• Últimas da coluna

Moda de favela

Confira a coluna Outro Olhar deste sábado, 30 de janeiro


Por muito tempo as favelas representaram pobreza, drogas e marginalidade. Muitas ainda hoje o são. Contudo, bem longe da pobreza, algo chama a atenção: para as classes média e alta, a favela está na moda!

Faz tempo que o funk frequenta os grupos abastados da sociedade. Nos anos 2000, jovens queriam “andar tranquilamente na favela onde nasceram” em plena Praia do Canto. Sempre achei estranho ver princesas de 15 anos cantando em seus bailes a pobreza que sequer conheciam. Porém, como poucos seres são tão influenciáveis quanto os jovens, logo surgiu aí um belo mercado.

É fato: a pobreza sempre deu muito dinheiro, haja vista a esquerda caviar que prega a revolução das sacadas do Leblon. Porém, os níveis de ridículo andam altos.

Em dezembro, a marca Osklen lançou uma camisa com a estampa “Favela” a R$ 90 e o estoque logo esgotou. O mesmo fez a francesa Givenchy, tecendo a favela a 390 dólares. Por sua vez, os designers Fernando e Humberto Campana vendem ao mundo a “Cadeira Favela” por apenas 7 mil euros. Já em Guarapari, o ingresso para o tal “Baile do Denis” chegava a R$ 200.

Também na ficção a moda toma conta: nas novelas a favela é cult, não há violência, sobram sorrisos e milionários mudam-se para os morros em busca da felicidade. A caricatura da realidade oculta as misérias sociais, o abandono e a constante sobrevivência.

Enquanto alguns se apropriam da periferia para posarem de politizados, MCs e rappers lotam casas de shows e camarotes VIPs. Vê-se, hoje, a inversão do fetiche: a ostentação desejada por tantos deu lugar à ânsia de parecer pobre.

Como de costume na futilidade, tudo não passa de aparência. A favela é louvada nos bailes e estampada nas camisas, mas, passado o fetiche, os consumidores da hipocrisia voltam aos condomínios. É assustador, mas o drama social de 11 milhões de brasileiros virou diversão para os que habitam suas bolhas.

No show da incoerência, bastam as palavras do francês La Rochefoucauld, “a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude”.

Gabriel Tebaldi é graduado em História pela Ufes

Ver comentários