A cada bandido preso, você liberta uma criança'

Caçador de pedófilos: 'A cada bandido preso, você liberta uma criança'

Veja entrevista exclusiva com o delegado Lorenzo Pazolini, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente

Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 22:42

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Lorenzo Silva de Pazolini, 35 anos, desde pequeno sabia o que queria fazer e acreditava que tinha como missão defender as pessoas. Tanto é que escolheu ser delegado: “Nasci para fazer o que faço”, afirma. Delegado há 11 anos, três deles à frente da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Lorenzo diz que não faz terapia e conta que o convívio com os amigos o ajuda a esquecer, mesmo que momentaneamente, os casos de horror que chegam diariamente à delegacia.

 Formado em Direto, Lorenzo entrou na faculdade aos 17 anos. Certo já do que iria fazer. Antes de ser delegado, atuou por dois anos como auditor do Tribunal de Contas do Estado. Em entrevista, ele revela que teme pela segurança da família, dos cuidados que tem com a filha pequena e também das realizações que a carreira trouxe para sua vida. "Quando você prende um pedófilo, você liberta uma criança."

Motivação

“Quando você prende um pedófilo não é somente um número, não é apenas uma prisão. Você na verdade está libertando uma criança, dando para ela uma oportunidade de vida nova. É recuperar a inocência dela que foi roubada. Isso, é sobretudo, o que motiva nossa equipe a trabalhar, é o que nos move”.

Diferença

“Trabalhar aqui não tem preço. Você consegue sentir a pureza infantil, essa é a diferença da DPCA. É trazer o sorriso de volta ao rosto de uma criança. Receber o abraço de uma vítima após a conclusão de um caso, é maravilhoso. Isso me emociona e é bom demais”.

Marcas

“Dois casos foram extremamente chocantes e graves, e dos quais nunca vou esquecer. O primeiro foi o assassinato brutal da menina Fabiane Isadora Claudino, de 2 anos e 4 meses. Recebi a informação do possível paradeiro do assassino da menina, Michael Lelis, num sábado, dia do meu aniversário. Pedi a Deus muita força e sabedoria e saí da minha festa, deixei meus convidados lá e fomos prender o padrasto da criança. Sabia que se não fosse aquele dia, não seria nunca mais. Outra história marcante foi a da Thayná Andressa de Jesus Prado, de 12 anos, que demandou uma energia muito grande da equipe para comprovar a culpa do Ademir Lúcio Ferreira de Araújo, um sujeito extramente frio. Trabalhamos muito e conseguimos comprovar diversos crimes cometidos por ele. Hoje nós temos certeza de que ele não vai sair da prisão. Foram crimes perversos, que jamais esquecerei”.

Família

“Minha esposa é compreensiva, mas minha filha reclama um pouco pela ausência do pai. Por isso prezo muito pela convivência em família. A gente vive o dia a dia junto e isso me faz superar os traumas das histórias que vivencio”.

Cuidados com a filha

“Convivo com todo o tipo de criminoso, sei que são capazes das mais diversas artimanhas para abusar de uma criança. E isso me traz uma preocupação maior com minha filha. Ela tem 9 anos. Conversamos muito com ela em casa e tomamos alguns cuidados, como não deixar que ela tenha computador no quarto, por exemplo. Ela reclama um pouco, mas entende. Pratico em casa todos os conselhos que dou enquanto delegado”.

Medo

“Vou para as ruas e vejo o que acontece, do que as pessoas são capazes. Também temo pela segurança da minha família quando saio de casa. Sou um cidadão como qualquer outro”.

Legislação

“Existem fatores nas leis que precisam ser revistos. Sou contra, obviamente, qualquer tipo de violação, abuso de autoridade. Mas, precisamos endurecer a legislação, ela é frouxa. Precisamos de leis mais duras”.

Desafio

“Sobretudo atender bem. Nós temos diversos problemas, somos humanos, e às vezes trazemos isso para o trabalho. O desafio é esse: colocar de lado as coisas ruins e fazer o que é nossa obrigação. Lidamos com crianças que não tem condições de se defenderem sozinhas. Precisam da nossa ajuda”.

Castração química

“O que me aflige é a falta de instrumentos tanto para a polícia, quanto para o Ministério Público agirem. Existem países que já adotam determinadas técnicas e tem surtido efeito. São mecanismos que precisam ser estudados e avaliados. Mas, claro, tudo com muita cautela e conhecimento”.

Nova chance

“Um criminoso tem que estar preso, tem que ficar recolhido e segregado da sociedade. Não existe punição mais eficaz. Acredito que um criminoso pode se recuperar e voltar a conviver em sociedade, mas para isso, é preciso que um trabalho contínuo seja muito bem-feito”.

Metas

“Como meta para 2018 a equipe da DPCA tem como objetivo maior aproximação com o cidadão. Temos que trabalhar também de maneira pró ativa para evitar que o abuso ocorra, porque ele deixa consequências muito graves nas vidas das crianças. Então vamos trabalhar junto às igrejas, associações de moradores e qualquer movimento da sociedade levando palestras de educação e conscientização”.

Amizade

“Tento não somatizar o que vejo. Meus amigos são muito importantes nisso, são minha terapia. Conviver com eles me serve como válvula de escape”.

Carreira

“Continuar servindo à população, elucidar crimes e levar justiça aonde o único poder público presente efetivo é a polícia”.

Religião

“Rezo muito todos os dias. A religião te traz resiliência, te ajuda a seguir acreditando em alguma coisa. É preciso ter fé para entender porque as coisas acontecem”.

Missão

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“Desde pequeno eu falava que seguiria pela área do Direito, nunca vi outro caminho. Sempre acreditei que eu nasci para isso”.

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