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Festa de casamento em presídio do ES foi fachada para armar crimes

Festa de casamento em presídio do ES foi fachada para armar crimes

Até o bolo foi bancado pelas lideranças das facções criminosas que atuam no Estado

Publicado em 7 de dezembro de 2018 às 10:46

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Fachada do Presídio de Segurança Máxima II, onde festa reuniu criminosos presos. (Carlos Alberto Silva)

Ana (nome fictício) era a típica noiva, com vestido branco justo ao corpo, véu, damas de honra, bolo e convidados. O diferencial em seu casamento é que a cerimônia ocorreu dentro de um presídio de segurança máxima e até o bolo foi bancado pelas lideranças das facções criminosas que atuam no Estado.

 

A noiva, que não cumpre nenhuma pena (e por isso não terá seu nome revelado), se uniu ao detento Diego Carlos Kaiser. Ao contrário dos demais casamentos ocorridos nos presídios, e que são coletivos, a celebração acima foi exclusiva para Ana e Diego. É o que relatam peças constantes em processo, e o fato é citado também em denúncia feita pelo Ministério Público Estadual (MPES), já aceita pela Justiça Estadual, que acatou ainda a prisão dos 19 denunciados.

No documento, o MPES relata que a celebração do casamento permitiu a reunião das principais lideranças das facções criminosas. E, em regra, elas são mantidas em separado dos demais presos, na tentativa de se evitar contatos e troca de informações.

Os criminosos que participaram da cerimônia e que atuam no Estado são do Primeiro Comando de Vitória (PCV) e do seu braço armado, o Bonde do Trem Bala. “Se reuniram com outros integrantes durante a cerimônia, quando puderam, livremente, inclusive sem a utilização de uniformes, trocar informações”, diz o texto.

COMANDO

Dentre os líderes a que se referem está Carlos Alberto Furtado, o Beto, detido na Penitenciária de Segurança Máxima 2, em Viana, pelo menos desde o início dos anos 2000. Além de fundador do PCV, ele liderava, mesmo preso, a exploração do tráfico de drogas no Complexo da Penha, em Vitória. Fato citado em várias decisões judiciais, como a de 2015, do juiz Luiz Guilherme Risso, onde declara: “Carlos Alberto Furtado exercia o comando da associação criminosa, mesmo estando custodiado no Presídio de Segurança Máxima II (PSMA-II)”.

Além dele, também participou da cerimônia Giovani Otacílio de Souza, o Paraíba. Quando solto, ele era o responsável pelo comando do tráfico de drogas do Complexo da Penha, ocasião em que era visto, segundo denúncia do MPES, transitando com armas de fogo de grosso calibre, uso restrito, na companhia de comparsas que desempenhavam o papel de seguranças armados. Ele fazia parte da estrutura de comando do PCV e homem de confiança de Beto.

No mesmo sistema prisional encontram-se detidas outras 84 lideranças do PCV e Trem Bala. A maioria delas estão citadas em pelo menos em dez processos que tramitam na Justiça. Muitos destes alvos só foram presos após operações policiais, com o apoio do MPES. A maioria é tida como de alta periculosidade até pela sua capacidade de articulação e de enviar comandos para fora do presídio.

Mas no dia 16 de agosto, eles e as demais lideranças estavam reunidas na festa, bancada por Beto, que garantiu a entrada no presídio até das comidas servidas na ocasião, segundo informações de relatórios presentes no processo.

Na denúncia aceita pela Justiça estadual é acrescentado que o objetivo da festa foi muito além do casamento. “Nota-se o firme propósito de reunir as lideranças criminosas do PCV e do Trem Bala, com o objetivo de se comunicarem e traçarem estratégias de controle das atividades ilícitas de suas organizações criminosas”, assinala o texto.

ENTENDA

Agosto

Noivos

No último dia 16 de agosto casaram-se Ana (nome fictício), que não cumpre nenhuma pena, e o detento Diego Carlos Kaiser.

Festa

Ao contrário dos casamentos coletivos previstos para as unidades prisionais, o casal teve direito a um casamento individual, que aconteceu no presídio de Segurança Máxima 2, em Viana, com direito a festa bancada pelas facções criminosas.

Convidados

Lideranças

Segundo denúncia do MPES, já aceita pela Justiça Estadual, a festa permitiu o encontro das lideranças das facções criminosas que, em regra, ficam em alas separadas. Elas puderam se encontrar e trocar informações sobre as suas atividades.

MULHERES DE CRIMINOSOS FALAM QUE SÃO INOCENTES

As esposas e namoradas dos acusados de integrar o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Trem Bala se manifestaram por meio de nota informando que são inocentes e que “vão buscar todos os meios legais para provar que nada têm a ver com os ilícitos.” Elas dizem que “estão profundamente assustadas com o vulto (a proporção) que as acusações tomaram.” Em processo que tramita na Justiça estadual, elas são rés por participar ativamente do grupo criminoso ao qual pertencem os companheiros.

A advogada Patrícia Cavalcanti, que representa as quatro mulheres citadas em A GAZETA na quinta-feira (06) , afirmou que ainda não teve acesso ao conteúdo completo do processo mas ressalta que “trata-se de inquérito novo, cuja ação penal será iniciada.”

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Ela afirma que não há nos autos nenhuma prova. “Importante ressaltar que garante a Constituição Federal que todos são inocentes até que se prove o contrário. Assim, qualquer tipo de julgamento antecipado além de contrariar o ordenamento jurídico é cruel com pessoas que sequer tiveram acesso aos autos para saber do que estão sendo acusadas”, disse a defesa.

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