Entrevista

Amarildo, chargista da Rede Gazeta que traça rastro da História

Olhar certeiro do mestre encanta e surpreende o leitor: "É preciso se emocionar e também se colocar no lugar do outro"

Amarildo: "Parece que foi ontem que entrei na redação pela primeira vez"
Amarildo: "Parece que foi ontem que entrei na redação pela primeira vez"
Bernardo Coutinho

Você conhece o homem (e a mente) por trás das charges de A GAZETA que rodam o planeta? Referência do traço que há 32 anos conta a história do Estado, do Brasil e do mundo por suas mãos, Amarildo Lima, 57, mantém a mira certeira para retratar os fatos. “Charges que foram feitas no princípio da minha carreira estariam muito atuais hoje em dia”, destaca.

Amarildo: "Parece que foi ontem que entrei na redação pela primeira vez"
Amarildo: "Parece que foi ontem que entrei na redação pela primeira vez"
Foto: Bernardo Coutinho

Conte ao leitor quem é o Amarildo de A GAZETA.

Sou capixaba, nasci em Baixo Guandu. Estou há 32 anos trabalhando em A GAZETA. Além de chargista, sou editor de ilustração. Queria ser engenheiro eletrônico, comecei estudando Física e terminei bacharel em Artes Plásticas.

Como você vê a diferença do trabalho de décadas passadas com o de hoje?

Quando comecei, para se conseguir uma foto era preciso uma enciclopédia. Hoje a gente tem o “senhor Google”. No início, somente muitos dias e até semanas depois de um trabalho ser publicado, recebíamos uma carta com o feedback do leitor. Hoje, com as redes sociais, o feedback é em tempo real. É como se estivéssemos trabalhando num palco, ao vivo, e recebemos os aplausos e as vaias da plateia na hora em que o jornal é publicado. E o leitor, que é a plateia, também sobe ao palco e participa desse grande trabalho que é o jornalismo. Por isso, é preciso respeito e aplausos a ele para uma convivência de tanto tempo.

O que é preciso para ser um chargista de referência?

É preciso se emocionar e também se colocar no lugar do outro. É preciso sentir a dor alheia. É preciso humanidade. É preciso estar aberto às inovações e às mudanças. É preciso aceitar que as coisas mudem, mas também é preciso mudar um pouco as coisas. É preciso interferir e influenciar as mudanças. É preciso deixar sua digital impressa. Para a criatividade florescer, é preciso terreno fértil e liberdade. E isso tive aqui.

 Como é trabalhar na Rede Gazeta?

É como um casamento. É preciso amor e respeito de ambas as partes, e isso eu sempre tive nessa casa. É necessário aceitar as mudanças e também mudar junto. É preciso amar o local que é o seu segundo lar, onde você passa a metade da sua vida, e também amar o que se faz. Faço meu trabalho como se o destino da humanidade dependesse dele. Aqueles desenhos que saem ali na página 2 há tanto tempo levam o melhor de mim, um pouquinho de criatividade, muita dedicação diária, muito esforço. E muito suor, muito respeito ao meu trabalho e ao leitor. Dedico-me a ele, assim como me dedico à minha família. Os dois se completam e me completam. E também é preciso ser amado e querido, e esse amor nunca me faltou aqui.

Que lição fica nessas mais de três décadas de atividade?

O que de mais importante aprendi nesses anos todos foi: a linha que delimita o humor do patético é muito tênue. Nossos passos são dados sobre o fio da navalha todos os dias, a fim de levar ao público um novo modo de interpretação dos acontecimentos. Se falhei em algumas ocasiões, peço perdão.

Voltando ao passado, lembra-se do dia que entrou na redação pela primeira vez?

Parece que foi ontem. Estava assustado. Levava uma pasta de desenhos embaixo do braço. Tinha sonhos e hora marcada para falar com o então editor-chefe, Paulo Torre. Quem já atravessou uma redação naquela época sabe o pânico que era chegar são e salvo do outro lado. Mas eu atravessei e acabei ficando. Graças a Deus, à minha família, aos colegas e, principalmente, ao leitor, que com sua resposta carinhosa nos permitiu caminhar juntos. Nesse período, aumentou a certeza inata que tinha de que charge não é piada. Muito pelo contrário. Às vezes, chega a ser até muito cruel. Mas, até nesses momentos, o humor, sua essência, pode estar presente. Outra certeza: a charge é uma janela por onde passa o nosso cotidiano curioso expresso pela universal e simbólica linguagem das imagens.

 Veja a galeria com as charges de Amarildo:

 

 

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