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Jovens liberados do Iases pela Justiça voltam ao crime e às drogas

Jovens liberados do Iases pela Justiça voltam ao crime e às drogas

Pais vivem novo drama após três semanas da liberação dos filhos

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 01:08

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Complexo Uninorte, em Linhares, de onde foram liberados 261 internos após decisão inédita do STF. (Governo do estado/divulgação)

Três semanas após verem seus filhos liberados das unidades de internação do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Linhares, pais vivem o drama de verem os jovens voltarem para as drogas e para a criminalidade.

Sem acompanhamento e apoio do poder público (Estado, municípios e Justiça), as famílias se desesperam sem alternativas para reverter a situação e na iminência de perderem, novamente, seus filhos. “Nem sei se ele está vivo”, desabafa uma trabalhadora rural de Jaguaré.

O filho dela, após ser liberado da internação, praticou um furto em São Mateus. Preso, foi levado à Defensoria Pública da cidade, de onde fugiu algemado. Ninguém sabe o seu paradeiro.

Este não é o único caso. Em Barra de São Francisco, dos sete adolescentes da cidade que foram liberados, dois voltaram a cometer crimes, um deles furto. Acabaram sendo detidos e levados, desta vez, para presídios de adultos, já que completaram 18 anos.

SITUAÇÃO

Do complexo Uninorte, em Linhares, destinado a internação de adolescentes infratores em situação provisória e definitiva, foram liberados, desde o dia 21 de agosto, um total de 261 jovens. O motivo foi uma decisão inédita do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabeleceu um limite de superlotação para a unidade em 119% de sua capacidade. Há mais de três anos que o complexo trabalhava com o triplo de sua capacidade.

Com a medida ficou mais visível um problema que tem sido frequente no sistema socioeducativo do Estado: a demora ou a falta de acompanhamento das famílias cujos filhos ou estão deixando o sistema de internação ou estão cumprindo medidas socioeducativas em liberdade assistida.

AMIZADES

Desta forma, como relatam os pais, mal chegam em casa e voltam resgatar os contatos com as antigas amizades. O resultado é o retorno ao crime. “Meu filho chegou em casa esta semana com arma e dinheiro. Não disse onde conseguiu, mas sei de onde veio. Meu temor é que volte a ser preso”, se desespera a mãe que, assim como os demais pais, não vão ser identificados nesta matéria respeitando o que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Há ainda os casos dos jovens que voltaram a usar drogas. Em Colatina, uma mãe pôs o filho para trabalhar na roça na tentativa de evitar que o uso de drogas ganhe proporções maiores. Foi a alternativa que encontrou. “Meu filho foi procurar, por iniciativa dele, a assistência social da cidade e foi maltratado. Voltou a usar drogas, mas estou lutando muito para reverter a situação”, conta a mãe, que acorda às 4 horas para trabalhar.

O filho dela está fora da escola, perdeu a vaga quando foi internado e agora tem dificuldades até para encontrar um trabalho. “Preciso tirar até os documentos dele e não tenho apoio de ninguém, nenhuma orientação ou ajuda do município. Tratam meu filho como coisa”, desabafa.

Uma vizinha dela, cujo filho também foi liberado do Iases, enfrenta dificuldades semelhante. “O dela também voltou a usar drogas. Está agressivo. É complicado vencer sem apoio”, pondera.

Outra mãe, cujo filho saiu na primeira leva, relata que não levou 15 dias para ele voltar à criminalidade. “Começou a ficar agitado e logo via que já o tinha perdido para as drogas de novo. Infelizmente não ouvem os pais, preferem o outro lado. Mas a dor é grande, chega a dar desânimo”, diz.

INTERNADO

O desespero é tanto para alguns pais que chegam a relatar que seus filhos não deveriam ter deixado a internação. “Ficou mais de um ano internado e de nada adiantou. Botou o pé aqui fora e voltou a se drogar. Mais seguro estaria se tivesse continuado internado”, relata um pai que tanto lutou para a liberação do filho.

O jovem, semanas após ser liberado, voltou a consumir drogas. “Estou muito triste. Não me ouviu, não deu atenção aos meus conselhos. Tanto que falei quando ele estava internado, fizemos tantos planos para quando ele saísse e de nada adiantou. Já avisei para ele que agora vai acabar sendo preso, mas cada um escolhe o seu caminho”, contou o pai, com a voz embargada.

Outra mãe relata que trocou o filho de escola para que ele não tivesse contato com os antigos amigos. “Mas ele não consegue nem um estágio. Precisa ficar ocupado, sem isso, já está entrando em depressão”, conta.

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São situações que deixam temerosos pais cujos filhos estão na iminência de deixar a internação. “Ele quer voltar para casa e mudar de vida. É o que espero. Mas sem apoio do município para conseguir uma escola e oportunidade de trabalho, será muito difícil”, desabafa a mãe.

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