• Últimas da coluna

O ambiente envenenado


Virou obrigatório à força, mas o meio ambiente deixou de ser pauta periférica e passou para o centro das prioridades dos gestores, parlamentares e candidatos. Prova disso é a magnitude de desastres como o da Samarco no Rio Doce e a falta de água nas cidades. São urgências que demandam nova relação dos políticos com a “sustentabilidade” - conceito, outrora, considerado distante e idealizado.

É processo novo no Brasil, forçado nas contingências da realidade. Como sofre na pele, a sociedade amadurece a relação com o ambiente no cotidiano. Conforme o cientista político Luis Felipe da Graça, pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV/DAPP, o Brasil cresceu nesse debate e criou, inclusive, políticas sobre destinação de resíduos sólidos. “A lei atual foi feita em processos legislativos muito longos. Andamos pra frente por pressão da sociedade civil. Apesar de ser tema muito importante, principalmente para Estados e municípios, ainda não virou pauta central no debate entre os candidatos, mas vai aparecer”.

Para Graça, a agenda ganhará consistência na disputa por prefeituras capixabas em função da tragédia da lama no vale do Doce. Sua ressalva é a possível diluição do tema em meio à crise fiscal dos Estados e municípios, à crise econômica e ao debate político em si. Além disso, assinala, os candidatos terão dificuldades de ações por situar-se na esfera dos Estados a grande parte da legislação ambiental sobre água, mineradoras etc.

“Por mais que seja mais forte do que antes, a sustentabilidade ambiental fica em segundo plano no sentido de se apresentar processos legislativos e normativos que sirvam de resposta e reforço contra casos como o da Samarco, com medidas para que esses eventos tenham efeitos reduzidos a longo prazo”, salienta Graça.

Até agora, completa o especialista, o meio ambiente não foi agenda positiva clara de nenhum governo empossado. “Apesar dos muitos casos recentes de problemas ambientais, desde Mariana (Samarco) até São Paulo, ainda é uma pauta transversal. Nenhum ator da cena nacional tem o meio ambiente como ponto crucial”. Por isso, os políticos precisam recalibrar discurso e prática. Por falta de cultura de prevenção, prefeitos e governadores reagem sem planejamento, nem o menor entendimento dos gargalos.

Recursos hídricos, conservação florestal e estrutura básica de saneamento configuram ativos econômicos. E intempéries da natureza, seca, falta de água, poluição e oscilações intensas do clima atingem e desequilibram todas as regiões. E isso exige tratamento mais qualificado de políticas ambientais numa escala do poder público que, basicamente, se restringia ao tripé de Saúde, Educação e Segurança.

“Os partidos terão que sair da crise”

Aloysio Nunes, Senador (PSDB-SP)

O senador oposicionista Aloysio Nunes (PSDB-SP) reconhece a perda de legitimidade dos partidos diante das manifestações de rua e diz que o grande desafio da crise brasileira será recuperar a credibilidade das siglas. Confira.

O somatório dos escândalos de corrupção na Petrobras, a crise na economia e as dificuldades políticas da presidente Dilma (PT) geram um caldo de impopularidade, em parte já assistida nos panelaços de 2015. Quem controlará isso?

O caráter apartidário das manifestações de massa é um fato novo em nosso ambiente político. É fruto da utilização em larga escala das novas tecnologias de comunicação e do surgimento de uma incrível multiplicidade de plataformas, que propiciam encontros, diálogos, confrontações avessas a controles institucionais. Alguns partidos, e refiro-me especialmente ao PT, procuram atuar nesse ambiente com emprego de robôs e financiamento de blogs mercenários, mas são expedientes cada vez mais desacreditados.

Mas essa insatisfação da população se justifica por erros do governo Dilma ou catalisa uma negação completa dos políticos atuais? Essa rejeição aos partidos mobiliza movimentos apartidários de manifestantes nas cidades desde 2013.

É inegável o desfavor dos partidos políticos e do Congresso perante a opinião pública. Trata-se de um fenômeno universal, mas com fortes peculiaridades brasileiras. Ganha um doce o leitor que souber dizer a sigla PROS, partido do ex-ministro da Educação (Ciro Gomes, que durou semanas no cargo). Esse é apenas um exemplo da proliferação de partidecos, sem qualquer mensagem política identificável, cevados pelos recursos públicos do fundo partidário, e sócios da administração petista na ocupação de cargos no governo.

Isso ameaça a democracia? Como os partidos sobreviverão?

Tudo isso leva a uma perigosa deslegitimação da democracia representativa sem que se tenha outra forma de governo democrático para substituí-la. Talvez seja essa a dimensão mais grave da atual crise política. Sairão dela mais fortes os partidos que souberem estabelecer um diálogo positivo com as novas formas de comunicação e participação política emergentes.

E como fica o descontrole das contas públicas do país?

Os bancos públicos não poderão mais recorrer ao Tesouro para a intervenção que vinham tendo na economia nacional. E o que falar da subordinação da nossa política externa a obsessões ideológicas, que suprimiu nossa soberania em matéria de política comercial? Eu poderia estender-me indefinidamente. Aécio (Neves), em nossa campanha, atacou cada uma das dimensões desse desastre e foi contestado com slogans de marketing. “E agora José?”, diz o poeta. E continua: “A festa acabou!”

Freou e derrubou tudo

Ficaram muitos mortos pelo caminho, não houve recuperação e Dilma caiu num beco sem saída e perdeu apoio do eleitorado de sua base, avalia o economista Roberto Piscitelli (UnB). “O Joaquim Levy praticou a política da oposição. Havia correções de rumo sim; ajuste sempre é necessário, mas ele se perdeu”. O país já vinha desacelerando desde 2014, mas deu um choque em dose única na economia. “Imitaram Maquiavel ao fazer o mal de uma vez só, para, depois de passar o sofrimento inicial, se recuperar rapidamente e todos respirarem aliviados. Só que a economia internacional não ajudava, já estava se deprimindo. Mas Levy freou, veio a lei da inércia e todo mundo caiu pra frente”.

Espigas gordas

Paulo Hartung e Audifax Barcelos nunca foram tão amigos, a ponto de o prefeito da Serra estar rindo à toa quando o assunto é parceria com o governo do Estado neste deserto de vacas magras. “Está de vento em popa”, diz o prefeito, desfiliado do PSB de Renato Casagrande. O governador transferiu ao município área de 891.650,00 m2, em Jardim Carapina, onde a prefeitura fará regularização fundiária direta (doação) aos atuais ocupantes – 4.880 famílias e 15 mil pessoas. Além disso, a Serra ganhará unidade da Escola Viva em Planalto Serrano.

Ver comentários