O PSB do governador eleito Renato Casagrande decidiu que fará oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). Os dois somente vão assumir os cargos a partir de janeiro, mas as especulações sobre como será a relação entre a gestão estadual e governo federal começam desde já. Integrantes do PSB no Espírito Santo, entre eles o próprio Casagrande, projetam que os contatos serão institucionais e que os capixabas não serão prejudicados. O mesmo sustenta um aliado do presidente eleito, o deputado federal Carlos Manato (PSL).
Já o cientista político Fernando Pignaton lembra que o Espírito Santo tem um déficit de representação política antigo, que independe do partido ao qual o governador está filiado. A chave para tirar o Estado de um certo ostracismo em relação a Brasília, para ele, está mais no comportamento da bancada federal, formada por deputados e senadores.
"É preciso ter a bancada agindo dentro de um planejamento e em bloco para aumentar a influência do Espírito Santo. Nosso déficit de representação política é antigo, mas não é numérico, é de influência. O governador, como ator político, pode contribuir para o surgimento da coordenação política da bancada. É dela que o presidente depende para aprovar as coisas", afirma. "Relativizo muito isso (o governador ser ou não filiado a um partido aliado ao do presidente da República)."
Casagrande ressaltou que o posicionamento a ser adotado pelo PSB não será de "oposição pela oposição". "Não nos alinharemos ao quanto pior melhor", garantiu.
Quanto a possíveis reflexos para o Estado, ele tampouco imagina que virá o pior. "Ao governador cabe ter equilíbrio e ter relação respeitosa institucional e de parceria administrativa com o governo federal. Sei respeitar as pessoas. Sei ter opinião e ser parceiro numa saída para o nosso país e para o nosso Estado. Se alguém defende o contrário é porque não sabe conviver na democracia", afirma.
"E pessoalmente não preciso fazer oposição ao governo Bolsonaro. Como dirigente partidário (Casagrande é secretário nacional do PSB) estarei junto com o partido no apoio a uma medida ou reprovação a outra medida. Mas pessoalmente não precisa", ressalta.
No primeiro turno o socialista apoiou Ciro Gomes (PDT). No segundo, ficou neutro. Já o PSB foi com Fernando Haddad (PT).
EQUÍVOCO
O deputado federal reeleito Paulo Foletto (PSB) considera a decisão do partido de se colocar na oposição como "um equívoco".
"Acabou esse negócio de esquerda e direita. Estamos com problemas de saúde, educação, segurança, tamanho do Estado, e temos que sair dessas miudezas. Não tenho intenção de fazer oposição sistemática ao governo", pontua.
Foletto acredita, no entanto, que não haverá reflexos políticos para o Espírito Santo. "O Renato foi prudente na postura dele. E a bancada não vai ser de importunar fazendo oposição sistemática. Tem só um do PT. Os deputados federais não têm esse perfil. É muito mais possível uma boa convivência do que o contrário. Não podemos partir para o isolamento", conclui.
O outro deputado do PSB eleito pelo Estado, Felipe Rigoni, já havia dito que fará uma oposição programática ou oferecerá um apoio programático ao governo Bolsonaro, analisando caso a caso os projetos a serem enviados pelo Executivo.
Presidente do PSB estadual, Luiz Carlos Ciciliotti avalia que o que vai pautar a relação entre o Estado e o governo federal é o diálogo. "A relação com o governo federal será institucional e de diálogo. A gente espera que o governo federal tenha a mesma postura. O presidente eleito disse que vai governar para a população brasileira e que todas as instituições seriam importantes", destaca.
"BRINCADEIRA"
Já Manato, correligionário de Bolsonaro, diz que o futuro presidente "vai agir normal": "Ele está acima disso, tem que tratar todos os Estados iguais. Agora, o governo nem começou e (o PSB) já é oposição? E diz que não é oposição por oposição? Brincadeira, né?".
Manato pontua, no entanto, que se o governador fosse "amigo" do presidente, algum "favor" poderia surgir. "Eu posso ligar para ele, chamar ele para ir na minha casa de praia, ter uma amizade e dessa amizade pedir um favor, que com o outro (Casagrande) não tem", enumera.
INSTITUCIONAL
"A relação dos governadores com o presidente da República é definida institucionalmente, prevista no pacto federativo brasileiro. Componentes pessoais e partidários sempre existem porque são seres humanos. Mas são seres humanos que tiveram uma outorga de poder. Quem vai se relacionar não é o Casagrande e o Bolsonaro. É o governador e o presidente. Já tivemos fatos históricos recentes, como Brizola e Figueiredo. Tiveram uma relação institucional e o Brizola era oposição", exemplifica o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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