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Perto de se formar, estudante admite não voltar às aulas após acidente

Perto de se formar, estudante admite não voltar às aulas após acidente

"Tô traumatizado, tá difícil pegar estrada de novo", lamentou Diego Martins, de 24 anos, que está entre as vítimas do acidente com ônibus na localidade de Anutiba

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 17:48

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A formatura de Diego esta marcada para o próximo ano . (Montagem | Gazeta Online)

“Não sei se eu vou voltar, não. Tô traumatizado, tá difícil pegar estrada de novo. Perdemos colegas, colegas ficaram machucadas”. O desabafo é do estudante de psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (Fafia), Diego Martins, de 24 anos, que está entre as vítimas do acidente que aconteceu no início da noite desta quinta-feira (22), na Rodovia ES 181, na localidade de Anutiba, na região do Caparaó.

Ele e outros 27 estudantes estavam dentro de um ônibus que seguia de Muniz Freire para estudar em duas instituições de ensino de Alegre: na Fafia e no campus de Alegre da Universidade Federal do Espírito Santo. Tereza Fasta da Silva Neta, 20 anos, e Joilma Couto Cazzador, 40 anos, que estudavam na Fafia, morreram. Sete vítimas permanecem internadas em hospitais da região

Diego está no oitavo período e contou que a prefeitura de Muniz Freire ajudava com o transporte universitário até o fim do último semestre. Com o fim do contrato, os alunos realizaram cotação com diversas empresas de transporte e, por meio de votação, decidiram contratar a JR Tur. “Fizemos uma reunião e a grande maioria optou por contratar esta empresa que é daqui”, contou.

Martins conta que embarcou no ônibus por volta das 17h30 para seguir para a faculdade. “Eu sentei no meio, um pouco mais para trás. Não me lembro direito do acidente, me lembro que estávamos na Serra de Anutiba e, de repente, todo mundo começou a gritar e mandou a gente segurar, segurei. Veio um barulho e começamos a ficar com medo. Foi muito rápido, o ônibus tombou e veio caindo todo mundo em cima de mim, bolsas”, contou.

SEM CINTO

Ele relembrou como foi depois do acidente. “Alguém me arrastou pelo pé pro lado de fora e, quando saí, comecei a socorrer as outras pessoas que estavam feridas. Uma das meninas que morreram estava sentada atrás de mim e a outra mais na frente. Nasci de novo. Ninguém estava de cinto de segurança, nem sei se o ônibus tinha cinto. Esse ônibus também dava defeito direto e o motorista sempre garantia que podíamos ficar tranquilos pois o ônibus estava bom. Quando esse ônibus dava defeito  ele colocava outro para nós não ficarmos sem ir na aula”

ÔNIBUS NÃO ERA AUTORIZADO A TRANSPORTAR ALUNOS, DIZ PM

O ônibus permanece no local do acidente na manhã desta sexta-feira. (Mônica Camolesi)

O ônibus que tombou e matou duas estudantes universitárias no início da noite desta quinta-feira (22), na Serra de Anutiba, interior de Alegre, região do Caparaó, não tinha autorização para transportar alunos. Após o acidente, fotos da carroceria do veículo (veja no final da matéria) revelaram o mau estado de conservação do veículo. Os passageiros também relataram que o ônibus estava com problemas no freio.

No coletivo estavam 28 alunos que seguiam de Muniz Freire para estudar em instituições de ensino de Alegre: A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (Fafia) e campus de Alegre da Universidade Federal do Espírito Santo. Tereza Fasta da Silva Neta, 20 anos, e Joilma Couto Cazzador, 40 anos, que estudavam na Fafia, morreram no acidente.

Dos 24 feridos, sete continuam internados em hospitais da região.

O comandante da PM de Muniz Freire, capitão Isaac Rubim, garante que o transporte era clandestino. “Para fazer o transporte escolar o veículo tem que ter autorização do Detran para este fim e, para conseguir, tem que fazer inspeção semestral em uma empresa credenciada ao Inmetro. E este veículo não tinha. Nesta inspeção semestral verifica-se o pneu, o óleo, vê tudo”, contou.

Além dos pneus carecas, o comandante conversou com alguns alunos que relataram que o veículo apresentava problemas no freio. “Alguns alunos que estavam com ferimentos leves disseram que o ônibus já saiu de Muniz Freire sem freio. Que em alguns pontos ele passava 100, 200 metros do ponto de ônibus. Pois estava sem freio e é uma serra danada no local do acidente e ele estava descendo”, disse.

Rubim ainda disse que todos os alunos estavam sem cinto de segurança. “Todos estavam sem cinto. Os três casos mais graves talvez estariam bem se estivessem de cinto. O motorista que tem que cobrar dos ocupantes a utilização do cinto no ônibus”, finalizou.

A empresa que fazia o transporte do ônibus é privada. Os alunos pagam cerca de R$ 120  por mês pra ir para as instituições de ensino. 

INVESTIGAÇÃO

O motorista é o proprietário da empresa, que se apresentou na delegacia de Alegre logo após o acidente. José Roberto Pinheiro, de 53 anos, garantiu, durante depoimento, que o veículo passou por revisão há dois meses.

O delegado Ricarte Teixeira explicou que José Roberto vai responder pelo crime em liberdade. “Ele foi liberado pois o artigo 301 do código de trânsito prevê que, se o motorista se apresentar, ele pode responder pelo crime em liberdade. José Roberto é o proprietário da empresa e disse que vai apresentar as notas que fez revisão há dois meses. Ele não tem a licença municipal para fazer o transporte de alunos, mas o CNPJ foi registrado para fazer este transporte ”, contou.

Um inquérito foi aberto para investigar as causas do acidente. “Inicialmente vai responder por homicídio culposo e lesão corporal culposa. Após a perícia, se for comprovado que ele foi negligente e que o veículo estava em mau estado de conservação, ele poderá responder por homicídio doloso em dolo eventual”, disse Teixeira.

Durante o inquérito vai ser verificado se ele realmente tinha estas licenças. O veículo vai ser apreendido.

O OUTRO LADO

A advogada Elaine Sobreira, que representa a empresa JR Tur e o motorista José Roberto Pinheiro, de 53 anos, garantiu, por meio de nota, que o ônibus estava regular e que não era necessária a autorização para fazer o transporte dos alunos, uma vez que todos são adultos.

A nota diz que, em relação ao ao estado de conservação do veículo, essas informações somente serão respondidas após o laudo pericial emanado pelo setor técnico da Policia Civil, o qual será definido o motivo da suposta falha mecânica que ocasionou o acidente.

A advogada ressaltou que a revisão foi realizada no sistema de freios, em uma oficina, em Cachoeiro de Itapemirim, há aproximadamente dois meses, cujos documentos serão entregues no momento oportuno às autoridades competentes. "As revisões e manutenções do veículo são feitas regular e periodicamente, sempre no intuito de prestar o melhor serviço aos seus contratantes".

Em relação à documentação, a advogada garantiu que o coletivo encontra-se com toda documentação regular, os quais foram apresentados às autoridades que prestaram o atendimento no local. E que o transporte não se refere a transporte escolar, pois a empresa foi contratada, diretamente, para o transporte de adultos, todos maiores e capazes, que estudavam em cursos superiores no município de Alegre/ES, não havendo qualquer vinculação com transporte escolar, que é regulamentado por leis específica, quanto à sua definição.

Por fim, garantiu que prestou todo o socorro, no momento do acidente.

O ACIDENTE

Acidente em Alegre deixou feridos . (Internauta | Gazeta Online)

Um acidente com um ônibus de estudantes matou duas pessoas e deixou vários feridos no início da noite desta quinta-feira (22) na Serra de Anutiba, interior de Alegre, região do Caparaó. Tereza Fasta da Silva Neta, 20 anos, morreu no local do acidente e Joilma Couto Cazzador, 40 anos, faleceu a caminho do hospital. Ao total, 28 pessoas estavam no veículo, de acordo com a Polícia Militar, mas o número de feridos ainda não foi divulgado. 

O acidente aconteceu na ES 181, que liga Muniz Freire a Alegre, em direção à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (Fafia), campus de Alegre da Universidade Federal do Espírito Santo e Instituto Federal do ES (Ifes).

DINÂMICA

Segundo populares, o motorista teria perdido o controle em uma curva e, para não cair em uma ribanceira, manobrou para tentar voltar para a pista. O coletivo tombou e deslizou por alguns metros antes de parar. 

MOBILIZAÇÃO NA CIDADE

Segundo o secretário de Saúde de Muniz Freire, Haysten Soares, foram mobilizadas ambulâncias da cidade e de municípios vizinhos. 

Em Muniz Freire, diversas pessoas se aglomeraram em frente ao hospital para buscar informações sobre os feridos. (Internauta | Gazeta Online)

Muitas vítimas, segundo o Corpo de Bombeiros, foram socorridas por motoristas que passavam pelo local.

A diretora da Fafia, Vera Vailan, lamentou o ocorrido e diz que muitos alunos da unidade utilizam esse tipo de transporte para chegarem à faculdade. “Estamos muito tristes com o que aconteceu. Muitos alunos nossos vêm nesses ônibus”, comentou.

MAIS FOTOS

MUITOS ALUNOS NÃO EMBARCARAM NESTA QUINTA

Quatro carros do Corpo de Bombeiros, em Guaçuí, foram deslocados para o local. A estudante de psicologia da Fafia, Letícia Rodrigues, contou que mora em Muniz Freire e viaja no ônibus diariamente. “Não fui hoje, pois como estou me formando, tenho apenas alguns dias de aula na semana. Assim como eu, muitos não foram pois se formam este ano. Ainda não sei quem estava no ônibus, como as vítimas estão”, contou a estudante.

Ao saber do acidente, a estudante foi até o local do acidente para saber mais informações.

DOAÇÃO DE SANGUE

Acionada na noite desta quinta-feira (22), a Ufes comentou o caso e reforçou a importância da doação de sangue para as vítimas. Confira a nota na íntegra:

A Administração Central da Ufes informa que está acompanhando as informações sobre o acidente com o ônibus que trazia estudantes universitários de Muniz Freire para Alegre, e que tombou perto de Anutiba, no Sul do estado. As informações ainda são preliminares, mas a Administração Central e as direções dos dois Centros de Ensino da Ufes localizados em Alegre estão envidando todos os esforços no sentido de apoiar os discentes envolvidos no acidente. O atendimento à ocorrência está sendo realizado pelas autoridades competentes e os feridos foram encaminhados para hospitais da região. Representantes do campus de Alegre entraram em contato com a prefeitura de Muniz Freire, colocando a Universidade à disposição para ajudar nas providências necessárias. Nesse momento, a Administração Central reforça a importância da doação de sangue, que pode ser feita em qualquer Hemocentro do estado, em nome das vítimas do acidente. A Administração Central lamenta o ocorrido e se solidariza com os estudantes da Ufes e da Fafia, bem como com as famílias das vítimas.

PNEU CARECA E GAMBIARRAS

(Matheus Brum)

A reportagem da TV Gazeta Sul registrou a situação de um dos pneus do ônibus, totalmente careca. Também há amarrações nas peças do veículo. 

(Matheus Brum)

LUTO NA CIDADE

A prefeitura da cidade decretou luto pelas mortes na tragédia da ES 181. Veja nota na íntegra:

A Prefeitura Municipal de Alegre, por meio da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, se coloca à inteira disposição dos estudantes e seus familiares envolvidos na tragédia que ocorreu no fim da tarde desta quinta-feira na ES 181, entre Muniz Freire e Anutiba.

O município decreta luto oficial em favor da vítima que faleceu neste terrível acidente e manifesta profundo pesar diante desta fatalidade. Equipes da Prefeitura de Alegre e da FAFIA, colaboram com os profissionais que atuam no resgate das vítimas e prestam apoio a seus familiares.

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