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Escola Viva de São Pedro: possível fechamento reacende debate eleitoral

Escola Viva de São Pedro: possível fechamento reacende debate eleitoral

Secretário de Educação diz que decisão sobre unidade de São Pedro não está tomada. Programa continua e 11 novas escolas em tempo integral serão abertas

Publicado em 30 de agosto de 2019 às 23:05

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Alunos protestam em Vitória contra fechamento da Escola Viva São Pedro. (Caíque Verli)

O argumento da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) para avaliar o possível fechamento da Escola Viva de São Pedro, em Vitória, é economizar o valor de um aluguel caro e realocar os alunos em um prédio próprio, na mesma região. A discussão pode ser técnica.

Mas o projeto menina dos olhos do governo Paulo Hartung (sem partido), desafeto do atual governador Renato Casagrande (PSB), abarca também um viés político.

O Escola Viva foi um dos pontos abordados na campanha eleitoral do ano passado. Ainda em agosto de 2018, no lançamento da candidatura ao Palácio Anchieta, Casagrande garantiu que nenhum programa importante seria interrompido. Assim, o Escola Viva seria mantido. E foi.

Ele alfinetou: "Escola Viva é o nome do marketing". "O programa de escola em tempo integral está previsto no plano nacional de educação, no plano estadual de educação. Até 2024, o Estado terá que chegar a 50% dos alunos em escola em tempo integral. O nome Escola Viva é o nome do marketing do atual governo (Hartung), mas a escola em tempo integral terá todo o nosso apoio, com a diferença que eu vou dialogar com a comunidade da região para que a gente possa ter efetividade na implantação das escolas em tempo integral", afirmou o então candidato cerca de um ano atrás.

O nome não foi banido. Mas "escola em tempo integral" é o termo mais usado pela atual gestão. O debate sobre o Escola Viva voltou à tona após alunos da unidade de São Pedro protestarem contra o possível fechamento, na última quinta-feira (29).

O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, já disse que a decisão não foi tomada, está apenas sob análise. Com aluguel e vigilância, o governo gasta R$ 1,6 milhão por ano para manter o atual prédio da Escola Viva de São Pedro, que tem capacidade para 600 alunos, mas é utilizado por 240.

Haroldo Rocha, secretário de Educação na gestão Hartung, divulgou até nota para criticar o fechamento da escola. "Venho manifestar minha tristeza e decepção com essa ação do governo do Estado do Espírito Santo e minha solidariedade aos estudantes protagonistas que estão lutando contra seu fechamento. É lamentável que o nosso país ainda faça uma política de tão baixa qualidade e que governantes descontinuem políticas públicas exitosas, especialmente na área de educação. Nós ainda temos no Brasil um atraso enorme na educação, em função de atitudes como essa. A Escola Viva é o melhor padrão de escola pública que temos hoje no país".

"Este governo, desde a campanha eleitoral, vinha dando sinais de descontinuidade das políticas públicas. E desde que assumiu em janeiro de 2019, só amplia os sinais e agora age de forma mais contundente, ameaçando fechar a primeira escola do programa, a Escola Viva São Pedro, onde tudo começou. Isso é falta de responsabilidade com a política pública por conta de motivos meramente políticos e um desprezo para com o sonhos dos nossos jovens", complementou Haroldo.

Ao Gazeta Online nesta sexta-feira (30), De Angelo pontuou que conversou pessoalmente com alunos e professores da Escola Viva de São Pedro e que a definição sobre fechar ou não a unidade somente será tomada considerando o que a comunidade escolar tem a dizer.

Quanto à questão política, comentou o seguinte: "As pessoas que fazem leitura política disso, não por acaso, são pessoas da gestão anterior. Quanto a mim, não fiz nenhuma argumentação de natureza política. Não tenho interesse político na gestão da educação. Nosso argumento é técnico, num espírito que nos diferencia muito, que é o diálogo".

Vitor Amorim de Angelo, secretário de Estado da Educação. (Carlos Alberto Silva)

"Não tenho interesse, ninguém do governo tem interesse em fechar a escola em especial. Não é uma ação deliberada. Temos na secretaria várias informações que não são conhecidas pelos alunos. Eles sabem que é um prédio alugado, mas não quanto é o aluguel. Não sabem para onde poderiam ir, quais outras escolas vamos abrir no ano que vem. Nossa ida lá foi para compartilhar informações. E qualquer decisão não pode ser tomada sem participação da comunidade", disse.

A opção é a escola Major Alfredo Pedro Rabaioli, no bairro Mário Cypreste, que também será de tempo integral a partir do ano que vem.

Uma eventual mudança na Escola Viva de São Pedro não ocorreria este ano. Mas a decisão tem que ser tomada até o final de setembro, quando é feita a chamada pública, que divulga as vagas disponíveis no sistema de ensino.

No ano que vem novas 11 escolas em tempo integral serão entregues pelo governo do Estado, incluindo a de Mário Cypreste. Quanto ao nome Escola Viva, as placas com a designação não serão retiradas de onde já estão. Se aparecerão nas novas unidades, não há definição. "Não sei, não estou preocupado nesse detalhe ainda. Estou preocupado em definir a questão dessa escola", pontou De Angelo.

Ele diz que há um "problema de escala" para a ampliação do programa da maneira que foi feita até aqui porque para cada unidade aberta deve haver uma "escola espelho", para onde os alunos que não quiserem ou não puderem migrar para o tempo integral sejam alocados. "E a construção de uma escola pode levar três anos", lembrou. Para as que serão abertas no ano que vem já há "espelhos", mas deve haver mudanças na implementação, por exemplo, na carga horária, para que mais estudantes possam ser incluídos na modalidade.

TODOS PELA EDUCAÇÃO

A discussão sobre a Escola Viva de São Pedro ganhou até as redes sociais da presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz. A Todos pela Educação é uma associação sem fins lucrativos sediada em São Paulo. "Há muita descontinuidade de políticas, o que explica, em parte, porque não avançamos mais na Educação. Ainda mais descontinuar uma política de educação integral...", postou Priscila no Instagram.

Informada pelo Gazeta Online que o governo não decidiu descontinuar o programa, ela avaliou que é até salutar uma solução para reduzir gasto com aluguel, mas pontuou que a qualidade do ensino e a localização da escola são essenciais:

"É positivo que a secretaria busque racionalizar um recurso. Tem mesmo que buscar alternativa menos onerosa para o Estado, mas manter a qualidade do atendimento em tempo integral. Só tem que ser um lugar perto de um bolsão de jovens pobres, tem que privilegiar os mais pobres. Não pode ser longe de onde está a escola hoje", destacou. Ela mesma já esteve na Escola Viva de São Pedro e gostou do que viu.

Quando da implantação do Escola Viva no Estado houve protestos de estudantes e, agora, com a possibilidade de fechamento de uma unidade, também. "É um processo pedagógico também para a comunidade. Ela pode ser resistente a uma política nova, mas depois que vê o beneficio, passa a ser defensora. Fico feliz de ver a manifestação dos alunos porque isso mostra que a comunidade escolar está atenta a uma política que os beneficia", avalia Priscila.

"Mudar o nome é o menos pior que pode acontecer. Em grande medida, a gente não tem conseguido avançar nos resultados educacionais porque há uma descontinuidade de políticas. O tempo integral já há uma evidência consagrada de que dá maiores resultados de impacto dos estudantes ao longo da vida em termos de empregabilidade e salário. Vejo com certa apreensão qualquer movimento de governo que recua nesse tipo de política. Fico tranquila de saber que é um caso isolado, mas mesmo esse caso isolado. Eu já visitei essa escola, que faz um trabalho incrível e muito importante".

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Mas e as outras escolas? Se nem todas são "vivas", como fica a qualidade do ensino nas unidades de tempo normal, ou parcial? "As escolas que não são de tempo integral não podem ser precarizadas. Enquanto não entram no regime de tempo integral têm que se beneficiar das políticas pedagógicas da Escola Viva no caso do Espírito Santo. Visitei uma em Vila Velha que é o resultado número 1 do Ideb (índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Ensino Fundamental no Estado e ela não é integral, é parcial".

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